Origem: Revista O Cristão – Edificando

Edificando-vos a Vós Mesmos

Os crentes instintivamente sentem a necessidade de ser edificados. Sua alma procura por alimento, e eles estão cientes de que seu homem interior requer renovação; eles, portanto, desejam conhecer as coisas de Deus conforme estabelecidas nas Escrituras da verdade para proveito e bênção deles. Mas todos precisam aprender segundo o princípio de que Deus é Aquele que dá, e nós somos apenas receptores; que nada temos em nós mesmos e, ainda assim, possuímos todas as coisas em Cristo.

Existem três maneiras pelas quais a edificação nos é apresentada nas epístolas:

1. Temos dons de mestres, pastores, etc., provenientes de um Cristo que ascendeu em glória, para o aperfeiçoamento dos santos, tendo em vista a obra do ministério, e para a edificação do corpo de Cristo (Ef 4:12).

2. Temos os exercícios saudáveis dos diferentes membros do corpo, ajustados e ligados pelo auxílio de todas as juntas a partir da Cabeça, fazendo o aumento do corpo para edificação de si mesmo em amor (Ef 4:16).

3. Temos a edificação própria, ou edificar-se a si mesmo, em nossa santíssima fé (Jd 20). É este terceiro caráter da edificação que consideramos ser de tal importância, neste momento, que nos propomos a fazer algumas observações.

Edificação própria 

Muitas vezes acontece de, onde houve o ministério mais fiel e mais espiritual da verdade, haver aqueles que tiraram pouco proveito de tais vantagens. Por que isso acontece? Não seria porque confiaram em ser edificados por outros e negligenciaram edificarem-se a si mesmos? Poucos de nós temos proveito duradouro de qualquer ministério, a menos que recebamos a verdade da boca de Deus. Quando há a ausência de tal exercício de alma diante de Deus, muitas vezes isso indica alguma confiança carnal em vez de um humilde estado de dependência do Senhor. Fazemos bem em refletir a fundo se estamos lidando intelectualmente com a verdade divina ou sendo guiados e ensinados pelo Espírito de Deus.

Deveria ser uma questão diária o quanto estamos ocupados em edificarmo-nos a nós mesmos na nossa santíssima fé. Todos sabemos da necessidade que nosso corpo tem de limpeza contínua e de receber frequentes suprimentos de alimentos, mas e a nossa alma? Estamos procurando meticulosamente nos manter incontaminados no mundo? O julgamento próprio diante de Deus é algo habitual em nós? Vamos à Palavra da verdade eterna manhã após manhã e a ingerimos como alimento para a renovação do nosso homem interior? Se assim for, então pode ser que estejamos nos edificando na nossa santíssima fé. E podemos ter certeza de que aqueles que estão se edificando a si mesmos valorizarão grandemente ser edificados por outros e terão proveito com as ministrações divinamente dadas destes.

Além disso, esta exortação quanto a nos edificarmos a nós mesmos, que ocorre em Judas, parece levar consigo uma alta voz para nós, pois Judas traça a ruína da Igreja desde o seu início, e no final ele se dirige àqueles que estão ao lado de Deus neste tempo de declínio e fracasso. Ele diz: “Vós, amados, edificando-vos a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé”. Um povo fiel ao Senhor em um tempo mau é assim reconhecido e chamado a ser diligente na edificação de si mesmo.

A vossa santíssima fé 

A fé também não é falada aqui, como no início desta epístola, como “a fé que uma vez foi dada aos santos”, mas como “a vossa santíssima fé”. Não é meramente que devemos estar mantendo um conjunto de princípios ou doutrinas; mas recebendo em nosso coração o ministério das abundantes riquezas da graça divina. Somos, assim, libertados da autoridade das trevas, transportados para o reino do Filho do Seu amor e, pelo Espírito, unidos a Ele onde Ele agora está. Uma obra foi feita por Aquele que nos libertou de nossa antiga posição em Adão e nos fez sentar juntamente nos lugares celestiais em Cristo Jesus. Somos, assim, trazidos a uma posição totalmente nova, de modo que agora, em Cristo Jesus, nós, que estávamos longe, somos aproximados pelo sangue de Cristo, trazidos à uma posição de favor no Amado e abençoados com todas as bênçãos espirituais em Cristo. Quão verdadeiro é que recebemos abundância de graça e o dom da justiça e reinaremos em vida com Cristo.

