Origem: Revista O Cristão – Paz e a Aparição do Senhor
O Conselho da Paz
Zacarias 6 foi escrito após o retorno dos judeus da Babilônia e tinha como objetivo incentivá-los no trabalho de reconstrução do templo. Mas “nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação”, e assim a glória do Senhor Jesus Cristo é esperada como a verdadeira consumação. Então aqui, depois de uma alusão à história da providência de Deus nas quatro grandes monarquias e ao julgamento da Babilônia, o profeta conforta o coração daqueles que retornaram com uma profecia direta de Cristo.
O Espírito de Deus na Escritura sempre olha para Cristo, vendo todas as coisas que dizem respeito a Ele e à Sua futura glória. Os muitos libertadores levantados por Deus para os judeus em tempos de necessidade eram apenas figuras do “Salvador”. E assim aqui: “Ele mesmo edificará o templo do SENHOR, e levará a glória, e assentar-Se-á, e dominará no Seu trono, e será sacerdote no Seu trono, e CONSELHO DE PAZ haverá entre ambos” (Zc 6:12-13). “Eis aqui o Homem cujo nome é Renovo” é Quem fará tudo isso; Zorobabel é meramente uma figura. Quer afete os destinos do homem, de Israel ou da Igreja, tudo se centra em Jesus. Os pensamentos de Deus sobre Jesus estão marcados em todos.
Glórias futuras
Deve ter sido um grande conforto para os santos do passado ter glórias futuras assim reveladas a eles, pois sempre que o Espírito Santo despertava desejos espirituais em qualquer coração, esses desejos não podiam ser satisfeitos com libertação ou bênção temporal. Eles tinham muito pelo que agradecer ao Senhor, mas sempre havia a presença real do mal ou o medo do perigo e do mal.
Assim é com a Igreja agora. De fato, temos bênçãos maiores e revelações mais claras, mas ainda existe o mal. Nos tempos dos maiores avivamentos, sempre houve aquela mistura com eles que tendiam ao mal. Nunca, até que Ele apareça, todos os desejos de nosso coração nos serão concedidos; nunca, até que despertemos em “Tua semelhança”, estaremos realmente “satisfeitos” (Sl 17:15). Nada menos servirá, porque o Espírito de Cristo está em nós. Nossas esperanças se dirigem para o propósito final de Deus de bênção plena.
E aqui temos unidade de esperança com os judeus. Eles estão esperando a glória terrenal; nós também esperamos ver a Terra cheia “do conhecimento da glória do SENHOR” (Hc 2:14), enquanto nossa esperança é a própria porção de Cristo na glória celestial. Tanto as glórias terrenais quanto as celestiais se encontram em Jesus e serão manifestadas quando Ele vier. Ele é o Cabeça de ambos. “O conselho de paz” (Zc 6:13) é entre Jeová e o Messias.
Cristo no trono
Mas onde está Jesus agora? Como o “Sacerdote no Seu trono”, Ele ainda não governa, mas Se assentou no “trono do Pai” – “à direita da Majestade nas alturas”. Lá está Ele como o Sumo Sacerdote de Seu povo. E assim nos é dada uma clara revelação do “conselho de paz” que nos pertence mesmo agora, em meio aos problemas atuais, mas ainda a paz de Deus. Posso ter meu espírito muito perturbado e conhecer provações de coração, mas ainda assim tenho o direito à perfeita paz em tudo; não apenas paz com Deus, mas paz em todas as circunstâncias, porque Deus é “por nós” em tudo.
Se Deus tivesse feito paz com Adão, isso não poderia teria durado: a inimizade no coração do homem logo a teria destruído novamente. E seria sempre o mesmo, pois a própria vontade do homem é totalmente errada. “a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser” (Rm 8:7). Mas agora “o conselho de paz” é entre Deus e Jesus, em vez do homem, e, portanto, há segurança. A palavra “conselho” implica propósito deliberado. Que solidez deve haver naquela paz sobre a qual Deus tinha um “conselho” e todos os compromissos dos quais a mente de Jesus entrou e cumpriu plenamente! Quanto às nossas circunstâncias, Deus está cuidando de tudo o que nos diz respeito para fazer “todas as coisas contribuírem juntamente” para o nosso bem, e o conhecimento disso dá paz em todas as circunstâncias, mesmo nas provações, perplexidades e tristezas. “Considerai, pois, Aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra Si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos” (Hb 12:3); no entanto, Ele sempre teve paz. E nós também podemos: “Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em Ti; porque ele confia em Ti” (Is 26:3).
