Origem: Revista O Cristão – Coração

Desanimar

Lemos dos lábios de nosso bendito Senhor Jesus que os homens “devem orar sempre, e nunca desfalecer” (Lc 18:1). Na língua grega, a palavra “desfalecer” é en-kakein, formada a partir da palavra kakos, que significa “covarde”. Mas, de “covarde”, passou a significar qualquer coisa que fosse ruim, mesquinha ou vil, pois para os gregos a covardia era tudo isso. A primeira parte da palavra, en, significa “em”. A palavra inteira em conjunto significa literalmente: “Ceder ao mal”. Nós a encontramos traduzida por palavras ou expressões como desfalecer, desanimar, desencorajar-se, acovardar-se.

O mal que nos cerca é tão forte, a batalha é tão feroz, e o resultado parece tão impossível, os lados parecem tão desiguais, que enquanto oramos, somos tentados a dizer em nosso coração, se não com nossos lábios: “Não tem jeito, não adianta orar mais por essa pessoa; eu desisto”. “Não!”, o Senhor diz, “Não! Não ceda! Não desanime! Não se desencoraje! Não se acovarde!”

Estamos realmente do lado vencedor. O Senhor ainda está no trono. Ele ainda se assenta sobre as correntes das águas, e o Senhor nas alturas ainda é maior do que o ruído de muitas águas, sim, do que as grandes ondas do mar (Sl 93:4). Então, anime-se! Tenha coragem! Continue orando! Ore sempre! E jamais se acovarde, nunca desista.

Nos problemas e na doença 

Esta palavra, en-kakeo, é usada apenas seis vezes no Novo Testamento, e cada uma delas é muito instrutiva. Já vimos a primeira vez que ela é usada, e é em conexão com a oração. Na próxima, é usada duas vezes nos seguintes versículos, em 2 Coríntios 4:1 e 4:16. “Pelo que, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos […] Por isso, não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia”. E assim, embora problemas e doenças e tristezas venham aqui e consumam nosso homem exterior, não há necessidade de desanimar, não há necessidade de se desencorajar, não há necessidade de se acovardar ou ceder ao mal.

Cansado de fazer o bem 

O próximo lugar onde a encontramos é em Gálatas 6:9. E não nos cansemos de fazer o bem”, ou “Não desanimemos de fazer o bem” (JND). É tão fácil desanimar de fazer o bem. Aquela pobre alma que você ajudou outro dia mais tarde provou ser um vigarista e não precisava de nada, e você jurou que não seria enganado com tanta facilidade novamente. Não, não; não desanimemos; não vamos ceder ao mal. Da próxima vez, você pode rejeitar alguém realmente necessitado; e “o que tapa o seu ouvido ao clamor do pobre, também clamará, mas não será ouvido” (Pv 21:13). Ou aquela aula da Escola Dominical que é tão barulhenta e incontrolável! Parece inútil tentar prosseguir com eles. Desista! Não vale a pena mais tentar!

Eu já fiz isso. Certa vez, tive uma Escola Dominical extremamente ruim e, a conselho de um irmão mais velho, desisti. Cerca de três semanas depois, encontrei uma das crianças na rua, e ela disse: “Oh, por que você desistiu da Escola Dominical? Eu queria muito saber que estava salvo. Acho que teria encontrado o Senhor no domingo seguinte; mas eu tive que ir para outro lugar, e lá eu encontrei o Senhor”. Outra vez, um irmão mais velho insistiu que eu deveria desistir de alguns trabalhos infantis que o Senhor havia aberto. Fiquei muito perplexo e procurei o conselho de outro irmão mais velho, e, para minha surpresa, ele disse: “Aceite mais trabalhos desse tipo; mas nunca desista! Toda desistência é do diabo”. Isso foi há mais de cinquenta anos, mas quantas vezes agradeço a Deus por aquelas palavras.

Herbert Taylor, o filho mais velho de Hudson Taylor, uma vez me disse que certa vez estava tão desanimado que disse ao pai: “Pai, estou tão desanimado, vou desistir”. Seu pai respondeu: “Todo desânimo é do diabo!” Deus é “o Deus de todo encorajamento” (2 Co 1:3 – JND). Não, amados, a Palavra de Deus é clara. “Não desanimemos de fazer o bem”.

Na tribulação 

A seguir, veja Efésios 3:13. “Por isso vos rogo que não desanimeis nas minhas tribulações por vós, as quais são a vossa glória” (TB). Paulo “desesperou da vida” em suas tribulações pelos santos de Éfeso, mas não se acovardou (At 19:23-41; 2 Co 1:8). Ele estava pronto para entrar e enfrentar a multidão que estava sedenta por seu sangue. Não há necessidade de desanimar, mesmo que as tribulações venham.

Não, antes, “mas também nos gloriamos nas próprias tribulações; sabendo que a tribulação produz perseverança” (Rm 5:3 – ARA). A palavra “tribulação” vem da palavra latina “tribulum”, que significa “um mangual”. Suponho que a maioria dos meus leitores nunca tenha visto um mangual, como aqueles que são usados para debulhar o trigo. Eu o usei e vi a terrível “tribulação” que ele causa no trigo. Mas é assim que o trigo se livra do joio.

No trabalho diário 

O último lugar onde encontramos esta palavra en-kakeo é em 2 Tessalonicenses 3:11-13. “Porquanto ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando, antes, fazendo coisas vãs; a esses tais, porém, mandamos e exortamos, por nosso Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando com sossego, comam o seu próprio pão. E vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem”. Suponho que isso signifique que você e eu não devemos desanimar, não nos desencorajar, não nos acovardar durante a rotina de nosso trabalho diário no escritório, na loja, na cozinha, no campo, na escola ou em qualquer outro lugar. Façamos nosso trabalho diário para o Senhor, e não para os homens, e não desanimemos nele. É a própria ordem de nosso Senhor. Pode haver muito mal ao seu redor. Pode ser indescritivelmente difícil, mas, mesmo assim, nunca devemos ceder ao mal; nunca se acovardar, nunca desanimar.

Então, para resumir, não vamos ceder ao mal, seja:

Para desistir da oração – Lucas 18:1

Na saúde debilitada e na velhice – 2 Coríntios 4:1, 4:16

Em fazer o que é bom ou em fazer o bem – Gálatas 6:9

Na tribulação – Efésios 3:13

Em nossas tarefas diárias – 2 Tessalonicenses 3:13

G. C. Willis (adaptado)

Compartilhar
Rolar para cima