Origem: Revista O Cristão – Tempo e Eternidade
Remindo o Tempo
Encontramos a expressão “remindo o tempo” duas vezes no Novo Testamento, uma vez em Efésios 5:16 e outra vez em Colossenses 4:5. Nos dois casos, está relacionada ao nosso tempo, sem dúvida com o pensamento de fazer o melhor uso do tempo que nos é dado e de aproveitar todas as chances que temos para promover os interesses de Cristo neste mundo. A mesma palavra grega que é traduzida como “remir” é usada em outras duas Escrituras do Novo Testamento, em Gálatas 3:13 e também em 4:5. Nessas Escrituras, está relacionada ao modo como Cristo nos resgatou da maldição da lei e nos trouxe à liberdade n’Ele. Eu diria que esses dois significados têm uma lição importante para nós, como crentes.
Antes de tudo, a palavra “resgatar” tem o pensamento em inglês [e no português] de recomprar o que antes era nosso, mas que, de alguma forma, foi tirado de nós. Está intimamente relacionada à palavra “redenção”, que também ocorre várias vezes no Novo Testamento e traz também o pensamento de resgate – recomprar o que foi tirado de nós. Bem sabemos como Satanás, usando o poder do pecado, nos levou para longe de Deus, de modo que, nas palavras da Escritura, estávamos “mortos em ofensas e pecados” (Ef 2:1). Mas Deus “pelo Seu muito amor com o que nos amou” (Ef 2:4) nos redimiu pela obra de Cristo na cruz, para que tenhamos “redenção pelo Seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da Sua graça” (Ef 1:7). Um hino expressa bem isso:
“Por natureza e por prática,
Quão longe de Deus!
No entanto, agora, pela graça trazidos para perto d’Ele,
Pela fé no sangue de Jesus”
Catesby Paget, 1868-1930
Pertencemos a Deus
Mas se fomos resgatados e, como sabemos, um resgate muito alto foi pago por nós, não somos de nós mesmos. Em certo sentido, nunca fomos de nós mesmos, pois pertencemos a Deus pelo direito de criação, e depois pertencemos a Satanás como resultado dele usurpar as reivindicações de Deus sobre nós. Agora, porém, somos lembrados de que “não sois de vós mesmos; Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus” (1 Co 6:19-20). Já que fomos redimidos, pertencemos ao Senhor, como Aquele que nos resgatou do poder de Satanás, do poder do pecado e da maldição de uma lei quebrada. Fomos libertados de tudo isso, mas não para agradar a nós mesmos. Isso nos leva a referências adicionais à palavra “resgatar” e ao efeito prático que ela deveria ter em nossas vidas.
Como não somos de nós mesmos, somos exortados, enquanto estamos aqui em um espaço de tempo no mundo, a remir o tempo. É um pensamento preocupante que em nossa curta vida aqui embaixo, estamos nos preparando para a eternidade. Essa preparação inclui não apenas nossa salvação, mas também como usamos o tempo que nos foi dado. Nenhum de nós sabe quanto tempo teremos e, em 1 Pedro 4:2, somos lembrados de que, depois que somos salvos, é importante que o crente “no tempo que vos resta na carne, não vivais mais segundo as concupiscências dos homens, mas segundo a vontade de Deus”. Não se trata de quanto tempo podemos ter, mas o que fazemos com ele. Alguns homens de Deus, como Enoque, viveram várias centenas de anos para a glória de Deus, enquanto outros, como João Batista, viveram uma vida comparativamente curta. Ainda assim o Senhor Jesus pôde dizer dele: “entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João Batista” (Mt 11:11). Mais do que a efetiva quantidade de tempo, é uma questão de “entender qual seja a vontade do Senhor” (Ef 5:17) e fazê-la. Sendo habitado pelo Espírito de Deus nesta dispensação da graça de Deus e andando com o Senhor, o crente é capaz de discernir a vontade do Senhor.
Tempo desperdiçado
Todos conhecemos frases como “Ele está desperdiçando seu tempo” ou “Isso foi uma perda de tempo”. No entanto, todos nós, se formos honestos conosco, devemos admitir que perdemos tempo pelo menos ocasionalmente. Deus nos responsabilizará pelo que fazemos com o nosso tempo aqui embaixo, se o usamos para nossos próprios interesses ou se o usamos para Sua glória.
Nos dias em que vivemos, pelo menos em grande parte do mundo ocidental, parece que o tempo é precário e há muitas exigências para nós. Muitos desejam um estilo de vida mais simples, mas a maioria acha que não é prático nem mesmo possível evitar as complicações que afetam nossas vidas no mundo moderno. No meio de tantas demandas, é mais do que nunca necessário entender qual é a vontade do Senhor e estabelecer prioridades em nossas vidas. Isso é algo que deve começar em nossos anos mais jovens, pois se formarmos bons hábitos em nossos primeiros anos, eles nos manterão em boa posição durante toda a vida. Isso requer disciplina, um traço de caráter mais fácil para alguns do que para outros. Mas isso deve ser praticado, se queremos realizar algo para o Senhor em nossa vida. Se pensarmos que podemos fazer o que consideramos necessário para a vida aqui embaixo e depois fazer algo para o Senhor depois, logo descobriremos que Satanás cuidará para que nosso tempo seja sempre preenchido com “os cuidados deste mundo” ou “o engano das riquezas” (Mc 4:19). Não haverá tempo para o Senhor.
O primeiro lugar
Não, o Senhor deve ter o primeiro lugar em nossa vida, mas então, quando isso for feito, temos Sua promessa de que, quanto às coisas temporais, “vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas essas coisas” (Mt 6:32) e que “todas essas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6:33).
Se essas promessas forem lembradas, poderemos usar nosso tempo para o Senhor e ter discernimento sobre como definir prioridades em um dia difícil.
Para que não sejamos mal compreendidos, vamos nos apressar em dizer que reconhecemos que existem aqueles que têm muito pouco tempo livre. Isso era verdade nos dias dos apóstolos, pois alguns dos crentes eram escravos de senhores que tinham controle total de seu tempo. No entanto, Paulo poderia dizer a eles: “a Cristo, o Senhor, servis” (Cl 3:24). Se eles prestavam serviço como ao Senhor, isso era aceito como serviço a Ele. Assim, nosso motivo é mais importante do que o que fazemos, mas ao mesmo tempo somos encorajados a buscar a mente do Senhor e, se nosso tempo estiver à nossa disposição, usá-lo como Ele instrui.