Origem: Revista O Cristão – As Semelhanças do Reino – Parte 1

A Árvore de Mostarda

Em outro artigo desta edição, vimos como Satanás procurou estragar a obra do Espírito de Deus semeando joio no meio do trigo. Agora chegamos a outro de seus artifícios, na parábola da árvore de mostarda.

“Outra parábola lhes propôs, dizendo: O Reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem, pegando dele, semeou no seu campo; o qual é realmente a menor de todas as sementes; mas, crescendo, é a maior das plantas e faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves do céu e se aninham nos seus ramos” (Mt 13:31-32).

Quando o Cristianismo começou, era realmente como “um grão de mostarda”. O Senhor Jesus foi rejeitado como o Rei legítimo, e Sua própria nação exigiu que Ele fosse crucificado. Consequentemente, o reino dos céus assumiu o caráter de um reino em mistério, com apenas um pequeno número que reconheceu o Rei legítimo e estava pronto para reconhecer Suas reivindicações enquanto Ele estava ausente. De fato, desde que o pecado entrou neste mundo, aqueles que valorizam as reivindicações de Deus e andam com Ele sempre foram minoria. Seja antes do dilúvio de Noé, no tempo de Abraão, ou mesmo em Israel, o povo escolhido de Deus, havia apenas um pequeno número que realmente seguia o Senhor. O sistema do mundo que começou com Caim dominou a Terra, pois “a inclinação da carne é inimizade contra Deus” (Rm 8:7).

Quando nosso Senhor Jesus foi rejeitado, o teste do homem acabou e Deus pronunciou o julgamento sobre o homem. Mas então, por meio da obra de nosso Senhor Jesus Cristo na cruz, Deus providenciou uma maneira de escaparmos do julgamento vindouro. Mais do que isso, Ele começou a formar Sua Igreja de todas as raças, grupos étnicos e nações, chamando-os para se separarem deste mundo. Eles deveriam desistir de posição e prestígio terrenal para ser uma companhia celestial e esperar que seu Senhor viesse e os levasse para estar com Ele no céu. Eles foram enviados de volta ao mundo como testemunhas da graça de Deus e, portanto, deveriam estar NO mundo, mas não ser DO mundo. Como tal, aqueles no reino dos céus seriam como “o grão de mostarda” – sem importância neste mundo. Seu poder seria de natureza moral e espiritual, como quando os judeus em Tessalônica reclamaram de Paulo e Silas às autoridades: “Estes que têm alvoroçado o mundo chegaram também aqui” (At 17:6). Mas eles não buscaram a comunhão ou aprovação do mundo, pois pregar um Cristo rejeitado não era popular.

No entanto, nossa parábola diz que, embora o grão de mostarda seja “a menor de todas as sementes”, quando cresce, “é a maior das plantas e faz-se uma árvore”. Os estudiosos da Bíblia têm constantemente procurado por uma planta natural que corresponda a esta descrição, e geralmente falham em encontrar algo adequado. Existem vários tipos de plantas de mostarda, e algumas, sob as circunstâncias certas, podem até crescer para se assemelhar a uma pequena árvore, mas é difícil encontrar uma que seja uma erva e que se transforme em uma árvore. Eu sugeriria que essa aparente dificuldade é deliberada da parte do Espírito de Deus, pois Ele nunca pretendeu que a pequena erva do Cristianismo se transformasse em uma árvore. Assim como não é natural que a planta da mostarda cresça de uma erva para uma árvore, também não é normal que o Cristianismo se torne grande neste mundo. No entanto, aconteceu. Satanás tem feito um bom trabalho em rebaixar o Cristianismo ao nível de uma religião mundana, pois ele sabe que então perderá seu poder.

O que começou no cenáculo no dia de Pentecostes, com apenas 120 crentes, desde então se transformou na “grande casa” da cristandade que conhecemos hoje, com suas impressionantes hierarquias, belos edifícios, riqueza material e, infelizmente, sua mistura de crentes e incrédulos. Doutrinas falsas e más práticas também têm permeado a profissão do Cristianismo, e assim descobrimos que “vêm as aves do céu, e se aninham nos seus ramos” desta árvore de mostarda.

