Origem: Revista O Cristão – O Temor de Hoje

Temor no Coração dos Crentes

Em outro artigo desta edição, analisamos o temor no coração dos incrédulos – a fonte e a resposta a esse temor. Mas, e o temor no coração daqueles que pertencem a Cristo? Esse temor é sempre justificado, ou o temor no coração do crente é sempre errado?

Por um lado, Paulo podia dizer claramente a seu filho espiritual, Timóteo, que “Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, de amor e de moderação” (2 Tm 1:7). As circunstâncias sob as quais Paulo fez essa exortação são importantes, pois ele não sentiu necessidade de dizer isso quando as coisas estavam em ordem na Igreja e quando os santos estavam indo bem de forma geral. Ao contrário, ele diz isso quando estava na prisão pela última vez e quando os sinais de declínio na Igreja estavam se tornando muito evidentes. Neste mesmo capítulo, ele tem que dizer a Timóteo: os que estão na Ásia todos se apartaram de mim” (2 Tm 1:15). No segundo capítulo, ele tem que lhe dizer que a separação dos “vasos para desonra” seria necessária, e isso às vezes significaria a separação de um companheiro Cristão que estava andando mal. É sob essas tristes condições que Paulo lembra a Timóteo que Deus não nos deu o espírito de temor; em vez disso, Ele nos dá o espírito de fortaleza (poder), amor e moderação (sábia prudência).

O espírito de temor 

Nessa exortação, vemos verdadeiro encorajamento, pois embora Paulo reconhecesse o declínio que estava chegando e avisasse Timóteo sobre isso, ainda assim, não há qualquer sinal de desânimo em toda a epístola. Paulo estava confiante no que havia sido dado pelo Senhor e no que havia pregado. Ele não tinha nada de que se arrepender, e lembra a Timóteo que o Senhor era o Mesmo, ainda que alguns estivessem renunciando à verdade que Paulo havia pregado. A palavra usada aqui para ‘amor’ é a palavra frequentemente usada para amor divino, e a palavra usada para ‘fortaleza’ é a palavra frequentemente usada para o poder de Deus. É a palavra raiz da qual obtemos nossa palavra em inglês [também em português] “dinamite”. Depois, há a cautela da “sábia prudência”, que significa demonstrar amor divino e usar o poder divino da maneira correta, sob a orientação do Espírito de Deus.

No Velho Testamento, temos a advertência de que “o temor do homem armará laços, mas o que confia no SENHOR será posto em alto retiro [está seguro – ARA] (Pv 29:25 – ACF). Há o perigo de sentirmos o temor de vários acontecimentos ao nosso redor, e talvez o declínio geral das coisas, mas sentir o temor do homem também está errado. O temor do homem pode nos levar ao abandono da nossa coragem de permanecer firmes para com o Senhor, e de honrá-Lo apesar das dificuldades. Em vez disso, devemos ter a atitude tomada no Salmo 118:6 e repetida em Hebreus 13:6: “O Senhor é meu ajudador; e não temerei o que me possa fazer o homem”. Muitos crentes queridos ao longo dos tempos têm corajosamente defendido o Senhor e sofrido as consequências da fidelidade deles.

Deixe-nos, portanto, temer 

Contudo, eu acredito que, de acordo com a Palavra de Deus, há momentos e situações sob as quais o crente pode e deve temer. O primeiro deles é o temor quanto a nós mesmos. O Espírito de Deus pôde dizer: “Temamos, pois, que, porventura, deixada a promessa de entrar no Seu repouso, pareça que algum de vós fique para trás” (Hb 4:1). Além disso, o apóstolo Pedro escreve aos crentes judeus em seu tempo: andai em temor, durante o tempo da vossa peregrinação” (1 Pe 1:17).

Esse tipo de temor é bom para um crente, pois significa que não confiamos em nossa própria força, mas dependemos do Senhor. Pedro sabia muito bem como o excesso de confiança em sua vida o fez falhar e, finalmente, negar seu Senhor com juramentos e maldições. Ele estava pronto para ir até a morte pelo Senhor Jesus, mas o comentário de nosso Senhor foi: “na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26:41). Mais tarde, felizmente ele foi restaurado e foi um servo útil do Senhor, porque ele aprendeu a não confiar em sua própria força. Ele, de fato, deu a sua vida pelo Senhor quando era mais velho.

Encontramos muitos tipos de dificuldades ao nosso redor hoje, e à medida que o estado do mundo se torna mais pecaminoso e contrário ao crente, precisamos cada vez mais confiar na força do Senhor para sermos fiéis a Ele. Quando saímos em Sua força e em temor piedoso, obteremos a vitória.

