Origem: Revista O Cristão – Edificando
A Silenciosa Construção do Templo de Salomão
Quando o bispo Heber leu seu belo poema, “Palestina”, em manuscrito, para o Sir Walter Scott, seu amigo observou que, ao falar do templo de Salomão, ele havia esquecido de se referir ao silêncio que prevaleceu durante sua construção. O poeta imediatamente se retirou por alguns minutos e introduziu as seguintes belas linhas:
“Nenhum aço de operário, nenhum pesado machado ressoou;
Como uma alta palmeira, a silenciosa estrutura brotou.”
Essa extraordinária circunstância tem sido frequentemente observada. É vista como uma indicação do profundo senso que Salomão tinha do caráter sagrado da obra, e deu origem a muitas meditações piedosas e úteis. Outra pessoa comenta desta forma: “Era para ser o templo do Deus da paz, portanto nenhuma ferramenta de ferro deveria ser ouvida nele: tranquilidade e silêncio convêm e são propícios aos exercícios religiosos. A obra de Deus deveria ser feita com o máximo de cuidado e o mínimo de barulho possível; o templo foi derrubado com machados e martelos; os que fizeram isso bramaram ‘no meio dos lugares santos’ (Sl 74:4,6), mas ele foi construído em silêncio. Clamor e violência geralmente atrapalham, e nunca avançam a obra de Deus”. Esses pensamentos são profundamente dignos de consideração, especialmente daqueles que nunca conseguem afirmar suas próprias opiniões sem atacar violentamente as dos outros. Nem fazem qualquer coisa para Deus sem convidar a multidão para vir ver o zelo que eles têm pelo Senhor dos Exércitos.
As pedreiras de Jerusalém
O fato em si, no entanto, recebeu recentemente uma notável confirmação de sua veracidade. O Sr. Douglas, um cavalheiro escocês, escrevendo para o Athenaeum em 3 de maio passado, afirma que, durante uma visita recente a Jerusalém, ele soube por um hebreu muito inteligente que havia extensas pedreiras debaixo da cidade e que havia evidências abundantes de que dessas pedreiras foram obtidas as pedras empregadas na construção e reconstrução do templo. Ele as havia visitado algum tempo antes, com dois ingleses, e descobriu que as pedreiras continham materiais suficientes para construir os muros e a cidade de Jerusalém. Extraímos a seguinte afirmação:
“Quando suficientemente em seu interior, nos vimos em uma imensa abóbada e em cima de uma pilha que, de forma bastante evidente, era formada pelo acúmulo das minúsculas partículas provenientes do acabamento final dos blocos de pedra. Ao descer essa pilha, entramos, por um grande arco, em outra abóboda, igualmente vasta e separada da primeira por enormes pilares. Esta abóbada, ou pedreira, descia gradualmente até outra e depois outra, cada uma separada da outra por imensas divisórias de pedra, que tinham sido deixadas para reforçar a sustentação dos tetos em forma de abóboda. Em algumas das pedreiras, os blocos de pedra que tinham sido extraídos jaziam parcialmente lavrados; alguns dos blocos ainda estavam presos à rocha; em alguns, os trabalhadores tinham somente começado a esculpir e, em outros, a linha do arquiteto era nítida na face lisa da parede da pedreira. O modo como os blocos foram retirados era semelhante ao usado pelos antigos egípcios, como visto nas pedreiras de arenito de Hagar Tilsilis e nas pedreiras de granito de Sevene. O arquiteto primeiro desenhou o contorno dos blocos na face da pedreira; os trabalhadores, então, os esculpiram em toda a sua espessura, separando-os inteiramente uns dos outros e deixando-os presos por suas cascas apenas à parede sólida. Passamos entre duas e três horas nessas pedreiras. Nossas inspeções foram, no entanto, principalmente no lado em direção ao Vale de Josafá. Nosso guia informou que mais a oeste ficava uma pedreira do peculiar mármore avermelhado tão comumente utilizado como calçamento nas ruas de Jerusalém. A partir do local onde nós entramos, a descida era gradual; entre algumas das pedreiras, porém, havia amplos lances de degraus, cortados da rocha sólida. Eu não tinha meios de avaliar a distância entre os tetos das abóbadas e as ruas da cidade, exceto que baseado na descida a espessura devia ser enorme. O tamanho e a extensão dessas escavações confirmaram plenamente a opinião de que elas deram pedras suficientes para construir não apenas o templo, mas toda a Jerusalém.”
Os trabalhadores de Salomão
“A situação dessas pedreiras – o modo como as pedras foram retiradas – e a evidência de que as pedras foram totalmente preparadas e esculpidas antes de serem removidas podem provavelmente lançar luz sobre os versículos da Escritura em que é dito: ‘E [Salomão] fez deles setenta mil carreteiros e oitenta mil cortadores na montanha, como também três mil e seiscentos inspetores, para fazerem trabalhar o povo’ (2 Cr 2:18). E outra vez: ‘Edificava-se a casa com pedras preparadas; como as traziam, se edificava, de maneira que nem martelo, nem machado, nem nenhum outro instrumento de ferro se ouviu na casa quando a edificavam’” (1 Rs 6:7).
