Origem: Revista O Cristão – Raabe, Acsa, Jael, Débora

Raabe – a Linhagem Real

Observamos que a genealogia de nosso Senhor em Mateus difere totalmente da que temos em Lucas, onde não é apresentada até o final do capítulo 3. Assim, em Lucas aprendemos muito sobre o Senhor Jesus antes que Sua genealogia apareça. Em Mateus, nos encontramos em um terreno mais estreito, direcionado a uma determinada nação. Abraão e Davi são mencionados no primeiro versículo. “Livro da geração de Jesus Cristo, Filho de Davi, Filho de Abraão”. Davi foi o rei que Deus escolheu, e ele é mencionado aqui como o antepassado do Ungido do Senhor – “o Filho de Davi”. Abraão, novamente, era aquele em quem, dizia-se, todas as nações da Terra deveriam ser abençoadas. Assim, as palavras de abertura nos preparam para todo o Evangelho. Cristo veio com toda a realidade do reino prometido ao Filho de Davi. Mas se Ele foi recusado como Filho de Davi, ainda como Filho de Abraão, houve bênção não apenas para os judeus, mas para os gentios. Ele é o verdadeiro Messias, mas se Israel não O reconhece como tal, Deus fará com que as nações provem de Sua misericórdia.

As quatro mulheres 

Começamos com Abraão, não seguindo Jesus até Abraão, mas de Abraão até Ele. “Abraão gerou Isaque; e Isaque gerou a Jacó; e Jacó gerou Judas e seus irmãos; e Judas gerou Peres e Zara de Tamar” (Mt 1:2-3). Qual é o motivo de trazer uma mulher e nomear Tamar aqui? Havia mulheres de grande destaque na linhagem do Messias – pessoas que os judeus naturalmente consideravam santas e honradas. Mas não há menção a elas aqui. Por outro lado, Tamar é mencionada. A graça, mais repreendendo a carne, podia ser encontrada por baixo disso, mas a mais preciosa em seu caminho. Há quatro mulheres, e apenas quatro, que aparecem na linhagem, e em cada uma delas houve uma mancha. Para um judeu orgulhoso, com todas essas mulheres, havia algo que era humilhante – algo que ele manteria oculto. Oh, maravilhoso caminho de Deus! O que Ele não pode fazer? O Messias deveria brotar de uma linhagem na qual tinha tido terrível pecado. Essas, sobre as quais houve tais borrões segundo a avaliação dos homens, são as únicas mulheres trazidas especificamente diante de nós. Não como se o pecado não fosse excessivamente pecaminoso, nem como se Deus pensasse levianamente nos privilégios de Seu povo. Mas Deus, sentindo o pecado de Seu próprio povo como o pior de todos os pecados, mas tendo introduzido neste mesmo Messias o único que poderia salvar Seu povo de seus pecados, não hesita em trazer seu pecado à presença da graça que poderia e iria purificar tudo.

Graça para salvar 

O que somos ensinados por isso? Se o Messias Se digna a Se vincular a uma família assim, certamente não poderia haver alguém tão mau que não pudesse ser recebido por Ele. Ele veio para salvar “o Seu povo dos pecados deles” (Mt 1:21 – TB), e não para encontrar um povo que não tivesse pecados. Quem não pode agora nascer de Deus? Quem é que um Deus assim rejeitaria? Tal indicação em Mateus 1 abre o caminho para as maravilhas da graça que aparecem depois. Em certo sentido, nenhum homem tem uma posição de privilégios antigos como o judeu; todavia, assim como com o Messias, esse é o relato que o Espírito Santo faz de Sua linhagem.

Mas isso não é tudo. “Salmom gerou de Raabe a Booz”, E quem e o que ela era? Uma gentia e outrora prostituta! Mas Raabe é tirada de todos os seus pertences – separada de tudo o que era sua porção por natureza. E aqui está ela, neste evangelho de Jesus escrito para o judeu – para as mesmas pessoas que O desprezavam e O odiavam, porque Ele iria considerar o gentio. Raabe já tinha o nome do céu, e nenhum judeu poderia negar isso. Ela foi visitada por Deus e fez parte da linhagem real da qual nasceria Jesus, o Messias, que é Deus sobre todos, Bendito para sempre. Oh, que maravilhas da graça surgem sobre nós, enquanto nos debruçamos sobre a mera lista de nomes da genealogia de nosso Senhor!

Odiosos gentios trazidos para dentro 

Pode-se dizer que Raabe foi chamada em alguma época distante. Mas não! “Salmom gerou de Raabe a Boaz, e Boaz gerou de Rute a Obede, e Obede gerou a Jessé, Jessé gerou ao rei Davi” (Mt 1:5-6). Rute, por mais amorosa que fosse, para um judeu era de uma origem particularmente odiosa. Ela era moabita e, portanto, proibida pela lei de entrar na congregação do Senhor até a décima geração. Até os edomitas ou os egípcios eram tidos com menos aversão, e seus filhos poderiam entrar na congregação do Senhor na terceira geração (Dt 23:3-8). Assim, foi dado um testemunho ainda mais profundo de que a graça sairia e abençoaria o pior dos gentios. e Jessé gerou o rei Davi. Davi gerou Salomão da que fora mulher de Urias; Com apenas algumas gerações intervindo, temos essas três mulheres que seriam totalmente desprezadas e rejeitadas pelo mesmo espírito que rejeitou Jesus e a graça de Deus. Não havia, portanto, um novo pensamento – a misericórdia divina que se estendia para reunir os forasteiros dos gentios. Era a velha maneira de Deus agindo.

Deixar de fora o que um judeu se gloriava e trazer o que ele ocultaria por vergonha, e tudo com terna misericórdia a Israel, aos pecadores, era realmente divino. Podemos ver com isso que a menção dessas quatro mulheres é particularmente instrutiva. O homem não poderia ter produzido isso: Nosso lugar é aprender e adorar. Todas as mulheres nomeadas são aquelas que a natureza teria cuidadosamente excluído do registro, mas que a graça tornou mais proeminente nele. A verdade que ela ensinou nunca deve ser esquecida, pois Ele é um Messias que vem em busca dos pecadores; Ele não desprezaria ninguém necessitado, nem mesmo um pobre publicano ou uma prostituta. O Messias refletia tão completamente o que Deus é em Seu santo amor, e Ele é tão fiel a todos os propósitos de Deus, tão perfeita expressão da graça que está em Deus, que nunca houve um pensamento, sentimento ou palavra de graça ali, mas o que o Messias havia chegado agora para torná-la boa ao lidar com pobres almas, e antes de tudo com os judeus.

W. Kelly (adaptado)

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