Origem: Revista O Cristão – Ofertas de Cheiro Suave

A Oferta Pacífica

No primeiro capítulo de Levítico está a descrição do holocausto representando a dedicação e obediência própria do Senhor, até a morte, vindo primeiramente para fazer a vontade do Pai e depois Se oferecendo a Si mesmo sem mácula a Deus. No segundo, temos a oferta de manjares, que mostra a perfeição de Sua natureza, provada pelo fogo de Deus na morte, e o caráter detalhado dessa perfeição, com o memorial dela sendo oferecido perante Jeová e o restante sendo comido pelos sacerdotes – uma oferta de manjares sem fermento.

O capítulo 3 aborda a parte da oferta pacífica que era oferecida a Deus. Não há menção ao que era feito com o corpo do animal; devemos consultar o capítulo 7 para isso. É dito que a gordura e o sangue, que representam a vida e a energia da vítima oferecida, são o “manjar” (“alimento” – ACF) da oferta queimada. Eles não podem ser comidos, mas são apresentados a Jeová e são todos queimados por estatuto perpétuo. A vida pertence a Deus, e em Cristo tudo foi oferecido a Ele e para Sua glória.

Temos, na oferta pacífica, o mesmo caráter que as duas anteriores; ainda um sacrifício feito por fogo de cheiro suave. A característica peculiar desta oferta é que é dela que o próprio Jeová Se alimenta; não é apenas uma oferta, mas o alimento da oferta. Isso lhe confere um caráter peculiar e introduz a comunhão. A satisfação e o deleite, o alimento de Deus, estão na oferta de Cristo. Tudo o que Deus é encontra Seu repouso ali e é perfeitamente glorificado ali; nela também encontramos nosso alimento, nosso deleite.

As várias partes 

No capítulo 7 vemos que o restante da oferta pacífica era comido pelo adorador, com exceção do peito movido e da espádua alçada, que eram dos sacerdotes. Estas três coisas, então, podemos observar: o sangue é aspergido e a gordura é queimada, por cheiro suave; o peito movido era para Arão e seus filhos, a espádua alçada era para o sacerdote que oferecia; e o resto era para o adorador se alimentar, como uma ocasião de gozo e ação de graças perante Jeová. Esta prática em que o ofertante participa de seu sacrifício era seguida nos sacrifícios pagãos aos quais o apóstolo alude (1 Co 10:18-21); parte era oferecida ao ídolo, e com o restante faziam um banquete, participando juntos dele. Novamente, quando o apóstolo está dando liberdade aos coríntios para comerem o que era vendido no açougue, ele os limita àquilo que comiam na ignorância. “Mas, se alguém vos disser: Isto foi sacrificado aos ídolos, não comais” (1 Co 10:28). Eles aspergiam o sangue no altar e depois comiam o sacrifício; portanto, aqueles que conscientemente participavam dele eram considerados participantes do altar. Esta era a forma de mostrar comunhão, seja com um ídolo, seja entre um crente e Deus. E isso tem um significado abençoado.

O assunto da comunhão 

Cristo não é apenas representado aqui como o holocausto perfeito totalmente oferecido a Deus na morte para Sua glória, mas também como uma oferta da qual nos alimentamos. Ele não é apenas o deleite de Deus, mas também é aquilo de que podemos com Ele participar. Ele é o assunto da comunhão. “Assim como Eu vivo pelo Pai, assim quem de Mim se alimenta também viverá por Mim” (Jo 6:57). A comunhão é entre todos os santos, o adorador, o sacerdote e Deus. Não apenas é um privilégio para nós ver o sacrifício oferecido a Deus e abrindo uma via de acesso a Ele (como no holocausto e outros), mas também descobrimos que o Senhor Se deleita em ter comunhão conosco em torno disso.

A primeira coisa a ser observada na oferta pacífica é a aceitação completa e absoluta do sacrifício, de modo que Jeová fala dela como Seu alimento, aquilo em que Sua santidade podia achar intrínseca satisfação. As entranhas eram apresentadas por cheiro suave (como Jesus); elas eram provadas e examinadas pelo fogo e consideradas alimento para o próprio Deus. A gordura representa os atos espontâneos do coração. A riqueza de um animal é sua gordura; julgamos sobre seu estado saudável e vigoroso por isso.

Está escrito: “o nosso Deus é um fogo consumidor” (Hb 12:29). Essa expressão às vezes é interpretada erroneamente, como se falasse de Deus sem envolver Cristo. Nós não sabemos nada sobre Deus fora de Cristo. Nós podemos nós mesmos estar fora de Cristo; nesse caso, de fato, como um fogo consumidor, a própria presença de Deus seria destrutiva para nós. Mas também, como é sabido por nós que estamos em Cristo, Ele é um Deus intolerante com todo o mal, com tudo o que é inconsistente com Ele.

J. N. Darby (adaptado)

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