Conselho entre Deus e Jesus
Mas então é muito importante ver que “o conselho de paz” é inteiramente entre Deus e Jesus. No momento em que começamos a colocar nossa paz em qualquer coisa de nós mesmos, nós a perdemos, e é por isso que tantos santos não têm paz estabelecida. Só podemos estabelecer a paz tendo-a à maneira de Deus. Não devemos nos apoiar em nada, nem mesmo na obra do Espírito dentro de nós, mas no que Cristo fez. Somente em Cristo Deus encontra aquilo em que Ele pode descansar, e o mesmo acontece com Seus santos. O que Jesus é e o que Jesus fez é o único fundamento em que podemos descansar.
Jesus veio a este mundo e glorificou a Deus, onde faltava honra a Deus. Quando os olhos de Deus pousaram sobre Jesus, Ele ficou perfeitamente satisfeito. Nada foi encontrado n’Ele, exceto amor perfeito e devoção perfeita a Deus. Mesmo quando abandonado por Deus, Ele ainda O justifica – “Tu és Santo”. De acordo com “o conselho de paz”, Ele Se entregou; foi para nós que Ele “fez a paz pelo sangue da Sua cruz”, e assim Ele foi, para Deus, um “cheiro suave” de descanso para nós. Tudo está feito, e Jesus, como prova de que tudo está consumado, assentou-Se no trono de Deus. O assentar-Se é a prova de que Ele não tem mais nada a fazer por Seus amigos; agora Ele apenas espera “até que os seus inimigos sejam postos por escabelo de seus pés”.
Seu sacerdócio
Mas, para que possamos desfrutar dessas coisas, Ele está agindo de outra maneira como Sacerdote. Tendo o Espírito de Cristo habitando em nós, consequentemente vemos muitas coisas em nós mesmos contrárias a Ele, que impediriam a comunhão com Deus. Precisamos de Seu sacerdócio para manter nossa comunhão com Deus; precisamos d’Ele em nossos pecados diários, como foi dito: “se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1 Jo 2:1). Em nosso favor diante de Deus, precisamos do Consumador do “conselho da paz” – “Jesus Cristo, o Justo”.
Aqui, então, está “o conselho de paz” que foi proposto entre Deus e Jesus. Aqui só temos paz. Deus reconheceu publicamente Sua aceitação da obra de Cristo, assentando-O à Sua própria direita. O Espírito Santo é enviado para nos testemunhar que Jesus está agora “no trono de Deus”, pois “por uma oferta aperfeiçoou em perpetuidade os santificados” (Hb 10:14 – JND).
Não estejais inquietos
Podemos passar por muitas provações, mas ainda assim temos a perfeita certeza do favor de Deus, e “se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8:31). “Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus” (Fp 4:6-7). A palavra é “Não andeis ansiosos de coisa alguma”: se uma única coisa fosse excetuada, Deus não seria Deus. Se estamos com problemas de espírito, vamos a Deus sobre isso.
Precisamos desse “conselho de paz”, porque tudo o que somos em nós mesmos é inimizade contra Deus. Não posso abandonar este “conselho” para olhar para o meu próprio coração por um momento: isso é “entre Ambos”.
Quem ou o que nos separará do “amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor?” Será tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo ou espada? Não, essas coisas devem, como meios para mortificar a carne, apenas ministrar para a glória de Cristo. Será a morte? Isso apenas nos levará à Sua presença. Será a vida? É por isso que desfrutamos de Seu favor. Ele está “no trono” como Testemunha eterna da paz realizada, e a partir daí Ele a ministra a nós.