Origem: Revista O Cristão – Passando a Tocha

Os Reis de Judá e Israel

O título desta edição de “O Cristão” é “Passando a Tocha”, e talvez em nenhum lugar encontremos esse evento com mais frequência do que na sucessão de reis e rainhas. Os monarcas estão se tornando cada vez mais escassos no mundo do século XXI, mas por milhares de anos essa foi a forma aceita de governar uma nação ou um império. Normalmente, reis e rainhas seriam sucedidos por seus filhos, ou ocasionalmente por uma filha, e o que o monarca reinante passava para seu filho ou filha era muito importante.

Desde que os tempos dos gentios começaram com Nabucodonosor e o império babilônico em 606 a.C., Deus geralmente cumpriu os Seus propósitos permitindo que “o mais vil dos homens” governasse (Dn 4:17 – KJV). No entanto, podemos ser muito gratos que tenha havido exceções a essa forma e que, algumas vezes, bons governantes puderam ser de ajuda para aqueles que os sucederam.

Na história de Israel e Judá, vemos igualmente bons e maus governantes. Na história de Israel após a divisão da nação nos tempos de Roboão e Jeroboão, nunca houve um rei realmente piedoso, embora alguns tivessem certo grau de reverência a Jeová. Alguns, de fato, realizaram Sua vontade de forma limitada, mas nenhum realmente reverteu a séria idolatria que foi introduzida por Jeroboão.

Em Judá, houve uma variedade de bons reis, mas também alguns que eram decididamente maus. Vejamos alguns desses reis e que tipo de legado moral eles passaram para seus sucessores.

Os caminhos de Davi seu pai 

Se começarmos com Davi, veremos que, em geral, ele passou uma boa tocha. É verdade que ele falhou seriamente em sua vida, mas, ao contrário de alguns de seus descendentes, ele sempre se arrependeu e voltou para o Senhor. Uma pessoa reta não é aquela que nunca falha, mas sim aquela que não finge ser o que não é. Como resultado, descobrimos que no caso de Josias, que ascendeu ao trono de Judá centenas de anos depois, foi dito a seu respeito: “E fez o que era reto aos olhos do SENHOR e andou nos caminhos de Davi, seu pai” (2 Cr 34:2). Aquela boa tocha que Davi passou ainda estava queimando quase 400 anos após Davi tê-la passado.

Um dos notáveis descendentes de Davi foi um rei piedoso chamado Josafá, que começou a reinar cerca de 100 anos depois da morte de Davi. Josafá nunca conhecera Davi, mas ele tinha um pai piedoso, Asa, que, sem dúvida, o havia criado nos caminhos do Senhor. Josafá realmente amava o Senhor e foi muito abençoado por causa disso, mas ele teve uma falha gritante que coloriu seu legado de uma forma errada.

Ele desejava muito estar em boas relações com as dez tribos, mesmo que Acabe, o rei delas, fosse um homem ímpio. Ele foi à guerra aliado a Acabe e, embora o Senhor graciosamente o tenha preservado, essa aliança com um rei ímpio resultou no casamento de seu filho, Jorão, com a filha de Acabe. Quando Josafá morreu, Jorão tornou-se rei, abandonou o caminho do Senhor e abraçou a idolatria. No fim, o Senhor o feriu com uma doença terrível, e ele morreu quando tinha apenas 40 anos. Esta nociva falha de Josafá teve outros resultados, pois o filho de Jorão, Acazias, também pereceu nas mãos de Jeú, que o Senhor levantou para destruir a casa de Acabe. Assim como uma boa tocha pode ter consequências de longo alcance para bênção, do mesmo modo uma tocha ruim pode ter efeitos de longo prazo para o mal.

Ele passou uma tocha ruim 

Chegamos agora a um rei de Judá extremamente ímpio chamado Manassés. Ele era filho de outro rei piedoso, Ezequias, mas não conseguiu pegar a boa tocha que lhe foi deixada por seu pai. O longo reinado de 55 anos de Manassés foi caracterizado por um retorno à idolatria e mal de todo tipo. Ele, evidentemente, reverteu todo o bem que seu pai havia feito, e a Escritura registra que ele “fez errar a Judá […] de maneira que fizeram pior do que as nações que o SENHOR tinha destruído de diante dos filhos de Israel” (2 Cr 33:9 – ARA). Mais tarde em sua vida, Manassés se arrependeu e se voltou para o Senhor, mas o estrago já estava feito. Ele passou uma tocha ruim para seu filho Amom, acerca de quem está registrado que “andou em todo o caminho em que andara seu pai; e serviu os ídolos, a que seu pai tinha servido” (2 Rs 21:21).

