Origem: Revista O Cristão – Coração

Salmodiando em Vosso Coração

Em 1 Coríntios 14, somos instruídos a cantar com o espírito e o entendimento (v. 15) Os Cristãos devem ser inteligentes nos caminhos do Senhor, e não “meninos no entendimento”. Há, entretanto, um outro elemento ao cantar que é de igual importância. Sem a melodia do coração é impossível render louvor aceitável ao Senhor.

Encontramos isso expresso repetidamente tanto no Velho quanto no Novo Testamento. O salmista deseja mais de uma vez louvar a Jeová de “todo o coração” (Sl 9:1; 111:1; 138:1). Em duas das epístolas de Paulo, há também exortações especiais nesse sentido: “Cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração” (Ef 5:19); “Cantando ao Senhor com graça em vosso coração” (Cl 3:16).

Coração e mente 

O coração, portanto, deve estar reto diante do Senhor, assim como a mente. Ambos devem estar em exercício; a mente deve contribuir com inteligência espiritual, e o coração com emoções sagradas.

A Escritura mostra que existe uma íntima relação entre os dois e que o coração exerce uma influência considerável sobre a mente. Quando é descrito o declínio do homem, do conhecimento de Deus para as trevas do paganismo, primeiro afirma-se que eles “se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu”. Segue-se então que, “como eles se não importaram em reter Deus em [seu] conhecimento, Deus os entregou a uma mente réproba” (Rm 1:21,28 – KJV). O coração tolo e obscurecido foi o precursor da mente réproba. Novamente, o apóstolo ora pelos efésios para que Deus lhes dê “o espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento d’Ele; iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento” (Ef 1:17-18 – ARA). Assim, está claro que, enquanto o conhecimento de Deus foi perdido devido ao obscurecimento do coração, o pleno conhecimento d’Ele é agora comunicado por meio da iluminação do coração. Visto que o coração, portanto, é o caminho para todo entendimento verdadeiro e apropriado das coisas de Deus, é da mais alta importância que o coração seja estritamente guardado, exatamente como está dito: “Guarda com toda a diligência o teu coração, pois dele procedem as fontes da vida” (Pv 4:23 – ATB).

A Escritura é uniforme ao ensinar que o coração é a essência do ser do homem. É o centro das afeições e dos impulsos que levam o homem adiante no caminho da vida. O próprio Senhor declarou que é do coração que procede tudo o que contamina (Mt 15:19). Por outro lado, o coração do homem renovado deve caracterizar cada ação; como servos de Cristo, devemos fazer “de coração a vontade de Deus” (Ef 6:6). Na verdade, o próprio Espírito de Deus está em nosso coração para originar e caracterizar todas as afeições. Isso o apóstolo ensina: “E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de Seu Filho, que clama: Aba, Pai” (Gl 4:6 – ARA).

Esse fato é de grande importância para nós, que aprendemos o engano do coração natural (Jr 17:9). Agora, é Ele quem enche o coração com tal senso do incomparável amor de Deus (Rm 5:5) que, do que está cheio o coração, a boca fala (Mt 12:34-35; Lc 6:45 – ARA).

Melodia do coração 

Mas, enquanto a melodia do coração não pode existir separada do Espírito Santo, a responsabilidade de produzi-la recai sobre o cantor. Espera-se que aquele que profere os louvores ao Senhor com os lábios ofereça melodia simultânea no coração, pois o Espírito Santo certamente não agirá a menos que o crente honre Sua presença aqui na Terra e se entregue à Sua direção. É, portanto, incumbência do adorador assumir uma atitude de fé e dependência a fim de assegurar a operação do Espírito Santo, sem a qual nenhum sacrifício de louvor pode ser aceitável nas alturas.

Observe também que em Efésios 5:19, os santos são exortados não apenas a cantar ou apenas a salmodiar no coração, mas a cantar e a salmodiar no coração. Nenhum grau de melodia com a voz pode se tornar um substituto equivalente para a melodia no coração, conforme [mostram] as palavras diante de nós.

Alguns sustentam que uma correta ministração mecânica de hinos a Deus é suficiente, mas que os tais considerem seriamente as solenes palavras de advertência do Senhor aos escribas e fariseus. “Hipócritas, bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-Me com os seus lábios, mas o seu coração está longe de Mim. Mas em vão Me adoram” (Mt 15:7-9). Eles eram, na verdade, apenas “coisas inanimadas [isto é, sem vida], que fazem som” (1 Co 14:7).

Instrumentos musicais 

É imperativo, portanto, que junto com a voz melodiosa haja o acompanhamento melodioso do coração. Isso deve substituir os instrumentos musicais da adoração no templo. O Cristão não é convidado a louvar ao Senhor com o som de uma trombeta, com o saltério e a harpa e com os címbalos altissonantes; não obstante, sua canção deve ser distinta com o enternecido e santo entusiasmo do homem interior.

Com graça no coração 

Em Colossenses, somos chamados a cantar “com graça” em nosso coração, pois a graça toca a alma no mais profundo de seu íntimo. Aqueles que contemplam o amor de Cristo, na medida em que Ele os lavou de seus pecados em Seu próprio sangue e os fez reis e sacerdotes para Deus e Seu Pai, não podem deixar de Lhe atribuir a glória e o domínio para todo sempre.

A graça provoca no coração manifestações de louvor e ação de graças a Deus, porque é a Deus que cantamos, em Colossenses, como o Autor da graça; enquanto, em Efésios, o Senhor está diante da alma evocando as melodias do coração – “cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração”.

O segredo 

E certamente pode-se dizer que aqui está o segredo dessa melodia de coração. Se alguém perguntar: “Como posso produzir essa harmonia interior?”, a resposta é, “Deixe Cristo estar diante da alma”. Por que tantas vezes a língua canta enquanto o coração está calado? Não será porque a bendita Pessoa de nosso Salvador e Senhor está esquecida? A voz associa-se com indiferença a outras, e o coração está apático e apagado, ou ainda, ocupado com os mais inúteis pensamentos. Oh, que a fé perceba Sua presença de tal forma que nisto, assim como em outras coisas, possamos exibir uma conduta que nos convém [exibir] e, se assim podemos falar, seja digna d’Ele.

Será que não podemos dizer que foi o senso da presença do Senhor no calabouço de Filipos que fez com que Paulo e Silas cantassem “canções à noite”? Por isso, eles cantavam em voz alta, salmodiando em seu coração. Eles não eram como aqueles que cantam “canções junto ao coração aflito”, pois a presença do Senhor faz até “a língua dos mudos cantar” (Is 35:6), e nenhum dos Seus remidos consegue ficar triste diante d’Ele, pois a luz do rosto do Mestre transforma até as circunstâncias de tristeza em ocasiões de alegria.

O coração rendido 

Acima de todas as coisas, portanto, que o coração renda sua melodia ao Senhor. “Nenhum coração, a não ser pelo Espírito ensinado, salmodia a Ti”. Não é a voz refinada, mas o coração renovado que o Pai procura. Deve ser um conforto, portanto, para aqueles cujo canto consiste apenas em fazer “um barulho alegre ao Senhor”, eles poderem, de alguma forma, entoar uma melodia no coração.

Bible Treasury (adaptado)

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