Origem: Revista O Cristão – Raabe, Acsa, Jael, Débora
Débora e Jael – Usadas por Deus
Até esse momento, Deus, em juízo, tinha entregado os israelitas infiéis nas mãos de inimigos externos. Outra prova de infidelidade da parte deles é seguida por consequências mais sérias. Jabim, rei de Canaã, reinando em Hazor, conquistou Israel e os oprimiu. Em Josué 11, encontramos um ancestral neste mesmo Jabim, e naqueles dias Israel entendia, sob a poderosa energia do Espírito de Deus, que não havia nada em comum entre eles e Jabim. Israel o feriu ao fio da espada, depois de queimarem seus carros e destruírem sua capital.
Recurso ao poder mundano
Infelizmente, tudo agora mudou, e Israel infiel cai sob o governo do mundo. Hazor, seu antigo inimigo, é reconstruído dentro dos limites de Canaã, e a herança do povo se torna o reino de Jabim! Isso tem paralelo na história da Igreja, cuja posição no início era de uma separação completa do mundo. Mas que caminho a Igreja percorreu desde então? Na realidade, é o mundo que governa a Igreja. “Eu sei”, diz o Senhor a Pérgamo, “onde habitas, que é onde está o trono de Satanás” (Ap 2:13). Mesmo no grande reavivamento da Reforma, os santos recorreram aos governos do mundo e se apoiaram neles. Nos dias atuais, há Cristãos que, quando perseguidos, em vez de se regozijarem em sofrer por causa de Cristo, reivindicam proteção contra os poderes que existem. O juízo de Josué sobre o Hazor não é mais nada além de uma lembrança.
A fé de Débora
Além disso, esse não era o único sintoma da baixa condição de Israel naqueles dias, pois se exteriormente eles eram governados por seu inimigo, qual era o estado interno do governo? Confiado às mãos de uma mulher! Mas Débora era uma mulher notável, uma mulher de fé, profundamente impressionada com a condição humilhante do povo de Deus. Ela vê que seria para vergonha dos líderes em Israel que Deus confiasse um posto de atividade pública a uma mulher no meio deles. Ela diz a Baraque: “Certamente irei contigo, porém não será tua a honra pelo caminho que levas; pois à mão de uma mulher o SENHOR venderá a Sísera” (Jz 4:9). Mas, em todo o seu exercício de autoridade para Deus, Débora mantém, em circunstâncias que podem ter sido uma grande armadilha para ela, o lugar designado por Deus em Sua Palavra à mulher. Caso contrário, ela não seria uma mulher de fé. Este capítulo nos conta a história de duas mulheres de fé, Débora e Jael. Cada uma mantém o caráter de acordo com a posição atribuída por Deus à mulher. Onde Débora exerce sua autoridade? A Palavra diz que ela “habitava debaixo das palmeiras de Débora … e os filhos de Israel subiam a ela a juízo” (Jz 4:5). Profetisa e juíza, embora estivesse em Israel, ela não saiu da esfera que Deus havia designado para ela.
A falta de caráter
Baraque era um homem de Deus e considerado pela Palavra um juiz em Israel. “Faltar-me-ia o tempo contando de Gideão, e de Baraque, e de Sansão, e de Jefté” (Hb 11:32). Mas Baraque era um homem sem caráter, energia moral e confiança em Deus. A falta de caráter em Baraque o fez desejar ser o ajudante da mulher, enquanto Gênesis 2:18 a torna a ajudante do homem. Ele degradou o cargo em que Deus o colocara e, o que era pior, procurou tirar Débora do lugar de dependência dela como mulher. “Certamente irei contigo”, diz ela, por isso ela poderia fazer consistentemente com seu lugar de acordo com a Escritura. Mais tarde, lemos sobre mulheres santas que acompanharam o Senhor, tornando-se Suas servas, a fim de ministrar às Suas necessidades. O ato de Débora estava certo, mas o motivo de Baraque estava errado, e Débora o repreendeu severamente. Qual era o motivo de Baraque no fundo? Ele estava disposto a depender de Deus, mas não sem um suporte humano também. Existem muitas dessas almas hoje. Há, por sua vez, tão pouco sentido da presença de Deus que, para seguir o caminho da fé, eles preferem confiar em outro, em vez de depender diretamente somente d’Ele. Mas Deus, o Senhor, Seu Espírito e Sua Palavra são infalíveis. A fiel Débora não encoraja Baraque nesse caminho errado, e Baraque sofre as consequências de sua falta de fé.
Jael em sua esfera
Baraque sobe com seu exército e Débora com ele. Héber, o queneu, naqueles tempos conturbados, achou conveniente se separar de sua tribo e montar sua tenda em outro lugar. Agora “havia paz entre Jabim, rei de Hazor, e a casa de Héber, queneu” (Jz 4:17). O ato de Héber não parece ter sido de fé. Ele se separou do povo em seu estado baixo, de modo a se livrar da responsabilidade da triste condição de Israel. Além disso, ele estava em paz com o inimigo declarado de seu povo e conseguiu não ser incomodado por Jabim. Mas uma mulher morava sob a tenda de Héber – uma mulher que recusava a segurança por um preço tão alto e não reconhecia uma aliança com o inimigo de sua nação. Israel possuía totalmente o seu coração. Baraque obtém a vitória, e Débora, essa mulher de fé e mãe em Israel, não participa dela. O exército de Sísera é derrotado e ele próprio, forçado a fugir a pé, chega à tenda de Jael, onde conta com um abrigo hospitaleiro. Jael o esconde; ele pede um copo de água e ela lhe dá o que era melhor, leite. Ela não o trata inicialmente como um inimigo, mas com pena; contudo, na presença do inimigo de seu povo, ela se torna impiedosa.
O instrumento que ela usou para a libertação de Israel era ainda mais inútil que o de Sangar, pois as únicas armas que ela possuía eram as ferramentas de uma mulher que fica na tenda; é com eles que ela dá o golpe fatal na cabeça do inimigo. Com que sentimentos de humilhação, Baraque deve ter contemplado a vitória de Jael, vendo uma mulher assim honrada por Deus, em um caminho em que ele, embora líder e juiz, não desejava caminhar. Mas Deus fez uso de Débora e Jael para despertar os filhos de Seu povo a um senso de sua responsabilidade, pois, uma vez despertados, eles “exterminaram a Jabim, rei de Canaã” (Jz 4:24).