Dificilmente poderia ter sido previsto que, em um período tão distante daquele em que o templo foi erigido, qualquer evidência surgiria para assim confirmar a declaração sobre o silêncio observado na construção. No entanto, esse testemunho veio, por assim dizer, dos mortos para confirmar a palavra da verdade.
Bible Treasury, Vol. 1 (1868)
Restabelecimento do remanescente
O livro de Esdras relata a história dos judeus que retornam para a sua pátria após 70 anos sob o domínio dos reis da Babilônia. Ele demonstra os caminhos de Deus com um remanescente que retorna após o fracasso geral naquilo que havia sido a eles confiado. O processo começou com a ordem de Ciro, rei da Pérsia, para que os judeus retornassem para Jerusalém e reedificassem a casa do seu Deus. No segundo versículo de Esdras, Ciro diz que o Deus do céu lhe havia dado os reinos da Terra e o havia encarregado de edificar uma casa em Jerusalém. Ele convida o povo judeu para ir a Jerusalém “e edifique a casa do SENHOR, Deus de Israel”. O convite era individual, e muitos responderam juntamente com suas famílias. Outros os ajudaram com bens, mas ficaram na Babilônia. Cerca de 50.000 voltaram, mas isto era apenas um retorno parcial – um remanescente. Ciro enviou com eles utensílios do templo que tinham sido mantidos na Babilônia desde o cativeiro. Cada pessoa foi incumbida de algo para levar de volta a Jerusalém.
Eles edificam um altar
A primeira coisa que fizeram ao chegarem à cidade arruinada de Jerusalém foi edificar um altar para o Senhor. Eles celebraram a festa dos tabernáculos e começaram os holocaustos diários, com outros sacrifícios e ofertas. Louvaram ao Senhor e começaram a construir as fundações do templo. Não lemos sobre qualquer oposição no capítulo 3, mas isso não durou muito. Os inimigos na terra enfraquecem as mãos dos edificadores e contratam conselheiros contra eles. A continuação nos capítulos 4 a 6 é uma lição de como Deus trabalha com os governantes do mundo em relação ao remanescente do Seu povo para a sua preservação e testemunho para o Seu nome.
A ordem para parar
Os adversários de Judá levantaram oposição ao longo dos sucessivos reinados dos reis da Pérsia. Durante o curto reinado de Assuero (Esmérdis), uma carta foi enviada a ele pelos adversários dos homens de Judá, e, como consequência, o rei emitiu uma ordem para que parasse a construção. Os adversários prontamente subiram para Jerusalém e fizeram os homens de Judá cessarem pela força e poder. Então a construção cessou até o segundo ano do reinado de Dario (Histaspes). Embora a ordem histórica dos eventos com relação a esses reis não esteja claramente evidente, está claro que Deus permitiu repentinas mudanças de reis no império medo-persa naquele período. Entre outras razões, isso aconteceu em prol do remanescente de Israel em Jerusalém.
Agora podemos perguntar: por que o Senhor permitiria uma dificuldade como essa ordem do rei para parar a construção? Por que essa mudança do decreto original? Não havia Deus movido Ciro a abrir a porta para os judeus voltarem e edificarem o templo? Deveriam eles se submeter à autoridade dos reis gentios? Este foi um teste vindo de Deus. Ele estava esquadrinhando o coração deles para prová-los e para fortalecer a fé deles n’Ele. Não era suficiente que os judeus edificassem somente segundo as diretrizes de Ciro. A reedificação do templo devia ser em uma base mais sólida. Eles deviam agir com fé em Jeová. Eles eram o povo de Deus, representantes de Jeová. Ele os estava restabelecendo como Seus sacerdotes em Jerusalém, mas os reis gentios continuariam a governar. Deus estava sobre todos eles. Os judeus, sendo um remanescente buscando recuperar o que havia sido perdido, não podiam simplesmente retornar e continuar a partir de onde estavam as coisas antes do cativeiro. Deus os havia castigado e removido do lugar privilegiado que tinham, por causa do pecado e do fracasso. Essas coisas precisavam ser tratadas. Deus estava usando os adversários deles para fazer com que eles tratassem essas questões. Ele permitiu que o rei ordenasse uma parada na obra. Eles precisavam comprar a verdade.
