Origem: Revista O Cristão – Vales
As Insondáveis Riquezas de Cristo
Desejo chamar a atenção para a expressão “as riquezas incompreensíveis [insondáveis – ARA] de Cristo” (Ef. 3:8). Geralmente, ela é tomada como uma maneira vaga e geral de expressar a preciosidade e o valor de Sua obra e Pessoa, e, embora certamente seja assim para todos que amam o Senhor, sugiro que esse não seja o pensamento real da passagem.
Muitas coisas foram ditas sobre o Senhor Jesus no Velho Testamento, como sabemos, e se eu pudesse dar-lhes um nome, seria “as riquezas compreensíveis [sondáveis] de Cristo”. Lá podemos encontrar as promessas que tinham a Ele por objetivo e cumprimento. Encontramos Seu nascimento milagroso, nascido de uma virgem (Is 7:14); Sua vida de sofrimento e rejeição por Seu povo (Is 1); Sua morte expiatória (Is 53; Sl 22); Seu sepultamento com os ricos (Is 53); Sua ressurreição (Sl 16); Sua ascensão à destra de Deus (Sl 110); a Sua recepção de dons para os homens, ou “no homem” (Sl 68:18 – JND); Sua vinda nas nuvens do céu (Dn 7:13-14); os julgamentos que Ele executa (Is 59:16-20; 63:1-6). Lá também encontramos Seu glorioso reinado (Sl 72; Is 32) e os princípios de Seu reino (Sl 101). Tudo isso e muito mais podem ser pesquisados [sondados] e traçados nas Escrituras do Velho Testamento.
Riquezas insondáveis “escondidas em Deus”
Mas havia também “as riquezas insondáveis” – aquelas que estavam “escondidas em Deus” – Seus propósitos eternos que eram antes da fundação do mundo. O Senhor havia entrado no meio de Seu povo, mas aqueles a quem essas promessas foram feitas rejeitaram essas promessas na Pessoa do Filho em Quem elas foram cumpridas. Rejeitado por eles, Ele realiza a obra de redenção na cruz, morre, ressuscita e sobe ao alto, ao trono do Pai. Da glória de Deus, Ele envia o Espírito Santo, investido de perdão para Seu povo Israel, mas a única resposta a essa nova oferta de Seu gracioso coração foi uma recusa mais determinada do que nunca. Estevão, apedrejado como sendo um blasfemador, leva ao alto para seu Mestre rejeitado (por assim dizer) a mensagem de Seus cidadãos: “Não queremos que Este reine sobre nós”, e tudo acabou.
Saulo de Tarso foi então chamado, e a ele foram confiadas “as riquezas insondáveis de Cristo”; a graça foi dada para aquele que era “menor do que o mínimo de todos os santos” (Ef 3:8 – TB).
Essas “riquezas insondáveis” incluem em seus pensamentos o mistério de Cristo e a Igreja e seu arrebatamento (como de todos os santos) para a glória. Elas se manifestam no intervalo não identificado, durante o qual o Senhor Jesus está assentado no trono de Deus como Homem, rejeitado pelo Seu povo e pelo mundo – um intervalo do qual nenhum relato está indicado nas Escrituras do Velho Testamento. Os profetas, então, olharam de cume a cume, por assim dizer, e passaram sem perceber pelo grande vale situado entre os cumes das montanhas que chamaram sua atenção profética. Em seguida, eles conectaram a vinda do Messias em Sua humilhação com seus resultados gloriosos para Seu povo Israel em Seu reino e glória. Eles falaram dos “sofrimentos de Cristo” e das “glórias que se lhes havia de seguir” e pisaram (em linguagem profética) de um topo de colina, onde Seus pés abençoados estavam no dia de humilhação, para o outro topo de colina, onde Ele Se levantará no dia de Seu poder. O vale que ficava no meio, com suas incontáveis minas de riqueza, ainda era “insondável” para o homem.
O vale na Terra
Um homem assenta-Se no trono do céu – o Filho do Pai. A partir dessa cena, Ele recebe do Pai a promessa do Espírito Santo e O envia do céu. Somente então foi divulgado o que estava no segredo de Seu coração, desde antes da fundação do mundo. O vale é explorado, suas minas de riquezas descobertas, e somos conduzidos por seus caminhos como estrangeiros e peregrinos na Terra, mas como concidadãos com os santos no céu.
Durante esse intervalo, enquanto Ele está oculto no alto, outra coisa entra. Unido a esta Cabeça glorificada no céu está o Seu corpo, a Igreja. Ele a amou; Ele Se entregou por ela; Ele a segue até a profundidade da degradação em que ela tem caído. Diferente do primeiro Adão, Ele não foi enganado, como foi Eva. Não; Ele a tem seguido com a força poderosa de Seu amor, até o lugar da sua vergonha e leva seus pecados sobre Si. Apresenta-Se com os pecados dela diante de Deus; Ele os carrega à luz da santidade de Deus, suporta a ira e a limpa de todas as manchas.
O vale da rejeição
Jesus, então, está no alto como Homem, a poderosa obra realizada, a qual nos coloca diante de Deus na luz, sem mancha. O Espírito Santo está aqui e, habitando em Seus membros na Terra, constitui a eles como Seu corpo – Sua noiva. “Desde o topo do monte das Oliveiras, de onde Ele subiu aos céus (At 2), até ao mesmo topo do monte, onde Seus pés serão colocados nos últimos dias (Zc 14), fica o longo vale da Sua rejeição pelo Seu povo, os judeus e pelo mundo, mas no qual Suas “riquezas insondáveis”, nunca consideradas pelos olhos proféticos, são encontradas”. Esse período começou no dia de Pentecostes e terminará com o momento em que Jesus levará para Si Sua noiva, para conduzi-la ao Seu lar no alto.
Enquanto isso, enquanto Deus prepara esta Eva, “do seu corpo, da sua carne e dos seus ossos” (Ef 5:30 – JND), Ele deixou seu “pai e mãe” – Suas relações com Israel segundo a carne; Ele está unido à Sua esposa (Ef 5:31), ou, como Gênesis 2:24 ainda o expressa de maneira mais bela, “apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne”. Quão diferentes disso são nossos pobres pensamentos humanos! Quão bem podemos entender o apego do mais fraco, incapaz de ficar sozinho, ao mais forte. Mas aqui está o pensamento divino d’Aquele de Quem são todas as coisas; é o forte, Jesus, apegando-Se à Sua noiva que é mais fraca e, assim, completando Seus pensamentos de graça.
Gostaria agora de atrair seu coração e suas afeições para o estágio final do longo vale – até o momento em que Jesus surgirá e levará Seus santos para o lugar que Ele preparou para eles – para aquela casa preparada para receber Sua noiva. Quão curto pode ser o tempo até aquele momento abençoado em que ela surgirá do deserto “encostada tão aprazivelmente ao seu Amado?” (Ct 8:5).
Words of Truth, vol. 7 (adaptado)