Ele reverteu os ornamentos do mal 

Mas Deus estava com Seus olhos sobre a casa de Davi e, como já observamos, Ele poderia levantar um rei piedoso, mesmo que esse mesmo rei possuísse antecedentes maus. Josias tornou-se rei quando tinha apenas oito anos de idade e teve Amom por pai e Manassés por avô. No entanto, está registrado que ele “fez o que era reto aos olhos do Senhor” (2 Rs 22:2). Seu reinado se destacou pela fidelidade ao Senhor e por um desejo de seguir a lei do Senhor perfeitamente. Como tal, ele é uma das luzes mais brilhantes da história dos reis de Judá. Ele reverteu todos os ornamentos da idolatria que foram construídos ao longo de muitos anos, purificou a casa do Senhor e removeu os ídolos dos altos que datavam do tempo de Salomão. Ele celebrou uma maravilhosa Páscoa, tal como não se via desde os dias de Samuel.

Josias não recebeu uma boa tocha, mas, em vez de levar uma ruim, ele seguiu o Senhor e deixou uma boa tocha para os seus próprios descendentes. Infelizmente, eles não a levaram como deveriam, e assim sua posteridade não seguiu o Senhor. Foi sob o governo deles que Judá foi levado para o cativeiro.

Por fim, veremos dois dos reis de Israel, não como o reino era antes de ser dividido, mas como as dez tribos. As dez tribos são usadas frequentemente para se referir a Israel na história após a divisão da nação.

O rei que fez Israel pecar 

O primeiro rei das dez tribos após a divisão foi Jeroboão. O Senhor lhe havia prometido o reino alguns anos antes da morte de Salomão. Ele recebeu uma estrita promessa do Senhor, através do profeta Aías, de que seu reino e dinastia seriam firmemente estabelecidos se ele seguisse o Senhor e andasse nos caminhos de Davi. Mas quando Jeroboão se tornou rei, ele raciocinou que se o povo subisse a Jerusalém para adorar, eles provavelmente iriam querer estar de novo sob o governo de Roboão, visto que Jerusalém permanecia sob o controle de Roboão. Jeroboão não confiou na palavra do Senhor, que disse que edificaria a ele “uma casa firme” se ele Lhe fosse fiel. Ele então fez dois bezerros de ouro e erigiu falsos altares e uma falsa adoração em Israel, em Dã e Betel.

Deus nunca esqueceu esse notório afastamento da lei de Moisés e a afronta ao próprio Deus, com a introdução das próprias ideias e métodos de Jeroboão na adoração a Deus. Ao se referir a muitos outros reis de Israel que seguiram Jeroboão, o Espírito de Deus fala constantemente deles como seguindo “Jeroboão, filho de Nebate, que fez Israel pecar”. Esta frase é repetida, com pequenas variações, 20 vezes na história dos reis subsequentes de Israel. Nenhum deles jamais reverteu de fato essa idolatria ou se livrou dos dois bezerros de ouro que Jeroboão fez. A tocha de Jeroboão era ruim, e ele nunca se arrependeu disso. Ela exerceu uma influência maligna por centenas de anos.

O rei que exterminou Acabe 

O último rei sobre o qual falaremos é Jeú. À primeira vista, parece que ele era um homem piedoso. Ele foi ungido rei por Eliseu, que agiu conforme a palavra do Senhor e deu a ele um encargo de lidar com a ímpia casa de Acabe. Jeú era um homem de ação e foi implacável ao se livrar da família de Acabe, incluindo Acazias, rei de Judá, cuja mãe era filha de Acabe. Ele exterminou todos os que tinham parentesco com Acabe, e o Senhor o honrou por isso.

Jeú também lidou com os adoradores do ídolo Baal de forma decisiva convocando-os, porém dizendo-lhes, como uma artimanha, que seria uma reunião religiosa para Baal. Então ele matou todos os que se juntaram e destruiu a casa de Baal. A Escritura registra que Jeú “destruiu a Baal de Israel” (2 Rs 10:28).

No entanto, lemos que depois de tudo isso “Jeú não teve cuidado de andar com todo o seu coração na lei do SENHOR, Deus de Israel, nem se apartou dos pecados de Jeroboão, que fez pecar a Israel” (2 Reis 10:31). Jeú nunca eliminou os bezerros de ouro, nem restaurou a adoração a Deus segundo a lei de Moisés. As pessoas continuaram a adorar em Dã e Betel em vez de subirem a Jerusalém, praticando assim uma religião corrompida.

Por causa do zelo de Jeú por Jeová, o Senhor prometeu que os filhos dele se assentariam no trono de Israel por quatro gerações. Assim aconteceu, pois está registrado sobre seus filhos, um por um, que eles “fizeram o que era mau aos olhos do Senhor”. Jeú tinha zelo pelo Senhor, mas sua energia não se equiparava a um coração para o Senhor, e em sua vida faltava aquela verdadeira piedade que teria agradado ao Senhor.

Esses poucos exemplos nos mostram as consequências sérias e a longo prazo do tipo de tocha que passamos, de como ela é passada e de como é recebida por aqueles a quem a entregamos. Vemos também que não precisamos ser vítimas de uma tocha ruim, pois a história de Josias nos mostra como um homem muito jovem escolheu seguir o Senhor em vez de levar a tocha ruim de seu pai e de seu avô.

W. J. Prost

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