As profecias de Ageu e Zacarias
Naquele tempo, Ageu e Zacarias profetizaram, em nome do Deus de Israel, aos que estavam em Jerusalém e Judá. Ageu disse-lhes, antes de qualquer coisa, “Considerai os vossos caminhos” (Ag 1:5 – ACF). Eles continuaram edificando suas próprias casas, mas não a do Senhor. Então Ageu transmitiu a mensagem do Senhor: “Eu sou convosco” (Ag 1:13). Depois de passar por esses exercícios de alma, eles receberam um mandato diretamente do Senhor. Era apropriado que eles obedecessem e prosseguissem com a construção. Deus comunicou a eles por meio dos dois profetas. Ele podia dar ordens por meio dos profetas, bem como por meio dos reis dos gentios. Isso levanta a questão: Deveriam eles obedecer ao rei? Ou deveriam obedecer ao profeta? Zorobabel e Jesua, juntamente com os profetas, começaram a edificar novamente.
“Quais são os nomes?”
Tatenai, o governador da região vizinha, ficou sabendo disso e veio perguntar quem lhes havia dado ordem para edificar. Eles queriam saber os nomes daqueles que estavam edificando, sem dúvida, para que pudessem ser denunciados. A resposta dada à pergunta mostra o fruto do exercício pelo qual eles passaram. Eles simplesmente deixam da forma como havia sido colocado: “E quais são os nomes dos homens que construíram este edifício?”. Em outras palavras, os nomes dos construtores eram insignificantes. Nenhum nome é dado. A verdadeira questão era a ordem para edificar. Para fundamentar isso, os homens de Judá devem voltar e reconhecer sua história passada. Então eles dizem: “Nós somos servos do Deus dos céus e da terra e reedificamos a casa que foi edificada muitos anos antes; porque um grande rei de Israel a edificou e a aperfeiçoou. Mas, depois que nossos pais provocaram à ira o Deus dos céus, Ele os entregou nas mãos de Nabucodonosor, rei de Babilônia, o caldeu, o qual destruiu esta casa e transportou o Seu povo para Babilônia. Porém, no primeiro ano de Ciro, rei de Babilônia, o rei Ciro deu ordem para que esta Casa de Deus se edificasse” (Ed 5:11-13). Este foi um reconhecimento da comunhão que tinham com Deus e do fracasso deles, no passado, nessa comunhão, o qual trouxe o juízo de Deus sobre eles. O pequeno remanescente não assumiu um lugar elevado em relação à sua própria justiça; antes, eles assumiram o lugar de servos do Deus do céu e da Terra. Foi Ele que fez Nabucodonosor levá-los. Agora eles haviam retornado debaixo da autoridade de Deus e da de Ciro. Essa é a posição que todo remanescente deve tomar.
A resposta do rei
Quando esses assuntos foram enviados em uma carta ao rei Dario, que havia recentemente se tornado governante, o rei solicitou uma busca nos arquivos. Verificou-se que, de fato, Ciro havia feito um decreto a respeito da casa de Deus em Jerusalém. O decreto foi feito cerca de 17 anos antes. Então, o rei enviou uma resposta de volta para Tatenai, o governador. Foi dito a Tatenai, em termos claros, que permitisse que os judeus edificassem; além disso, a ele foi ordenado que ajudasse com as despesas. Provisões também deveriam ser dadas para a construção, incluindo animais para os “holocaustos ao Deus dos céus, trigo, sal, vinho e azeite, segundo o rito dos sacerdotes que estão em Jerusalém” (Ed 6:9 – ACF). “O coração do rei [está] na mão do Senhor”, e o Senhor moveu o coração dele para permitir que a construção continuasse.
A posição do remanescente
O remanescente de judeus tomou o seu devido lugar ao reconhecerem o seu fracasso passado e voltarem-se para o Senhor. Ele lhes deu a Sua palavra pelos profetas para edificarem, e eles começaram a edificar, mesmo sem outra ordem do rei. Ele honrou a fé deles. Quantas vezes gostamos de resolver os problemas com nossas próprias mãos quando as coisas dão errado. Mas eles não enviaram uma carta ao rei para contradizer a carta de seus inimigos. Por outro lado, quando a adversidade vem, podemos simplesmente desistir, fazendo muito pouco, ou nada. Eles se levantaram e edificaram quando tudo era contrário. O pequeno remanescente demonstrou sua fé no Senhor, tendo julgado em si mesmos o que seus antepassados não haviam julgado. A ordem para parar de edificar foi permitida para que tudo isso se concretizasse.
Nosso lugar no testemunho Cristão hoje é como o do remanescente dos judeus que retornaram a Jerusalém. Tal lugar não pode se basear na premissa de que somos melhores do que os outros, ou temos melhor ensino e piedade. Tampouco devemos desistir de edificar por falta de ajuda de outros. Deus quer que edifiquemos Sua casa. Ele nos chamou para edificar (1 Co 3:9-10; 2 Tm 2:15). Quando a oposição vem, devemos olhar para Ele com fé. Ele disse, “Pois onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles” (Mt 18:20). Individualmente, quando O ouvimos dizer, “Eu estou convosco”, podemos contar com Ele para abrir as portas, como Ele disse àqueles que guardaram a Sua palavra e não negaram o Seu nome em Filadélfia. “Eis que diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar” (Ap 3:8).