Origem: Revista O Cristão – Montes
O Monte Santo e o Calvário
Um contraste solene
“E, estando ele ainda a falar, eis que uma nuvem luminosa os cobriu. E da nuvem saiu uma voz que dizia: Este é o Meu Filho amado, em Quem Me comprazo” (Mt 17:5).
“E, desde a hora sexta, houve trevas sobre toda a Terra, até à hora nona. E, perto da hora nona, exclamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lemá sabactâni, isto é, Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?” (Mt 27:45-46).
Rejeição e crucificação
Havia chegado a hora de Seus discípulos serem claramente advertidos de tudo o que estava prestes a acontecer. Assim está escrito: “Desde então, começou Jesus a mostrar aos Seus discípulos que convinha ir a Jerusalém, e padecer muito dos anciãos, e dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia” (Mt 16:21). É a cruz, porém a cruz vista pelo lado do homem, pois não há menção aqui aos sofrimentos mais profundos nos quais a expiação foi realizada. A maré de ódio humano e rebelião contra Deus e contra Seu Ungido estava subindo rapidamente e estava prestes a culminar na rejeição e crucificação finais do Filho de Deus.
De todos os pontos de vista, foi um final terrível para um caminho como o d’Ele, tão cheio de graça e bênção para com os homens pecadores – horrível para aqueles que eram os instrumentos para realizá-lo. O Filho de Deus estava aqui na Terra, não com pompa e esplendor exterior, nem com fogo flamejante como no monte solene do Sinai, nem com hostes de anjos poderosos, que aumentarão Sua comitiva no dia do julgamento que se aproxima. Ele veio antes para libertar os homens do seu odioso jugo de pecado. Portanto, Ele veio em forma de um Homem humilde, Sua Divindade envolta em um tabernáculo de carne e sangue. Veio cheio de graça e de verdade.
Jamais uma palavra como a d’Ele havia chegado aos ouvidos dos mortais, nem tinham sido vistas, desde a fundação do mundo, ações como as que foram testemunhadas aonde quer que o Salvador fosse. Ainda assim Ele era desprezado e rejeitado pelos homens, um Homem de dores e experimentado nos sofrimentos (Is 53:3 – AIBB). Os que estavam assentados às portas falavam contra Ele, e Ele era a canção dos bebedores de bebida forte (Sl 69:12). Tampouco o coração do homem, energizado por Satanás, ficaria contente até que Ele tivesse sido prendido como um ladrão, coroado com escárnio por uma coroa de espinhos e crucificado entre malfeitores como sendo Seus companheiros. Que final, e que exibição de humanidade se via ali!
Contemple-O então – Aquele que deu visão aos cegos, audição aos surdos, palavras aos mudos e vida aos mortos – que curou o leproso, enxugou as lágrimas dos olhos dos que choravam, consolou o coração partido, e cujas palavras foram palavras da vida eterna! Contemple-O em uma cruz romana comum, e essa cruz é a única recompensa que o homem deu por tudo o que havia dito e feito!
O monte santo
Mas tudo isso, tão claramente previsto e predito pelo Senhor, é apenas o fundo escuro do cenário, e serve para realçar de uma forma brilhante a cena encantadora do monte santo. Levando Consigo Pedro, Tiago e João, Ele foi para um alto monte à parte e foi transfigurado diante deles. Eles olham pasmados para Ele, e eis! Seu rosto brilha como o Sol, e Seu traje era branco como a luz. E como eles olham, sendo testemunhas oculares de Sua majestade, uma nuvem de glória os cobriu; eles temem e caem com a face no chão. Então, dessa nuvem, uma voz é ouvida; é a voz de Deus Pai dizendo: “Este é o Meu Filho amado, em Quem Me comprazo”.
É assim que Deus Pai deu honra e glória a Jesus. Assim Ele O confessou como Seu Filho amado, Aquele em Quem encontrou Seu bom prazer. Todo pensamento, toda palavra e todo impulso de Seu coração eram como incenso puro e doce, sempre subindo a Deus Pai e fornecendo, por assim dizer, novos motivos para o amor do Pai.
O contraste
Mas devemos retornar do “monte santo”, onde o coração, cativado por sua beleza, gosta de permanecer, e ir para “o lugar que se chama Calvário”, onde veremos Jesus em outras cenas. Na cruz, nós O contemplamos agora. Pise delicadamente, ó minha alma, pois tu estás em solo santo. Não há nuvem ofuscante de glória aqui, nem voz do céu, nem Moisés, nem Elias, nem anjo como o que ministrou a Ele no sombrio Getsêmani. Em vez de um rosto que brilha como o Sol, vemos Aquele que foi mais maltratado do que qualquer outro homem. Tristeza e trevas exteriores, respondidas por mais tristes e maiores trevas internas, que finalmente encontraram expressão no irrompido brado “Eli, Eli, lemá sabactâni?” Passando com rapidez de pensamento do Calvário para o monte da transfiguração e do monte da transfiguração de volta para o Calvário, podemos apenas exclamar: Que poderosa revolução temos aqui! Naquele monte honrado e glorificado, nesse monte ferido e abandonado; lá Deus Pai dizendo: “Este é o Meu Filho amado, em Quem Me comprazo”, aqui o Filho clama: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?” Nós entendemos este grande mistério?
Como isso destrói completamente o pensamento desonroso de que a cruz para Cristo era apenas a morte de um mártir! Quem já ouviu falar dos mártires de Deus serem abandonados e obrigados a confessar em voz alta e na presença de seus inimigos que foram abandonados por Deus na sua hora extrema? Não! Não foram eles ousadamente à espada ou à estaca e com gozo deram boas-vindas à morte? Sustentados pelo poder e pela presença de Deus, eles entoam cânticos de santo triunfo enquanto o fogo devorador fazia seu trabalho mortal, e o rosto deles brilhava como o de um anjo. Mas não foi assim com Jesus, embora ninguém tenha servido como Ele serviu ou amado como Ele amou.
Não fomos deixados para encontrar uma solução para tudo isso. Em vão seria a tarefa, o céu não lançou luz sobre a sombria questão. Um versículo em Isaías 53 explica tudo: “Todos nós andamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho, mas o SENHOR fez cair sobre Ele a iniquidade de nós todos”. Com esse versículo em vista, o mistério que envolve a cruz passa, e entendemos como: “Mas Ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e, pelas Suas pisaduras, fomos sarados”.
Christian Truth, vol. 15 (adaptado)