Origem: Revista O Cristão – As Semelhanças do Reino, Parte 2

O Tesouro Escondido num Campo

O Senhor havia dito a Seus discípulos que os justos deveriam brilhar como o Sol no reino de seu Pai. Se nosso Senhor não tivesse sido rejeitado, todos os justos teriam sido estabelecidos no reino do Messias na Terra. Mas a rejeição e morte de Jesus teve duas consequências (não dizemos apenas duas): trouxe necessariamente julgamento e vingança sobre Israel, mas também trouxe à existência glórias e posições de glória que de outra forma não poderiam existir. Tendo Seu próprio povo tirado isso de si mesmo, o reino não poderia agora ser deste mundo.

Os herdeiros atuais devem ter sua posição em outro lugar e, de acordo com os princípios da graça divina, um lugar melhor do que o da Terra é fornecido para eles. Quando o mal entra e coloca de lado a graça de Deus, a bênção nunca é restaurada exatamente da mesma maneira. Se Deus atrasa a bênção prometida, aquela que Ele dá em seu lugar sempre excede a primeira promessa. Portanto, aqui, quando o reino não pôde ser estabelecido imediatamente, outra e melhor coisa é fornecida para aqueles que creram. Eles brilharão como o Sol no reino de seu Pai – uma recompensa fora do mundo.

O tesouro do Senhor 

Isso leva o Senhor Jesus a mostrar como eles são vistos enquanto ainda estão neste mundo; eles são um tesouro. Eles estão em contraste com o campo como um todo, que não é um tesouro. Eles já foram filhos da ira, assim como os outros, mas agora estão separados, embora como corpo ainda no campo. Mas a velha conexão foi quebrada e uma nova subsiste entre eles e seu Pai; seu lugar agora é testemunhar a graça que salvou e o poder que os mantém, e suportar pacientemente a perseguição que necessariamente se segue. Assim, é com referência exclusiva aos justos que esta parábola é falada.

Não creio que os “justos” sejam apenas os da Igreja. É o reino do Pai que está em vista, e todos os que herdam esse reino celestial estão incluídos nos “justos”. Claro, a Igreja está entre eles com uma posição peculiar. Mas nesta parábola é evidente que o reino dos céus apresenta um aspecto muito diferente das semelhanças anteriores. Não há poder e domínio aqui; sem ramos para sustentar os pássaros; nenhuma energia de fermento permeando a massa. O tesouro e a pérola representam a boa semente – os verdadeiros herdeiros do reino. O fato maravilhoso que nos é apresentado não é o valor ou a grandeza daqueles a quem o Senhor chama de Seu tesouro, mas Seu amor por eles.

O campo 

Há três coisas nesta parábola – o tesouro escondido no campo, a compra do campo e o imenso custo. A palavra aqui traduzida “campo” é geralmente usada para terra não cultivada, selvagem e improdutiva. Neste lugar pouco promissor, um tesouro é encontrado, mas somente Jesus poderia descobri-lo. Claro, sabemos que não poderia haver tesouro aqui, mais do que um bom terreno na primeira parábola, sem que o Espírito de Deus primeiro o produzisse. Nada além da graça nos fez diferentes dos outros, e nada além da preciosidade do sangue aspergido nos torna um tesouro. O campo em geral participa de Suas dádivas, mas somente os justos são um tesouro. O tesouro está em contraste com o campo, assim como o trigo estava em contraste com o joio. E se o campo finalmente estiver sob o julgamento de Deus, sabemos que nenhum santo, seja do Velho ou do Novo Testamento, será julgado. Todos eles devem necessariamente pertencer ao tesouro e todos estão incluídos na denominação “justos”.

O reino em mistério 

O tesouro está “escondido num campo”. Isso não dá nenhum fundamento para a noção de uma Igreja invisível. Em vez disso, esta é uma semelhança do reino como agora existe em mistério e, como um tesouro, ele está escondido; agora não é manifestado como tal. Ou seja, a condição dos justos, que formam o verdadeiro reino aqui embaixo, não mostra aos homens a realidade e a natureza dele. Aquilo que o homem fez é certamente manifestado. A ideia de uma grande árvore abrigando pássaros, ou de três medidas de farinha completamente fermentada (falo aqui de sua presença desenvolvida), não é uma coisa oculta. Mas os que agora estão no reino são em sua maioria os humildes e pobres, e às vezes os perseguidos e martirizados. O mundo nunca percebe que tais são os verdadeiros representantes do reino e um tesouro para Cristo. Os homens sabem que existem crentes em Cristo, e são astutos o suficiente para discernir entre um verdadeiro crente e um mero professante, mas que isso se constitui num reino é fanatismo para eles.

É somente quando Ele aparecer que seremos manifestados em toda a glória que Sua graça nos conferiu. Atualmente, o verdadeiro caráter e destino do “tesouro” está oculto. O mundo vê apenas uma companhia pobre, desprezada e oprimida que, em meio ao desprezo, se esforça para manter-se distante do mundo. Jesus diz que eles são o Seu tesouro. Estamos no reino que nunca será abalado. E nós estamos lá, não como súditos, mas como reis e sacerdotes, pois Jesus está reunindo agora deste mundo aqueles que serão herdeiros, não súditos, do reino futuro. É uma maravilha que o mundo não nos conheça? Ainda não vestimos nossas vestes reais. O mundo, não tendo esperança além desta vida, diz de nós: “De todos os homens, os mais miseráveis”; Jesus diz: Meu tesouro escondido! O tesouro, por causa do qual o campo foi comprado, está escondido. Foi apenas por causa do tesouro que o campo foi comprado. Ele não poderia tê-lo de nenhuma outra maneira.

Words of Truth, vol. 3 (adaptado)

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