Origem: Revista O Cristão – Edificando

Um Edifício Inacabado

Em outros artigos desta edição de O Cristão, vimos vários aspectos sobre edificar, conforme delineado na Palavra de Deus. Um desses tipos de edificação diz respeito a nos edificarmos na nossa “santíssima fé” (Jd 20). Encontramos uma ilustração relacionada, porém ligeiramente diferente, sobre edificar, no evangelho de Lucas, que diz o seguinte:

“Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver se tem com que a acabar? Para que não aconteça que, depois de haver posto os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a escarnecer dele, dizendo: Este homem começou a edificar e não pôde acabar.” (Lc 14:28-30)

Nessa passagem, o Senhor Jesus está falando de modo solene às multidões que O seguiam quando Ele esteve aqui neste mundo como Homem, pois muitos ficaram impressionados com Suas graciosas palavras e Seus milagres. Ele está salientando a eles que, enquanto a salvação é um dom de Deus, o discipulado tem um custo envolvido. Aqueles que quisessem seguir o Senhor Jesus estariam seguindo um Cristo rejeitado e deviam estar preparados para desistir de tudo o mais, se necessário, a fim de dar a Ele o primeiro lugar em sua vida. Eles deviam estar prontos para “aborrecer”, não apenas seus parentes mais próximos, mas também a própria vida, se quisessem ser Seus discípulos (Lc 14:26). Sem dúvida, alguns acharam isso um preço alto a pagar, e lemos em João 6:66 que, após o Senhor Jesus revelar claramente ao povo que Ele deveria sofrer e morrer, “muitos dos Seus discípulos tornaram para trás e já não andavam com Ele”.

O testemunho dado 

Na passagem diante de nós em Lucas 14, o Senhor Jesus usa duas ilustrações para mostrar o que envolvia segui-Lo e os perigos que isso acarretaria. A primeira dessas ilustrações está em edificar, enquanto a segunda é a guerra. Não falaremos sobre a guerra por enquanto, mas nos concentraremos no edificar. Edificar aqui refere-se à própria vida e como o nosso Cristianismo aparenta para o mundo ao nosso redor. Será que o que edificamos é consistente com o que o nosso Senhor e Mestre ensina? Será que somos vistos pelo mundo à nossa volta como seguindo Aquele cujo nome afirmamos levar? É instrutivo notar que o edifício descrito aqui é uma torre – algo que pode ser visto de longe. Na Escritura, uma torre às vezes é uma figura de testemunho para este mundo.

Em Lucas 14, grandes multidões seguiam o Senhor Jesus, sem dúvida atraídas por Seus milagres e Sua graça, e isso traz o evangelho diante de nós. Nosso Senhor não veio para condenar o mundo, mas para que “o mundo fosse salvo por Ele” (Jo 3:17). No entanto, como já mencionamos, Ele precisa então trazer diante dessas multidões o custo de seguir Aquele que foi rejeitado.

Um bom final 

Talvez todos nós tenhamos visto uma casa ou um edifício de algum tipo que foi iniciado, mas não terminado. Como lemos em nosso capítulo, as pessoas geralmente sabem quem iniciou o edifício e, sendo o homem o que ele é, começam a zombar daqueles que iniciaram, mas não conseguiram terminar. A visão de um edifício inacabado traz vergonha e desonra aos responsáveis.

Da mesma forma, muitos amados crentes começam bem no caminho Cristão, mas então descobrem que o custo é alto. A reprovação deste mundo, a falta de respeito e a perda de oportunidades se combinam para fazer com que o edifício seja abandonado. Lembro-me de uma situação assim. É sobre um jovem que cresceu numa assembleia local e que tinha começado bem. Ele era bem mais velho do que eu, em pelo menos 45 anos. Ele estava envolvido com uma pequena livraria Cristã, pregava o evangelho e, em todos os sentidos, andava bem como Cristão. Mas ele era bonito, inteligente, um excelente empresário e, acima de tudo, possuía maneiras exemplares e traquejo social que faziam com que ele encontrasse favor neste mundo. Ele acabou abandonando seu serviço Cristão, deixou de frequentar a assembleia local e, por 40 anos, mergulhou nas atividades empresariais e sociais deste mundo. Fico feliz em dizer que, mais tarde em sua vida, quando o Senhor permitiu que ele contraísse uma grave doença que lhe deu apenas alguns anos de vida, ele felizmente foi restaurado. Mas que perda para aqueles 40 anos! Lembro-me bem de como ele exortou seus filhos já adultos a não seguirem o mesmo caminho.

A força do Senhor 

Surge a questão: Conseguimos ter recursos suficientes para terminar o edifício na nossa própria força? A resposta é claramente: Não. Se tentarmos na nossa própria força percorrer o caminho que o Senhor traçou para nós, sempre falharemos. Sempre deixaremos a torre inacabada, e o mundo zombará. O apóstolo Pedro teve que aprender isso da maneira mais difícil, quando disse com tamanha confiança que, mesmo que tivesse que morrer com o Senhor, ele nunca O negaria. Todos sabemos o que aconteceu, pois Pedro teve que aprender que sua própria determinação e força nunca resistiriam neste mundo.

Qual, então, é a reposta? Precisamos da ajuda do Senhor e da força do Senhor. Só Ele poderia passar por tudo o que o homem fez a Ele e permanecer fiel. Agora Ele quer nos dar a Sua força, para que possamos completar o edifício. Pedro aprendeu isso e mais tarde em sua vida entregou a vida pelo Senhor, porque ele andou na força do seu Senhor, não na sua própria. Muitos outros amados crentes completaram sua carreira, como fez o apóstolo Paulo, porque, como ele mesmo disse, “Posso todas as coisas n’Aquele que me fortalece” (Fl 4:13). Ele também pôde nos dizer que o Senhor disse a ele: “o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co 12:9). Quando percebemos nossa própria fraqueza, olhamos para o Senhor em busca de Sua força e então podemos completar o edifício, para Sua glória.

W. J. Prost

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