O temor do Senhor 

Juntamente com isso está o que a Escritura chama de “o temor do Senhor”, e essa expressão é usada muitas vezes na Palavra de Deus. Provérbios 22:4 nos lembra que, “O galardão da humildade e o temor do SENHOR são riquezas, e honra, e vida”. Isso foi, é claro, escrito quando as bênçãos terrenais eram um sinal do favor de Deus, mas o princípio permanece o mesmo. Uma humildade saudável está ligada ao temor do Senhor, o que significa que reconhecemos nosso lugar como criaturas e, portanto, nossa responsabilidade para com Deus. Se formos tentados a cair em pecado, o temor do Senhor nos conterá e nos fará perceber duas coisas. Primeiro, vamos perceber que o Senhor quer o nosso bem e nossa bênção e que o pecado só pode trazer problemas e tristeza em nossa vida. A felicidade na nossa vida como Cristãos está ligada à obediência. Em segundo lugar, vamos perceber que há um governo de Deus que não deixará nosso pecado impune. Há consequências para o mau comportamento, e o temor do Senhor nos lembrará disso. Se pecarmos, não perdemos a nossa salvação, mas perdemos o nosso gozo de Cristo, e perdemos a Sua bênção em nossa vida.

Também ligado ao temor do Senhor está o temor de dar um passo sem a Sua orientação. Às vezes, temos confiança em nosso próprio julgamento, e é verdade que é esperado que tenhamos discernimento espiritual ao considerar as questões que surgem de tempos em tempos. No entanto, nossa própria mente e inteligência natural podem facilmente nos desviar, a menos que estejam sob o controle do Espírito de Deus e guiados pela Palavra de Deus. O discernimento espiritual vem de Deus, e isso só pode ser obtido com humildade, andando no temor do Senhor.

Temor enquanto não andava bem 

E mais, há um temor que não é normal para um crente que está andando com o Senhor, mas é permitido por Ele para nossa bênção final. Esse tipo de temor também pode ocorrer em um incrédulo, e o Senhor pode usá-lo em bênçãos neste caso também. Refiro-me ao tipo de temor que resulta do que não é julgado em nosso próprio coração.

Quando Adão e Eva pecaram, eles se esconderam entre as árvores do jardim, e a desculpa de Adão foi: “Temi, porque estava nu” (Gn 3:10). Quando Caim matou seu irmão Abel, ele reclamou ao Senhor que seu castigo era maior do que ele poderia suportar. Ele presumiu que todos os que o encontrassem o matariam. Mas por que essa suposição? Não parece que alguém tenha ameaçado matá-lo. Em vez disso, seu temor era por causa do que não estava julgado em seu próprio coração. Ele tinha matado, e projetou o seu pecado nos outros. Muitos anos depois, Deus pôde sustentar Jó diante de Satanás como sendo um homem bom, e é digno de nota que Satanás não discutiu com Deus nem levantou acusações contra Jó. No entanto, quando a angústia veio sobre ele, ele pôde dizer: “Porque aquilo que temia me sobreveio; e o que receava me aconteceu” (Jó 3:25 – ACF). Por que Jó temeu? O próprio Deus o havia declarado um bom homem, mas evidentemente havia temor em seu coração, mesmo quando tudo estava indo bem com ele.

A dificuldade com Jó era a mesma que com Adão; ele percebeu que seu coração não estava totalmente correto diante de Deus. Adão estava em uma posição mais séria, pois ele havia desobedecido a um comando direto; estar nu não era o verdadeiro problema. Jó era um homem bom, mas apesar de toda a sua bondade, ele temia a pecaminosidade de seu próprio coração e o orgulho que creditava a si a sua bondade, em vez de dar a Deus essa glória. Novamente, o Senhor pode e usa esse tipo de temor para levar os homens ao arrependimento, seja pecadores ou santos.

Temor santo quanto ao pecado 

Finalmente, mencionamos um temor com grande reverência, percebendo que pisamos em solo santo. Lemos em Hebreus 5:7 que nosso bendito Senhor, no Jardim do Getsêmani, “oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que o podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia”. Aqui estava um temor que nenhum outro poderia ter – o temor de ser “feito pecado”. Aqui estava Aquele que não podia pecar e, portanto, não precisava ter medo de cair no pecado, mas Ele estremeceu em ser feito pecado por nós. Ele não tinha medo do homem, nem temia os sofrimentos físicos da cruz, embora os sentisse como qualquer outro homem. Mas Ele temia ser feito pecado e ir para a morte, pois a morte era o salário do pecado. Esse era um temor piedoso, embora um temor que nenhum outro poderia ter.

Em resumo, então, vemos que há tipos de temor que são errados para um crente, mas alguns que estão certos, e eles são usados pelo Senhor para nos manter longe do pecado e abençoados em nossa alma.

W. J. Prost

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