A partir desse simples olhar para a verdade, é de admirar que ela seja chamada “a vossa santíssima fé”? Pode alguma bênção conhecida na Terra exceder a isso? Cada passo também do nosso caminho foi considerado para que possamos nos regozijar na esperança da glória, como herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo, e esperar pelo Filho de Deus vindo do céu. Sem dúvida, “a fé” é propriedade comum de todos – “a fé que uma vez foi dada aos santos” – para benção comum de todos. E é a nossa fé, aquela que mais particularmente diz respeito a nós e ministra a nós – “a vossa santíssima fé”; aquela maravilhosa revelação da graça divina, que se fez conhecida quando Jesus veio e declarou o Pai, e, segundo o Seu conselho e propósito, realizou a redenção.

Testemunho divino misturado com a fé 

É, então, na nossa santíssima fé que devemos nos edificar, meditando na Palavra de Deus, com a direção e ensino do Espírito, e tornando-a nossa, misturando a fé com este testemunho divino. A pergunta tão repetida, portanto, deve estar com todo crente: “Quanto estive ocupado hoje em me edificar?”, pois “o homem interior é renovado de dia em dia” (KJV). Sem dúvida, ele também será alguém que ora, pois é acrescentado: “Orando no Espírito Santo”. E onde há realidade, aqueles que oram estarão satisfeitos com nada menos que orar de acordo com a direção e os desejos do Espírito Santo, os quais, nós sabemos, serão sempre de acordo com a verdade. Também nos mantermos no amor de Deus é indispensável; pois toda a nossa paz e força fluem da consciência de que somos objetos do amor divino. Finalmente, podemos estar “esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo, para a vida eterna” (v. 21). Onde há a ausência do edificar a nós mesmos, não devemos ficar surpresos se a oração declina, se o gozo do amor de Deus é pouco conhecido e a expectativa da misericórdia de nosso Senhor se torna fraca. É fácil seguir em uma rotina de ordem exterior, porém de que tudo isso vale se o Senhor não tem nosso coração e não estamos nos edificando sobre a nossa santíssima fé?

Separação 

Nós não estamos realmente nos edificando se somos descuidados em relação à obediência à Palavra de Deus. Por exemplo, não devem os que são filhos de Deus se recusar a se colocar em jugo com os incrédulos? Mas o que acontece com aqueles que não tomam esse lugar de separação, mas estão mais ou menos “sob jugo” com aqueles que eles sabem que são incrédulos? Geralmente não é manifesto que, em vez da bênção de Deus, eles veem muitos de seus planos se frustrarem e suas expectativas nunca se concretizarem? Eles estavam esperando ter a bênção do Pai sem andar em obediência à vontade d’Ele.

A mesma coisa é verdade no que diz respeito ao mundo. É-nos dito: “Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” (1 Jo 2:15). Mesmo um filho de Deus não terá o gozo desta preciosa relação com o Pai, se o seu coração amar aquilo que está sob o juízo d’Ele. Mas onde há aqueles que se recusam a estar “sob jugo” com os incrédulos, não apenas no que diz respeito ao casamento, mas também no que diz respeito a tudo o mais (enquanto sempre prontos para fazer o bem a todos os homens), mas saem do meio deles e recusam todas as associações impuras, esses, então, conscientemente, desfrutam da bênção de seu Pai. Eles veem aquelas preciosas palavras se cumprirem em sua feliz experiência: “Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai, e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso” (2 Co 6:17-18).

H. H. Snell (adaptado)

Compartilhar
Rolar para cima