Origem: Revista O Cristão – Tristeza e Alegria
Circunstâncias Humanas e Divinas
O contraste entre as circunstâncias de Paulo em 2 Coríntios 1 e 2 Coríntios 12 é bem marcante. No capítulo 1, ele está em circunstâncias humanas, cercado por apertos, dificuldades e perigos, que lhe sobrevieram vindos de fora. Mas no capítulo 12 ele é visto completamente nas circunstâncias de Deus, arrebatado ao terceiro céu, ao Paraíso, e, então, como consequência, incapacitado por um espinho na carne e enviado de volta a este mundo para passar por ele como um pobre vaso, quebrado e despedaçado. No entanto, ele nunca foi tão eficiente para o propósito de Deus como quando estava nessa fraqueza, tanto que, quando seus primeiros pensamentos são deixados de lado pela comunhão, ele se curva ao golpe e diz: “De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo” (2 Co 12:9). É maravilhoso ver claramente como isso altera tudo conosco; até mesmo um Paulo é mudado, de rogar ao Senhor três vezes que o espinho se afastasse dele, para não apenas aceitá-lo, mas gloriar-se nele!
A fonte
No início do capítulo 1, é impressionante como Paulo começa da maneira oposta àquela que normalmente nos caracteriza. É natural, para nós, começar com nossos próprios problemas e então passar a falar do consolo a nós ministrado por Deus, mas o apóstolo começa com o “Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias”, começando, assim, não no ribeiro, mas no Próprio bendito manancial. Então ele desce ao ribeiro, “para que também possamos consolar”. Faz uma enorme diferença em qual ponta começamos. A necessidade humana, por maior que seja, não é medida do Seu consolo.
Em meio a tudo o que encontramos no deserto, é abençoado saber que houve Um, somente Um, que provou angústia e tristeza sem medida; no nosso caso, é tudo medido, e com competência e cuidado também. Ele não coloca sobre o vaso nenhum peso além do que este pode suportar: Ele conhece exatamente a sua capacidade e dá também o Seu poder, a Sua força, para sustentar. Tudo acontece sob Suas mãos; nenhuma quantidade, nem mesmo da consolação dada por Deus em meio às aflições aqui, jamais poderia ser a medida de Seu coração.
Paulo parte da fonte de tudo, isto é, do próprio Deus bendito, em quem está a perfeita plenitude e divina suficiência. Então ele passa para o que é ministrado dessa fonte através de vasos de soberana escolha; aquilo pelo que ele mesmo havia passado era a preparação necessária para esse ministério por meio dele. Que ministério! Exercícios de coração dentro, pressão e dificuldade fora, tudo feito afluir para o seu cumprimento.
O servo é afligido
Mas, além disso, veja como os coríntios estavam na mente do Deus bendito, por isso o servo é afligido, passa por alturas e profundezas de provação, por toda variedade de circunstâncias (2 Co 11:22-33), a fim de que nele fosse manifestado o poder de Cristo, e que o mesmo poder igualmente pudesse sair através dele e os alcançasse.
Assim, também, o próprio servo aprende o que Deus é para ele em tais momentos, tanto o que o Senhor pode ser quanto fazer. Então o apóstolo disse: “Ninguém esteve comigo na minha primeira defesa” (KJV). Ele foi desamparado por todos, mas nenhum pensamento duro repousou em seu peito. “Que isto lhes não seja imputado!”. Mas então, marque bem o que se segue: “Não obstante, o Senhor esteve comigo e me fortaleceu” (KJV). Sua presença vem primeiro – “O Senhor esteve comigo” –, depois o que o Senhor fez por Seu servo – “e me fortaleceu” (2 Tm 4:16-17).
O “é necessário”
Além do mais, há uma razão, um “é necessário”, para todas essas aflições e conflitos. Primeiro, do nosso lado, é “para que não confiemos em nós” (ARA); este é um grande ponto. Aqueles que conhecem seu próprio coração sabem da profunda autoconfiança que está enraizada ali. Devemos entrar na escuridão da sepultura, por assim dizer, e passar para o túmulo, para que possamos sair no florescer da ressurreição. Assim, semeamos em lágrimas para ceifar com alegria. O peso dura uma noite, mas a alegria vem pela manhã.
Em seguida, há também um “é necessário” do lado de Deus para todas essas peneiradas e provações: são Suas oportunidades para mostrar-Se no amor que nunca esquece os Seus. Ele se aproxima em tais momentos e se faz conhecido como “o Deus de toda consolação” – essas são Suas próprias graciosas palavras no passado, e elas não são menos verdadeiras hoje. Assim, Ele faz com que as tristezas e aflições dessas cenas ruins sirvam ao Seu propósito, exibindo nelas uma ternura e compaixão que não ignora ninguém. Ele tem prazer em mostrar como pode curar um coração partido, bem como sustentar um corpo fraco. A primeira coisa não está além d’Ele; a segunda não está abaixo d’Ele.
É assim que somos educados e treinados na escola de Deus, a fim de que, como servos e vasos de Sua propriedade, estejamos aptos para Seu uso. Tudo deve ser totalmente testado e provado. Se estamos andando com Deus na vida secreta de nossa alma dentro de nós, devemos estar cientes do quão pouco somos capazes de ajudar uns aos outros. É doloroso observar o quão capazes somos em descobrir os pontos fracos uns dos outros, mas a habilidade, através da graça, de removê-los é outra coisa. Quão abençoado é o serviço que tem esse objetivo e é prestado nesse espírito! Qualquer que seja a necessidade ou demanda, seja conforto ou consolo, tudo igualmente flui, na graça de Cristo, de quem aprendeu na escola de Deus. Alguém que, por assim dizer, andou no grande hospital de sofrimento que é este mundo, e tendo ele mesmo provado o bálsamo da consolação que o Pai das misericórdias e Deus de toda consolação lhe ministrou, é capaz de consolar aqueles que estão em qualquer aflição com o consolo com o qual ele mesmo é consolado por Deus. Que nosso coração, pelo poder do Seu Espírito, seja divinamente receptivo a tão abençoados caminhos de nosso Deus Pai, por amor de Cristo.