Origem: Revista O Cristão – Castigo

Lições da Aflição

É evidente que as aflições são provas de fé, bem como o castigo; portanto, não devemos supor que o que nos acontece é sempre com o propósito de castigo propriamente dito. Existe disciplina, bem como castigo; isso é o que purifica, o que ajuda a mortificar a carne, o que quebra a vontade e ajuda, por meio de uma obra interior, a nos proteger das tentações exteriores. Caso contrário, essas tentações nos surpreenderiam, por causa da leviandade inata do coração, que se entrega à vaidade tão facilmente se não houver nada para contrabalançar. Não falo de leviandade exterior, mas dessa tendência, tão natural para nós, de esquecer a presença de Deus. Então, há o castigo, a disciplina e a provação da fé. O castigo deve afetar a consciência, despertando-a para qualquer fracasso (por meio da operação do Espírito Santo que a acompanha), mas ao mesmo tempo a obra não está completa até que a raiz do fracasso seja descoberta na consciência, e isso se aplica a todos os tipos de disciplina.

Falta de dependência e orgulho 

Falta de dependência de Deus e orgulho podem nos levar a muitos fracassos; a alma não é restaurada antes que aquilo que deu ocasião a esses fracassos seja julgado no coração. A disciplina se aplica mais à condição da alma. Existem coisas como negligência, orgulho, esquecimento interior de Deus – mil coisas que precisam da faca de poda do Lavrador –, e é mesmo necessário que as coisas que não estejam expostas diante da consciência sejam impedidas de agir no coração. A carne precisa ser assim controlada de antemão.

O aperfeiçoamento da nova criatura 

Mas existe um aperfeiçoamento da nova criatura, o qual deixa espaço para provações: Cristo passou por elas. Embora o novo homem seja em si perfeito, ainda assim há progresso. Em nós, os vários tipos de provações estão misturados; em Cristo, havia apenas este último: a experiência do que Ele não havia passado antes. Não que Ele não tenha sido sempre perfeito, mas Ele “aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu” (ARA); Sua fé e obediência foram postas à prova por circunstâncias cada vez mais difíceis, e isso até a morte. Sua perfeição não estava no agir, mas no sofrer; no sofrimento, houve uma entrega mais completa de Si mesmo. Foi assim também com o apóstolo Paulo; encontramos isso mais particularmente em Filipenses. Deus permite que o inimigo coloque dificuldades no caminho do novo homem. Uma provação vem; a energia do novo homem é exercitada por ela; ele é fortalecido por ela e, no final, obtém a vitória. Se uma pessoa não age segundo a fé, ela recua, perde a alegria, ou no mínimo a luz do Espírito Santo. O novo homem, embora perfeito em sua natureza, é um ser dependente. Esse é o lugar que Cristo assumiu.

O velho e o novo homem 

Às vezes, provações externas são necessárias, para que possamos distinguir entre o que é do velho homem e o que é do novo, os quais frequentemente são confundidos em nosso enganoso coração. Quando permanece no coração qualquer gemido que não seja proferido a Deus como a um Deus de graça, qualquer falta de confiança n’Ele, é a carne e a obra do inimigo. Quando não seguimos em frente quando Deus apresenta o caminho, por causa de alguma dificuldade, a carne age e o Espírito é entristecido. Tenham confiança n’Ele e regozijem-se em Seu amor. Podemos estar abatidos às vezes (embora raramente não seja por falta de fé), e ainda assim todas as coisas continuam bem, se levarmos tudo a Deus. Se for apenas provação, certamente seremos consolados; se houver falha em nós, ela será descoberta ali. Não importa como as coisas estejam, vamos a Ele; Sua paz guardará nosso coração.

J. N. Darby (adaptado)

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