Origem: Revista O Cristão – Fracasso no Testemunho
Os Últimos Dias da Igreja
“A Igreja do Deus vivo” (1 Tm 3:15)
O testemunho no qual os fiéis são chamados a andar nos últimos dias tem um duplo caráter. Primeiro, é um testemunho da unidade do corpo de Cristo, formado pelo Espírito Santo enviado no Pentecostes. Segundo, com o fracasso de toda a Igreja, os fiéis têm o caráter de um remanescente na manutenção desse testemunho, e isso também no meio de uma grande casa batizada, o corpo responsável aqui na Terra, comumente chamada de “Cristandade”. Esse testemunho nunca pode almejar ser mais do que um testemunho do fracasso da Igreja de Deus, conforme estabelecida por Ele. Quanto mais fiel a Cristo for o remanescente do Seu povo, mais serão um testemunho do presente estado da Igreja de Deus, e não do estado dela como exibido no princípio.
Agora, é encontrada na Palavra de Deus, para exemplo e consolo, uma fé que conta com Ele e Sua intervenção divina diante do fracasso do homem: uma fé que se encontra sustentada por Deus conforme o poder e as bênçãos da dispensação, e conforme os primeiros pensamentos de Seu coração quando Ele estabeleceu tudo em poder primário. Ele une esse poder e a própria presença do Senhor com a fé dos poucos que agem segundo a verdade fornecida para o momento presente, ainda que a administração do todo não esteja operando de acordo com a ordem que Deus estabeleceu no princípio.
Ana de Aser
Por exemplo, a bênção de Aser, em Deuteronômio 33:24-25, termina com estas lindas palavras: “Como os teus dias, assim será a tua força” (KJV), e tudo foi à ruína, como a história de Israel revela. No entanto, na primeira vinda de Cristo, quando o remanescente devoto e piedoso do povo estava “esperando a consolação de Israel”, encontramos alguém dessa mesma tribo, “a profetisa Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser […] viúva, de quase oitenta e quatro anos, e não se afastava do templo, servindo a Deus em jejuns e orações, de noite e de dia” (Lc 2:36-37). Ela estava no gozo e poder daquela bênção de Moisés – “assim será a tua força”. E o Senhor, o próprio Cristo, identificou-se com aquele remanescente obscuro, do qual ela era uma, um remanescente que estava pronto para recebê-Lo quando Ele veio da primeira vez.
O cativeiro de Judá
Nos dias após o cativeiro de Judá, encontramos o remanescente que retornou, em toda a fraqueza daqueles que não podiam ter nenhuma pretensão a não ser a ocupação da plataforma divina de povo terrenal de Deus. Encontramos estas palavras reconfortantes dirigidas a eles: “Eu sou convosco, diz o SENHOR dos Exércitos, segundo a palavra da aliança que fiz convosco, quando saístes do Egito, o Meu Espírito permanece no meio de vós; não temais” (Ag 2:4-5 – ACF). A fé deles é chamada a lembrar daquele grande dia de poder, quando Jeová os levou “sobre asas de águias e os trouxe para Si”, e removeu seus ombros dos fardos da escravidão egípcia. Inabalável em poder, Ele estava com eles, do mesmo jeito, para a fé pleitear e usar. Nenhuma exibição exterior havia deles, apenas Sua Palavra e Espírito, que provavam Sua presença para a fé, operada naquele fraco remanescente: A eles é revelado o abalo de todas as coisas (Hb 12:27 – ARA) e a vinda daquele que faria a “última glória” (TB) de Sua casa maior do que a anterior. Eles são, portanto, o elo entre o templo dos agradáveis dias de Salomão e aquele do dia da glória vindoura, quando Ele se assentará um “Sacerdote no Seu trono”, e haverá conselho de paz entre Jeová e Ele, e Ele levará a glória (Zc 6:12-13; Ag 2:7-9).
