Origem: Revista O Cristão – Árvores e Videiras
Árvores e Videiras
A Escritura está cheia de figuras. Deus faz uso de coisas naturais com as quais estamos familiarizados para ilustrar e explicar coisas espirituais. E quando Ele o faz, também fornece em Sua Palavra declarações definidas para proteger Sua Palavra do uso indevido de figuras e exemplos. Embora os homens tenham sido os instrumentos para escrevê-la, toda a Escritura é inspirada por Deus – vem diretamente d’Ele. E “não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina”. Portanto, nesta edição, Deus usará algumas árvores, que estão conversando entre si, para falar conosco. Vamos ouvir.
“Foram uma vez as árvores a ungir para si um rei e disseram à oliveira: Reina tu sobre nós. Porém a oliveira lhes disse: Deixaria eu a minha gordura, que Deus e os homens em mim prezam, e iria a labutar sobre as árvores? Então, disseram as árvores à figueira: Vem tu e reina sobre nós. Porém a figueira lhes disse: Deixaria eu a minha doçura, o meu bom fruto e iria labutar sobre as árvores? Então, disseram as árvores à videira: Vem tu e reina sobre nós. Porém a videira lhes disse: Deixaria eu o meu mosto, que alegra a Deus e aos homens, e iria labutar sobre as árvores? Então, todas as árvores disseram ao espinheiro: Vem tu e reina sobre nós” (Jz 9:8-14).
Responsabilidade e vida
No Jardim do Éden foram plantadas duas árvores – “a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore da ciência (ou conhecimento) do bem e do mal” (Gn 2:9). Vistos separadamente, elas trazem diante de nós aqueles dois que lemos em 1 Coríntios 15:47: “O primeiro homem [Adão], da terra, é terreno; o segundo homem, o Senhor, é do céu” (1 Co 15:47).
O centro
A partir da posição da árvore da vida no Paraíso (pois afirma claramente que ela crescia “no meio do jardim”), aprendemos que Cristo sempre foi o centro de Deus. Mas juntamente com a árvore da vida (e também no meio do jardim) é encontrada a “árvore do conhecimento do bem e do mal” (Gn 3:3). Quanto à “árvore da vida”, é claro que só poderia se referir a Cristo (Ap 2:7), e no fato de que ambas estão “no meio do jardim”, vemos que ambas estão unidas n’Ele. Nossa responsabilidade, como em Adão, foi assumida e cumprida n’Ele e por Ele. Ele é, portanto, o centro de Deus, e a vida é d’Ele por direito adquirido. A criação em Gênesis é a figura do propósito do coração de Deus em relação a Cristo – um propósito oculto nas eras passadas, mas existindo lá desde toda a eternidade, muito antes da fundação do mundo, e agora tornado conhecido pela fé (Ef 1:9-10; 3:9-11). Atualmente, Deus agirá com poder para mostrar plenamente Seu próprio pensamento original, uma vez que tudo se baseia, não no primeiro homem, mas no Segundo.
Não parece que a “árvore da vida” tenha sido proibida ao homem antes de ele cair. Ele foi estabelecido no Paraíso em vida, e com esta palavra: “De toda árvore do jardim comerás livremente mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2:16-17). Era inocência, pois ele não devia saber nada além daquela vida que estava com Deus. Mas isso era responsabilidade e, sobre essa base, tudo estava perdido. O pecado entrou e a lei provou isso; mostrou como a ruína foi completa. A morte estava sobre todos.
A raça caída
Pela primeira vez, depois da queda, parece que a “árvore da vida” foi proibida para ele – uma provisão graciosa da parte de Deus. O homem adquiriu o conhecimento do bem (e Deus era sua fonte), mas sem poder para agir de acordo com isso ou para agradá-Lo. Ele também adquiriu o conhecimento do mal e, com isso, uma natureza sempre propensa a segui-lo. Agora, Deus diz: “Eis que o homem é como um de Nós, sabendo o bem e o mal; ora, pois, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma, e viva eternamente” (Gn 3:22). Comer e viver eternamente naquele estado de inocência em que Deus o criou pela primeira vez, teria sido correto e simples obediência, mas comer e viver para sempre no Jardim, com o conhecimento do bem e do mal (o bem que ele nunca poderia alcançar e o mal ao qual estava sempre propenso); portanto, na miséria, isso Deus não queria. “E, havendo lançado fora o homem, pôs querubins ao oriente do jardim do Éden e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida” (Gn 3:24). A vida é, então, claramente recusada a uma raça responsável, mas caída, nessa condição.
O Segundo Homem
Mas Jesus, em perfeita graça no lugar do homem responsável na cruz, glorifica a Deus. Tentado e testado de todas as maneiras por toda a Sua vida, que terminou na cruz, Ele era tudo o que o homem deveria ter sido para Deus. É verdade que tudo acabou para o primeiro homem, mas agora, com o primeiro homem terminado aos olhos de Deus, somente Ele – o Segundo Homem – está agora diante de Deus. Ele que em Si Mesmo atendeu todas as reivindicações de justiça para o homem responsável e que também, como Homem, atendeu perfeitamente o coração de Deus, tem o direito de tomar da “árvore da vida” no meio do jardim. E no momento solene de entregar Sua vida na Terra, no Salmo 16:11, Ele fala assim: “Far-Me-ás ver a vereda da vida” e, novamente, “dou a Minha vida para tornar a tomá-la” (Jo 10:17). Vemos neste único pensamento central de Deus – estabelecer tudo no céu e na Terra em Cristo. Deus O terá como Centro de todos os Seus caminhos de graça para o homem por toda a eternidade. Tudo, portanto, é para Seu gozo, e Ele, em perfeita graça, nos entrega essas coisas, associando-nos a Si Mesmo, pois Eva foi coparticipante de Adão em tudo.
Vida eterna
Além disso, a duração da vida, no Cristianismo, é pela primeira vez revelada como “eterna” (Tt 1:2), pois é a vida do próprio Cristo como o Ressuscitado da morte. A vida, se pudesse ter sido sustentada continuamente no Éden por comer todas as árvores do Jardim (exceto a proibida), teria sido interminável e, portanto, “eterna” nesse sentido. Mas isso dependeria da contínua obediência do homem; teria sido uma vida que dependia disso. Agora temos a perfeita obediência e vida de Cristo como resultado.
O paraíso de Deus
É um alívio para o coração expandir, e então afastar-se de seu pequeno eu, e ver Deus trabalhando pela glória de Seu amado Filho, para Quem somos necessários, como parte daquela glória para a qual Deus O trará (Ef 3:21). Ver tudo assim estabelecido em uma base imutável, o primeiro homem não mais estando diante de Deus, mas o Segundo, e saber que, pela graça, estamos eternamente unidos a Ele, dá grande paz à alma. Olhar para trás, ao longo da penumbra das eras, para ver este Seu propósito brilhando intensamente no Jardim do Éden, que o pecado estragou, e aguardar com expectativa o que ainda será, quando tudo estiver em ordem divina ao redor d’Ele, nos faz irromper em louvor Àquele que, por toda a eternidade, é o Centro no meio do “Paraíso de Deus” (Ap 2:7).