Origem: Revista O Cristão – Oração
Intercessão Um Pelo Outro
Quando pensamos em intercessão, estamos mais aptos a pensar em Cristo e Sua intercessão por nós, tanto como nosso Sumo Sacerdote quanto como nosso Advogado. Isso é abençoadamente verdadeiro, e quão agradecidos podemos ser por Seu trabalho nessas duas capacidades. No entanto, não devemos parar por aqui, pois Deus certamente nos mostra em Sua Palavra, tanto por ordem como por exemplo, que Ele deseja que intercedamos juntamente com Ele uns pelos outros e também, em alguns casos, por incrédulos. Lemos em 1 Timóteo 2:1: “Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens”. Aqui encontramos claramente que súplicas e orações se distinguem de intercessões, e que nos é dada a responsabilidade de fazermos todas as três, bem como a ação de graças. Assim, intercessão envolve oração, mas é mais que oração; é um pedido com vista à reconciliação de duas partes que estão em desacordo. Em termos espirituais seria o ato de ir a Deus em favor de outro, e suplicar por ele.
Certamente existem apenas dois intercessores perfeitos, e eles são claramente mencionados na Escritura – o Senhor Jesus Cristo e o Espírito Santo. Lemos a respeito de Cristo que Ele “pode também salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (Hb 7:25). E sobre o Espírito Santo lemos: “E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (Rm 8:26). Assim, temos Cristo no céu por nós e o Espírito Santo aqui embaixo, ambos intercedendo a Deus em nosso favor. Contudo, Deus quer que compartilhemos Seus pensamentos sobre Seu povo e que possamos interceder um pelo outro. Por causa de nossas fraquezas e enfermidades, todos nós precisamos de intercessão; Deus também chama a todos nós para sermos intercessores.
Características da intercessão
A Palavra de Deus nos mostra várias características da verdadeira intercessão, e é importante lembrar delas. Antes de tudo, uma vez que nós mesmos temos “um grande sacerdote sobre a casa de Deus”, somos exortados: “cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé” (Hb 10:21-22). Devemos estar dispostos a nos aproximar do Senhor em favor do indivíduo; não podemos dizer, como é nossa tendência, “não é problema meu”.
Segundo, devemos ter a mente de Deus sobre a situação e, por causa do direito de nos aproximarmos de Deus, podemos ter Sua mente sobre isso. O Espírito Santo faz intercessão pelos santos “segundo a vontade de Deus” (Rm 8:27), e se vamos interceder efetivamente pelos outros, devemos estar em comunhão com o Senhor, a fim de ter Seus pensamentos sobre o Seu povo.
Terceiro, lemos sobre Cristo como nosso Sumo Sacerdote (em Hebreus 7:26) que Ele é “santo”. Nós também devemos ser santos em pensamento e prática, se quisermos trabalhar como intercessores de Deus. Conectada a isso está a palavra “inofensivo” ou inocente. Não podemos representar falsamente as coisas a Deus e esperar ganhar Seu ouvido; Ele sabe todas as coisas, e sabe se estamos lidando enganosamente com Ele. Cristo também foi “separado dos pecadores”. É verdade que Ele era amigo de publicanos e pecadores, mas nunca se envolveu em algo pecaminoso. Para trabalhar para Deus, também devemos nos separar do mal, apesar de intercedermos pelo malfeitor.
Quarto, devemos ter afetos comuns com Deus sobre o Seu povo. Ele os ama e quer a bênção deles; devemos ser animados com o mesmo amor. Não podemos abrigar pensamentos desagradáveis para com eles, não importa como eles possam nos tratar. Como alguém já disse: “Nunca vá para a cama com um pensamento desagradável em relação a alguém no mundo, não importa como eles te tratem!”
Exemplos de intercessores
Existem muitos exemplos de intercessores na Palavra de Deus – Abraão, Moisés, Samuel, Jó, o apóstolo Paulo, para citar alguns. Desses mencionados, Abraão e Moisés foram particularmente caracterizados pela intercessão. Abraão intercedeu em favor de Ló, bem como em favor de Abimeleque. Moisés intercedeu em favor de Faraó durante as pragas trazidas no Egito, também pelos filhos de Israel durante seus quarenta anos no deserto. Nestes dois homens, encontramos uma intimidade com Deus. Quando o Senhor estava prestes a julgar Sodoma e Gomorra, ele pode dizer: “Ocultarei Eu a Abraão o que faço?” (Gn 18:17). De Moisés está escrito: “E falava o SENHOR a Moisés face a face, como qualquer fala com o seu amigo” (Êx 33:11). No Salmo 103:7, lemos: “[O Senhor] fez notórios os Seus caminhos a Moisés e os Seus feitos, aos filhos de Israel”. Um intercessor é aquele que anda na presença de Deus, conhece Sua mente e, portanto, tem poder junto a Ele.
Corações sincronizados
Deus testou Moisés em seu caráter de intercessor. Em várias ocasiões, Deus Se referiu a Israel como “teu povo”, e em uma situação ele até Se ofereceu para destruí-los e fazer de Moisés uma grande nação. Em todos os casos, Moisés, quando respondeu ao Senhor, se referiu a eles como “Teu povo” e intercedeu a favor deles. A intercessão sempre coloca Deus em Seu lugar e nos coloca em nosso lugar. O intercessor quer que seu coração esteja “sincronizado” com o coração de Deus; então ele vê uma situação como Deus a vê.
Porém, vemos fracassos em Moisés, como existe em todos nós. Chegou um momento em que o fardo se tornou tão pesado que Moisés esqueceu que era a força do Senhor que o capacitava a continuar. Ele reclamou: “eu sozinho não posso levar a todo este povo” (Nm 11:14) e, enquanto estava ocupado consigo mesmo, ele não era capaz de interceder. Ele se esqueceu de que a graça de Deus estava envolvida do começo ao fim e que ele era apenas um instrumento. No entanto, essa atitude foi temporária; Moisés foi restaurado e recuperou seu caráter intercessor.
Graça e governo
Finalmente, devemos lembrar de que, embora o intercessor recorra à graça de Deus para interceder, isso não anula o governo de Deus. Não podemos ir a Deus em intercessão por alguém que fez algo errado e pedir que não haja consequências. Graça e governo são verdades paralelas; uma não cancela a outra. O intercessor implora a graça de Deus, mas aceita Seu governo.
Moisés falhou de uma maneira muito séria no final da jornada no deserto, quando não havia água e os homens do povo “irritaram seu espírito” (Sl 106:33). Consequentemente, ele golpeou a rocha com a vara, em vez de falar com ela. Além disso, ele chamou o povo de rebelde, no calor de sua ira. As consequências foram graves, Aarão e Moisés morreram e não puderam entrar na terra de Canaã. Isso pode parecer duro, mas é uma coisa séria deturpar a graça de Deus. Ele ama a intercessão, e toda intercessão é baseada na graça de Seu próprio coração.