Ele fará tremer os céus e a Terra e derrubará o trono dos reinos (Ag 2:21-23), identificando assim todo o Seu poder com o pequeno remanescente de Seu povo que anda na companhia de Seus pensamentos. Ele fará com que todos venham e adorem diante de seus pés e saibam que Ele os amou.
O estado moral de Filadélfia
Assim, também, aqueles que respondem ao chamado que condiz com Sua mente, como vemos em Filadélfia (Ap 3:7-13), são fiéis àquilo que, embora não seja um perfeito estado de coisas, é adequado ao estado de fracasso que a fé contempla. Ele os torna o elo, o fio de prata, entre a Igreja do passado estabelecida no Pentecostes (At 2) e a Igreja da glória (Ap 21:9). O vencedor será feito “coluna no templo do Meu Deus”, na “nova Jerusalém” nas alturas.
Deixe-me aqui observar que nunca houve, e nunca poderá haver, um momento em que aquilo que responde a este chamado cessará, até que o Senhor venha. No retrato moral apresentado nestes dois capítulos (Ap 2-3), encontramos, em qualquer momento, todos os sete aspectos juntos, como eles estavam quando Ele enviou as mensagens, e assim permanecem. Na Idade das trevas, e naquelas de mais luz em dias posteriores, e agora no fim antes que Ele venha, todos, em todos os lugares, que respondem com um coração perfeito à medida da verdade que Ele lhes deu são, moralmente, Filadélfia. Outros podem ter mais luz, mas o verdadeiro coração que anda com Cristo naquilo que conhece é conhecido d’Ele e é o que está contemplado em Filadélfia. Historicamente, há um desdobramento no estado de cada uma das sete Igrejas, com cada aspecto maior ganhando proeminência e apresentando as características marcantes da Igreja professa, até que a Igreja se torna um remanescente na mensagem a Tiatira e evolui para aquelas que se seguem. Mas, moralmente, Filadélfia representa aqueles que respondem ao coração de Cristo em todas as épocas e em todas as circunstâncias, desde que o Senhor entregou essas mensagens até que Sua ameaça – “Vomitar-te-ei da Minha boca” – seja finalmente executada. Na visão histórica, Filadélfia vem depois de Sardes e é exortada a “guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa”. Mas enquanto Sua voz for ouvida por almas fiéis, elas, onde quer que estejam, formam o elo entre a Igreja no Pentecostes e a Noiva, a esposa do Cordeiro, no dia da glória. Cada estado moral em todas as sete mensagens permanece desde o princípio até o fim. Existem neste momento, assim como no princípio, aqueles que deixaram o seu primeiro amor, aqueles que sofrem por Cristo, aqueles que são fiéis onde está o trono de Satanás, e assim por diante até a conclusão de tudo.
João e Paulo
Além de tudo isso, nunca devemos esquecer que João está vendo a decadência daquilo que foi revelado a Paulo e nos dizendo o que Cristo fará com aquilo que leva o Seu nome. Para o nosso próprio caminho, não recebemos nenhuma direção a não ser para escutar e ouvir “o que o Espírito diz às igrejas”, pois não encontramos terreno da Igreja revelado aqui. João nunca nos dá coisas coletivas, somente individuais, e nunca nos instrui quanto à Igreja de Deus, mesmo reconhecendo plenamente a existência dela. Quando estamos, portanto, fundamentados e firmados naquilo que nunca falha – o um só corpo de Cristo, formado e mantido pelo Espírito de Deus na Terra, conforme ensinado por Paulo –, podemos, com grande proveito, nos voltar para João e essas mensagens e aprender o que Cristo fará com tudo o que leva o Seu nome. Porém, somente com Paulo posso aprender o que devo fazer no meio de tal cena. Eu devo ser um “vencedor” de acordo com a mente do Senhor, e isso jamais poderá ser pelo abandono daquilo que Seu Espírito mantém na Terra.
Quão importante é, portanto, estar completamente fundamentado na verdade da Igreja de Deus, que permanece enquanto o Espírito de Deus e Sua Palavra permanecem – “até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo” (Ef 4:13).