Origem: Revista O Cristão – Mulheres do Novo Testamento
Maria, a Mãe de Nosso Senhor
Um olhar sobre a vida de Maria, a mãe de nosso Senhor, mostra-nos (para usar as palavras de alguém) “a maravilhosa graça de Deus ao escolher esta pobre mulher para esta indescritível honra, e os frutos dessa graça como foram manifestados nela, na simples e inabalável confiança no Senhor e na sua devota e humilde vida”. O espaço não nos permite entrar em todos os detalhes de sua vida, mas a consideração de algumas experiências não apenas engrandecerá a graça de Deus, mas também servirá como uma instrução prática para nós.
Podemos notar imediatamente que, embora Maria seja claramente mencionada em Mateus, ela tende a desaparecer em segundo plano. É assim que deve ser, pois em Mateus, Jesus é visto como o Rei legítimo. Por exemplo, em Mateus 2, cinco vezes lemos a frase: “o menino e sua mãe”, quando provavelmente teríamos dito: “A mãe e seu menino”. Mas o Espírito de Deus reserva apropriadamente o lugar de destaque para o Senhor Jesus; era Ele quem devia ser adorado e ter o primeiro lugar. Quanto às palavras e ações de Maria, elas são mencionadas apenas em Lucas e João.
Altamente agraciada
Notamos, primeiramente, o encontro de Maria com o anjo Gabriel. Ela “achou graça diante de Deus” (Lc 1:30) por causa de sua santidade e piedade; ela foi “altamente agraciada” (Lc 1:28 – KJV), por causa da graça soberana de Deus que a escolheu para o privilégio especial de ser a mãe de nosso Senhor. Notamos também que sua pergunta ao anjo sobre como tudo isso aconteceria não resultou em nenhuma repreensão, como no caso de Sara, esposa de Abraão, ou Zacarias, o pai de João Batista. O coração de Maria estava certo e, quando a resposta foi dada, sua resposta tranquila foi: “Cumpra-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1:38). Maria também recebeu mais informações do que pediu, pois Gabriel também foi encarregado de lhe contar que sua prima Isabel concebeu um filho em sua velhice.
Com o passar do tempo, Maria e José são obrigados a ir a Belém, por decreto do imperador romano, mas tudo isso só cumpre o propósito de Deus de que o Messias nascesse naquela cidade. Mas que rejeição e pobreza acompanharam aquele nascimento maravilhoso! Sem nenhum lugar na pousada, Maria e José foram relegados a um estábulo. Maria certamente estava sendo preparada para o eventual caminho de tristeza e rejeição de seu Filho. Mais tarde, quando O levaram ao templo, para apresentá-Lo ao Senhor, as palavras de Simeão confirmaram isso: “Eis que este Menino está […] para ser alvo de contradição; também uma espada traspassará a tua própria alma” (Lc 2:34-35 – ARA). O sacrifício oferecido era a oferta dos pobres – “um par de rolas ou dois pombinhos” (Lc 2:24). José e Maria eram pobres e não podiam comprar um cordeiro.
O laço natural
No entanto, há duas outras coisas que Maria precisava aprender, conforme nosso Senhor amadureceu como uma criança e finalmente entrou em Seu ministério terrenal. Ela precisava aprender que nosso Senhor deve, antes de mais nada, estar envolvido nos negócios de Seu pai. Em segundo lugar, ela deve aprender que seu vínculo natural com Ele, como sua mãe, não lhe deu nenhum direito especial sobre Ele. Aos 12 anos, Ele foi a Jerusalém com Seus pais para celebrar a Páscoa. Quando Seus pais começaram a viagem de volta, sem que eles percebessem, nosso Senhor ficou para trás no templo, ouvindo os doutores da lei e fazendo-lhes perguntas. Quando Seus pais finalmente O encontraram e Sua mãe O repreendeu por fazer isso, Sua resposta a ela foi: “Não sabeis que me convém tratar dos negócios de Meu Pai?” (Lc 2:49). Mais tarde, no casamento em Caná da Galileia, quando não havia vinho, Sua mãe (sem dúvida querendo realmente ajudar na situação), chamou a atenção de Jesus para esse fato. Mas Sua resposta foi: “Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora” (Jo 2:4). Sabemos que Jesus, de fato, supriu a necessidade, mas Ele deveria fazer isso por ordem de Seu Pai, e não por causa de Sua mãe. Em outra ocasião, quando Sua mãe e seus irmãos não puderam se aproximar d’Ele por causa da multidão, evidentemente enviaram uma mensagem a Ele, desejando vê-Lo. Sua resposta foi: “Quem é Minha mãe e Meus irmãos? E, olhando em redor para os que estavam assentados junto d’Ele disse: Eis aqui Minha mãe e Meus irmãos. Porquanto qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é Meu irmão, e Minha irmã, e Minha mãe” (Mc 3:33-35).
“Eis aí tua mãe”
No entanto, é lindo como isso muda um pouco quando nosso Senhor está na cruz e prestes a morrer. Maria testemunhou Seus sofrimentos naquela cruz e, certamente, como Simeão profetizou, uma espada deve ter traspassado sua própria alma, ao ver tudo o que aconteceu a seu Filho primogênito. Mas agora Jesus assume o caso dela. É verdade que mais de uma vez Jesus se dirige a Sua mãe como “mulher”, mas o Espírito de Deus se refere a ela como Sua mãe (Jo 19:25), e quando Jesus a confia aos cuidados de João, Ele diz: “Eis aí a tua mãe!” (v. 27). Com efeito, Ele transfere para João o relacionamento dela com Ele como Sua mãe e comprova que tinha esse relacionamento na esfera terrenal. Ele não tinha esse relacionamento durante Seu ministério público, mas em perfeita adequação, Ele reconhece o vínculo natural quando está prestes a entregar Sua vida, e Ele cuida dela.
Após a ascensão do Senhor
Vemos Maria pela última vez em Atos 1:14. Ela não apareceu no túmulo, nem na manhã da ressurreição, mas após a ascensão de nosso Senhor, ela foi notada como estando com os apóstolos, com outras mulheres e com os irmãos d’Ele. Isso não diminui de forma alguma o privilégio que ela teve como mãe de nosso Senhor, mas essa honra não se estendeu além desta Terra. Quando Jesus ressuscitou e ascendeu, ela humildemente assumiu o seu lugar ao lado de outros que O honraram e se tornou parte da Igreja. Não ouvimos mais nada dela.
O relato bíblico de sua vida deixa claro, por um lado, que tremendo privilégio ela teve, ser escolhida por Deus para ser a mãe de nosso Senhor. Por outro lado, a Escritura zela cuidadosamente contra qualquer tendência de exaltá-la além disso e fazer dela uma intercessora entre o homem e Deus, ou um objeto de adoração.