Origem: Revista O Cristão – Guerra Cristã
A Espada do Espírito
A espada é o símbolo da batalha agressiva (ofensiva). As três primeiras partes da armadura nos protegem no tocante ao nosso próprio estado, as duas seguintes são defensivas e a sexta é ofensiva. Possuímos apenas uma arma para usar contra o inimigo – a Palavra de Deus. Mas, se soubermos como manuseá-la, ou, o que é igualmente importante, como desembainhá-la, nenhum inimigo poderá resistir a ela. Qualquer um pode sacar a espada carnal, ainda que não seja capaz de golpear com ela. Mas não é o caso da espada do Espírito. Só podemos sacá-la corretamente quando guiados pelo Espírito Santo. É a espada do Espírito. Ou seja, devemos estar caminhando em comunhão com Deus e no poder não entristecido do Espírito Santo para poder usá-la tanto de forma ofensiva quanto defensiva. Então, a passagem bíblica certa será sugerida à mente e aplicada com divino poder. Mera inteligência humana e capacidade humana não têm utilidade alguma nesta guerra. A Palavra de Deus é nossa única arma, porém totalmente suficiente. Ela confunde o poder de Satanás, detecta suas artimanhas, incapacita todos os adversários, silencia a voz do “eu”, traz luz à cena do conflito e descobre os enganos obscuros do inimigo.
Mas pode ser de proveito para nós mudar um pouco o foco e meditar sobre o modo como o Senhor usou a Palavra quando conversava com os judeus e quando estava em conflito contra Satanás no deserto. Aos primeiros, Ele respondeu de tal forma, com base na Escritura, que nenhum homem ousou fazer-Lhe mais perguntas; o segundo, Ele venceu com todas as suas hostes e o despojou de seus bens. Ó, por mais dessa habilidade divina de usar, à maneira do nosso Senhor, a Palavra de Deus – a espada do Espírito! Senhor, ajuda-nos a citar a passagem certa, e no momento certo, para que possamos manter nossa posição de acordo com a Palavra, para que o inimigo não obtenha vantagem sobre nós!
Batalha espiritual agressiva
Mas a espada do Espírito também é usada ativamente em nossa batalha espiritual. O Cristianismo é essencialmente agressivo em seu caráter. Julga tudo o que se opõe as suas doutrinas puras e celestiais. Trava guerra com o poderoso império da incredulidade em suas milhares de formas. O evangelho deve ser pregado a toda criatura[2] debaixo do céu e deste lado do inferno. Ele ataca abertamente a indiferença, o mundanismo, o formalismo, a infidelidade, a superstição, o erro e o vício de qualquer espécie. Não ataca nenhum corpo político, Estado ou reino, mas invade a cidadela do coração e consciência individual e procura ganhar almas, uma a uma, para o Capitão da nossa salvação, Cristo Jesus, o Senhor.
[2] N. do T. “… criação”, conforme tradução de J. N. Darby. ↑
Quando o império de Satanás é invadido e ameaçado dessa forma, podemos ter certeza de que ele não deixará nenhum estratagema sem ser testado, nenhuma força sem uso, para impedir nosso progresso e apagar a luz do nosso testemunho. Daí a contínua, a interminável, a incessante batalha. Mas nossas armas são espirituais, nossas vitórias são a paz, a afiada espada do Espírito ao penetrar a consciência subjuga o coração, trazendo a alma conquistada, em triunfo, aos pés de Jesus.
Oração no Espírito
Temos agora diante de nós as várias partes da armadura de Deus (aquilo que se refere ao nosso estado, tanto interior como exterior): julgamento próprio, afeições controladas, piedade prática, confiança em Deus, um andar pacífico e pacificador, gozo na salvação e a energia ativa do Espírito, tanto na espada quanto no cinturão, pela Palavra. Mas por trás de tudo isso há uma fonte de poder escondida, que conecta e dá força a toda a armadura, e sem a qual tudo seria inútil. É a dependência em Deus – uma dependência que se expressa na oração. “Orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito e vigiando nisso com toda perseverança e súplica por todos os santos” (Ef 6:18).
A força e a bem-aventurança dessa posição são incalculáveis. Em todas as nossas meditações, não há ponto mais digno do nosso mais profundo e minucioso estudo. Coloca a alma em conexão com Deus e em dependência d’Ele. Todas as nossas batalhas devem ser travadas desta forma, e, caso sejam, todas as nossas batalhas serão vitoriosas. Observe por um momento a estrutura desse versículo notável. É “orando em todo o tempo” – em todas as ocasiões, habitual e completa dependência. E “no Espírito” – no poder do Espírito Santo, em comunhão. E “vigiando nisso com toda perseverança” – ativo, vigilante. E “súplica por todos os santos” – zelo, interesse pelos outros, afeição que transforma tudo em oração. Esta é a torre forte de toda alma. Nem todos têm dons para o ministério público – para lutar nas linhas de frente – mas todos têm o privilégio de assim poderem se aproximar de Deus e ali permanecer.
Sejamos, pois, vigilantes e diligentes no uso desta arma. Veja e evite tudo o que possa nos tornar não espirituais e nos afastar de Deus ou interromper nossa comunhão com Ele. A nossa força está na comunhão. Que o espírito de inteira dependência em Deus nos caracterize enquanto filhos na família, membros no corpo e servos no reino.
Things New and Old, Vol. 14 (adaptado)