Origem: Revista O Cristão – O Temor de Hoje

Não Temas

A frase “não temas” ocorre muitas vezes na Palavra de Deus, começando com a palavra à Abrão em Gênesis 15:1 e terminando com a palavra dita ao apóstolo João em Apocalipse 1:17. Muitas vezes as palavras vêm diretamente do Senhor para um dos Seus, para encorajá-lo e acalmar seus temores. No entanto, as palavras vêm às vezes de homens ou mulheres, como José, Davi, Elias, Jael e outros. Algumas vezes até homens ímpios como Absalão usaram o termo na Escritura.

Neste artigo, seria impossível considerar todas as referências na Escritura de “não temas”, mas é significativo que o termo ocorra sete vezes no livro de Lucas. A ordem em que elas são usadas em Lucas também é importante.

Sabemos que o evangelho de Lucas retrata o Senhor Jesus como o Filho do Homem, e é a introdução do ministério de Paulo. Como tal, Lucas nos coloca em contato com as almas muito mais do que os outros evangelhos. Alguns até nomearam Lucas de evangelho social. Mateus nos dá a verdade do reino e, portanto, é muito mais ocupado com o reino. No entanto, o Senhor Jesus fala da Igreja em Mateus e nos diz que no futuro Ele edificaria Sua Igreja. Marcos olha para Cristo como o Servo perfeito, enquanto João traz, muito claramente, Sua divindade.

A vinda de Cristo 

As três primeiras vezes que as palavras “não temas” aparecem no livro de Lucas falam da vinda de Cristo ao mundo. Na primeira vez, o sacerdote Zacarias, enquanto se dedica em seu serviço no templo, vê um anjo diante dele, e muito naturalmente, fica perturbado e com medo. Mas o anjo lhe diz: “Não temas” (Lc 1:13), e então passa a dar-lhe notícias maravilhosas sobre um filho que lhe nasceria. O filho era João Batista, o precursor do Senhor Jesus, que iria “preparar ao Senhor um povo bem disposto” (Lc 1:17).

Na segunda vez a frase é usada pelo anjo que fala à Maria, a mãe terrenal do Senhor Jesus, dando a notícia que ela deveria dar à luz ao Messias de uma maneira milagrosa (Jo 1:30). Maria também ficou um pouco perturbada quando o anjo do Senhor apareceu, mas ela foi imediatamente instruída a não temer. A fé de Maria era simples, mas real, e ela imediatamente aceita o que lhe foi dito, dizendo: cumpra-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1:38).

Finalmente, quando nosso Senhor nasceu em Belém, mais uma vez um anjo do Senhor apareceu, desta vez para pastores que estavam vigiando seus rebanhos à noite. Eles também inicialmente “tiveram grande temor”, porque “a glória do Senhor os cercou de resplendor” (Lc 2:9). Mas o anjo imediatamente os tranquiliza dizendo: “Não temais” (Lc 2:10), e então lhes dá a notícia do nascimento d’Aquele que deveria ser o Salvador. A notícia lhes trouxe grande alegria, e eles imediatamente vão ver Aquele Salvador que tinha nascido.

Amor revelado 

A introdução de Cristo no mundo trouxe consigo a revelação do amor de Deus. O amor de Deus estava lá no Velho Testamento, pois Ele podia dizer a Seu povo Israel, mesmo depois de todo o seu fracasso: “Com amor eterno te amei” (Jr 31:3). No entanto, esse amor estava encoberto e não claramente trazido à tona para toda a humanidade. Durante o tempo do Velho Testamento após o dilúvio, os homens frequentemente aderiam à idolatria e aos deuses pagãos, que usavam o poder satânico para provocar neles o medo. Mas quando Cristo veio ao mundo, foi para revelar o amor e a graça de Deus, que é o verdadeiro antídoto para todo o temor. Assim, lemos em 1 João 4:18 (ACF) que “o perfeito amor lança fora o temor”. Nessas primeiras vezes que a frase “não temas” é usada no evangelho de Lucas está apropriadamente conectada com a vinda de Cristo ao mundo — Aquele que revelaria o amor de Deus a toda a humanidade.

Poder libertador 

Agora, porém, encontramos mais quatro ocasiões em que nosso Senhor diz ao Seu povo: “Não temas”, e nesses casos traz o poder libertador de Cristo. Primeiro Ele nos assegura do Seu amor, e do amor do Pai por nós, e depois traz Seu poder libertador.

