Origem: Revista O Cristão – O Filho de Deus

Jesus, Herdeiro de Todas as Coisas

No primeiro capítulo de Hebreus, encontramos Escrituras citadas que nos revelam várias dignidades e glórias do Senhor Jesus. Algumas delas falam daquilo que é permanente e eterno, outras do que é transitório. “Eu Lhe serei por Pai, e Ele Me será por Filho” (v. 5) parece ser citado da profecia sobre Salomão, que era uma figura (2 Sm 7:12-16), e está conectado com a Terra e a glória do governo.

Assim, temos neste capítulo a glória que Cristo tem como o Filho antes de que o mundo existisse, a glória que Ele agora tem e a glória que será exibida quando Ele for introduzido novamente neste mundo, como está escrito: “E outra vez, quando introduz no mundo o Primogênito, diz: E todos os anjos de Deus O adorem”.

Sua glória vindoura 

Da dignidade de Sua Pessoa e da glória que Ele agora possui, podemos aprender um pouco sobre o que será essa glória vindoura. Mas o primeiro momento em que realmente conheceremos o que a glória é quando Deus assim ordenar aos anjos que O adorem. Será o tempo da “manifestação” de nossa própria glória como “filhos de Deus” (Rm 8:15-19; 1 Jo 3:1-2). E é isso que o apóstolo quer dizer quando diz: “Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com Ele” (1 Ts 4:14). Quando Ele vier em Sua glória, estaremos na comitiva dessa glória.

No momento em que Ele expurgou nossos pecados, Ele pôde tomar Seu lugar no trono de Deus, o penhor da glória final da Igreja (Hb 6:20). No momento em que Ele voltar, seremos levados a conhecer o resultado de Sua obra, na glória. Associado à nossa experiência de glória, agora deve haver um tremor, pois a glória é sempre terrível para a natureza e os julgamentos de Deus, terríveis para os sentimentos humanos. Mas nos dizem que, quando Ele voltar, quando formos trazidos para a glória, seremos feitos semelhantes a Si mesmo, e isso pelo poder transformador de Deus. Ele é capaz de nos fazer semelhantes a Cristo, e isso em um momento, num piscar de olhos (1 Co 15:49-53). Não teremos, então, nenhum dos sentimentos de nossa natureza atual, da velha humanidade. Tudo o que é mera natureza será rompido e deixado de lado, e seremos como Cristo.

“E, quanto aos anjos, diz: Faz dos Seus anjos espíritos, e de Seus ministros labareda de fogo. Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o Teu trono subsiste pelos séculos dos séculos; cetro de equidade é o cetro do Teu reino. Amaste a justiça e odiaste a iniquidade; por isso Deus, o Teu Deus, Te ungiu com óleo de alegria mais do que a Teus companheiros. E: Tu, Senhor, no princípio fundaste a Terra, e os céus são obra de Tuas mãos. Eles perecerão, mas Tu permanecerás; e todos eles, como roupa, envelhecerão, e como um manto os enrolarás, e serão mudados. Mas Tu és o mesmo, e os Teus anos não acabarão” (Hb 1:7-12).

Quem é esse Rei manifestado em Seu trono – louvado pelos anjos – ao redor de Quem todas as coisas estão congregadas? O Deus vivo e eterno. Cristo Jesus pode ter estado sob a pressão de Satanás e da morte por um tempo, mas Ele é imutavelmente Deus – pensamento maravilhoso. Nada pode alterar ou afetar Sua divindade e glórias essenciais e eternas.

Teus companheiros 

E somos chamados de “Teus companheiros”. Não podemos entender a natureza de nossa união com Cristo. A divindade não é nossa, nem jamais pode ser, e ainda assim teremos capacidades e poderes resultantes da união com Ele em tudo o que Ele é, assim como Deus.

Dizem que Ele é ungido com o óleo da alegria, “mais do que” Seus companheiros, e quando isso é dito, tudo é dito. É verdade que somos apenas os receptores, enquanto Ele é a Fonte; aquilo que n’Ele é essencial, em nós é derivado; todavia, em toda bênção sentida, devemos ser um com Ele. E não desejaremos que seja de outra maneira; nos alegraremos em dizer: “E tudo isto provém de Deus” (2 Co 5:18). Veremos a adequação de sermos apenas receptores, e de Ele ser a Fonte, como é dito: “Que é o Seu corpo, a plenitude d’Aquele que cumpre tudo em todos”.

O cetro de equidade 

O ser ungido com o “óleo da alegria” é mencionado em conexão com o que Ele foi aqui, como Quem amava a justiça e odiava a iniquidade. Podemos entender facilmente esse gozo – é uma fonte peculiar de gozo para o coração de Jesus. Mas podemos entrar um pouco no mesmo caráter de alegria, e isso proporcionalmente, enquanto aqui também amamos a justiça e odiamos a iniquidade.

O pensamento transmitido pela frase um “cetro de equidade” é o da vara do pastor. Um rei deveria ser para o seu povo o que o pastor é para o seu rebanho. Agora, Cristo segurará a “vara” naquele dia como um Rei Pastor e será um “cetro de equidade”. E participaremos de Seu governo. Mas Ele o mantém agora (embora ainda não seja para o mundo) para Sua Igreja. Reconhecemos este cetro? A verdade se torna algo bendito para nós de maneira prática quando vista, não abstratamente, mas como conectada a nós mesmos.

Herdeiros juntos com Ele 

Quando lemos este capítulo, podemos dizer: “É isso que é nossa herança”. Se isso nos coloca acima dos anjos, quanto mais acima do que é natural, seja em nós mesmos ou nos outros! Por mais encantador que o que é natural possa parecer, estamos muito acima disso. Com tal porção e tal glória, podemos desejar honra ou dignidade aqui? Isso dá contentamento àqueles que são humildes no mundo e humilhação aos que são grandes. Esses são os sentimentos interiores produzidos nos santos pelo conhecimento da glória.

Nas coisas exteriores, há duas linhas de diferença entre aqueles que são um em Cristo. Primeiro, no que diz respeito aos dons na Igreja; estes, o Espírito Santo reparte a cada um como Ele deseja. Segundo, quanto aos arranjos e relacionamentos naturais designados por Deus; essas coisas são certas e boas, e as achamos assim, quando recebidas no Espírito. Se agirem na carne, trazem tristeza. Paulo e Onésimo, quanto aos sentimentos interiores, estavam em igualdade, mas na Igreja eles tinham lugares e dons diferentes, assim também como homens.

Essas são grandes coisas que dizem respeito à glória de Jesus e à nossa união com Ele, mas é a Palavra de Deus, e não a do homem. A mesma Palavra que nos fala de Adão e seu pecado nos fala disso. Não vimos Adão pecar, mas acreditamos que ele pecou e sentimos as consequências de seu pecado. Por que não devemos receber plenamente o testemunho de Deus, quando Ele fala de nossa união com Seu Filho e da glória para a qual seremos trazidos, como herdeiros com Ele?

The Christian Friend, 2:125

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