De maneira geral, uma árvore na Escritura é aquela que oferece proteção e abrigo, às vezes de maneira boa e às vezes de maneira ruim. Em Ezequiel 17:22-24, temos o Senhor em um dia vindouro exaltando a “árvore baixa” da casa de Davi, enquanto derruba a “árvore alta” (provavelmente as nações gentias). Nesta árvore “todas as aves de toda sorte de asas e à sombra dos seus ramos habitarão” – uma figura da bênção milenar. Entretanto, neste mesmo livro, em Ezequiel 31:3-14, encontramos o assírio comparado a uma grande árvore, onde “Todas as aves do céu se aninhavam nos seus ramos” (v. 6). Mais adiante no capítulo, Faraó e suas hostes são descritos da mesma maneira. Aqui as aves são típicas de líderes orgulhosos e arrogantes, para quem a árvore oferecia proteção pelo menos temporária. Esta mesma figura é usada para descrever a condição apóstata final da igreja professante em Apocalipse 18:2: “Caiu! Caiu a grande Babilônia e se tornou morada de demônios, e abrigo de todo espírito imundo, e refúgio de toda ave imunda e aborrecível!”

Em nossa parábola, as aves novamente têm uma conotação ruim – uma figura de líderes arrogantes e presunçosos, que frequentemente são Cristãos apenas por profissão, mas que encontram proteção nos grandes sistemas que se desenvolveram sob a bandeira da Cristandade. Vários anos atrás, li sobre um homem que era ateu confesso, mas foi ordenado a pregar em uma grande denominação Cristã porque se formou em um de seus seminários. Tais são as aves que se alojam na grande árvore de mostarda.

Tudo isso começou quando a Igreja começou a abdicar de seu chamado celestial e a se aliar ao mundo. Tudo parecia bom, mas quando a Igreja procura trabalhar com o mundo, ela deve trabalhar nos princípios do mundo, pois o mundo nunca pode se elevar para abraçar os princípios Cristãos. A Igreja deve descer ao nível do mundo, e então ela perde seu testemunho. Alguém observou apropriadamente que quando a Igreja perde o sentido de seu chamado celestial, humanamente falando, ela perde tudo. Isso é verdade, pois não é o chamado da Igreja corrigir o mundo. Em vez disso, ela deve chamar os homens para se separarem de um mundo condenado para terem bênçãos celestiais. Além disso, o mundo não será corrigido pelo evangelho; mas, “havendo os Teus juízos na Terra, os moradores do mundo aprendem justiça” (Is 26:9). O caráter da Igreja agora é propriamente o de um embaixador, não de um ativista. No entanto, quantos crentes abraçaram este último caráter e estão usando sua energia e recursos na direção errada!

Como já mencionamos em conexão com a árvore em Ezequiel 17, chegará o dia em que o Senhor Jesus virá em poder e glória para executar o julgamento. Naquele dia, Sua Igreja virá com Ele, não como aquela que é desprezada pelo mundo, mas manifestada em glória com seu Noivo. Naquele dia o Senhor Jesus virá “para ser glorificado nos Seus santos e para Se fazer admirável, naquele Dia, em todos os que creem” (2 Ts 1:10). Mas, por enquanto, devemos nos contentar em ser como o “grão de mostarda”“a menor de todas as sementes”, no que diz respeito a este mundo. O verdadeiro Cristianismo não será popular no mundo, nem buscará grandeza e influência mundanas. Será caracterizado pelo poder espiritual – um poder que Deus continua a usar para abençoar neste mundo de pecadores perdidos. Esse poder é muito mais eficaz do que o poder material, pois é assim que Deus está trabalhando hoje. Quando estamos vivendo e trabalhando na corrente dos pensamentos de Deus, todo o Seu poder está por trás de nós.

W. J. Prost

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