Em Lucas 5:1-11, nosso Senhor começa a chamar discípulos para segui-Lo, e quando Ele usa o barco de Pedro como uma pequena plataforma para pregar, Ele o recompensa com um imenso carregamento de peixes. Pedro pode ter hesitado em desistir de seu sustento no negócio da pesca para seguir o Senhor, mas o Senhor o tranquiliza, dizendo-lhe: “Não temas; de agora em diante, serás pescador de homens” (Lc 5:10). Da mesma forma, se hoje, você e eu estamos no caminho da escolha do Senhor, todo o Seu poder está nos apoiando. Ele conhece as nossas necessidades, e não há o que temer quanto às necessidades da vida. O Senhor prometeu cuidar de nós.

Segundo, encontramos nosso Senhor dizendo, “não temas”, a Jairo, o príncipe da sinagoga, quando sua filha morreu. O povo pensava que o Senhor poderia curá-la enquanto ela estivesse viva, todavia achava que ressuscitar os mortos estava além de Seu poder. A mensagem do Senhor ao pai foi: “Não temas; crê somente, e ela será salva” (Lc 8:50 – ARA). O poder de Deus não foi limitado pela morte; o Senhor Jesus poderia livrar sua filha da morte e ressuscitá-la. Deus normalmente não ressuscita pessoas hoje, mas sabemos que na vinda do Senhor, Seu grandioso poder levantará todos aqueles que morreram em Cristo e os levará para estar com Ele.

Os que matam o corpo 

Terceiro, encontramos o Senhor Jesus mais uma vez lembrando a Seus seguidores que eles estavam seguindo um Cristo rejeitado. Haveria aqueles que poderiam matar o corpo, mas não poderiam tocar a alma. Além disso, nem mesmo um passarinho cairia no chão sem que o Senhor percebesse, e Ele lembra aos Seus que eles tinham mais valor do que muitos passarinhos. Mais do que isso, haverá uma recompensa em um dia vindouro para aqueles que confessam Cristo diante dos homens; e eles, por sua vez, serão confessados diante dos anjos de Deus em um dia vindouro. Vale a pena desistir de vantagens neste presente mundo, a fim de ter ganho futuro com o Senhor no céu.

Hoje, também seguimos o mesmo Cristo rejeitado, e a corrente de pensamento hoje, mesmo em países que se basearam em princípios Cristãos, é cada vez mais contrária às reivindicações de Deus. Pode muito bem ser que antes de nosso Senhor vir para nos levar para casa, possamos também sofrer perseguição por aderir à Palavra de Deus e procurar ser fiéis a Ele.

O reino vindouro 

Finalizando, no mesmo capítulo 12 de Lucas, encontramos nosso Senhor dizendo “não temas” a respeito do reino vindouro. Já apontamos que o evangelho de Lucas está mais ocupado com as almas e suas necessidades do que com o reino, mas o Senhor Jesus sabe que muitos estavam procurando um reino visível. Eles ficaram desapontados quando não o viram e sentiram como se suas esperanças estivessem caindo por terra. Haveria um reino? Sim, haverá, e num dia futuro, o remanescente piedoso da nação de Israel o herdará. Assim, o Senhor lhes diz: “Não temas, ó pequeno rebanho, porque a vosso Pai agradou dar-vos o reino” (Lc 12:32).

No entanto, ao mesmo tempo, o Senhor tece, em Suas palavras para eles, o pensamento claro da bênção celestial. Havia algo ainda mais maravilhoso do que o reino que se aproximava – a preciosidade de ajuntar tesouros no céu. Então, se o tesouro deles estivesse lá em cima, eles perceberiam que “onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração” (Lc 12:34). E hoje o encorajamento é o mesmo, seja para você e para mim, como parte da Igreja, ou para aqueles entre os judeus piedosos na tribulação. Se a morte pelo martírio nos alcançar ou a eles, nós e eles certamente herdaremos o reino do lado celestial.

Em resumo, então, não nos é prometido nada neste mundo; nosso único futuro é a glória. O amor de Deus revelado em Cristo é a nossa proteção contra o temor, e o poder libertador de Cristo está lá para nós, seja nas circunstâncias aqui embaixo ou mesmo na morte, se Deus permitir que isso nos aconteça.

W. J. Prost

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