Origem: Revista O Cristão – Mulheres do Novo Testamento
Amor Devolvido
É uma verdade bem conhecida que as Escrituras não nos ocupa com nosso amor a Cristo, mas sim com Seu amor por nós. Alguns de nós se lembram bem de um irmão mais velho, há muito tempo com o Senhor, que costumava nos lembrar: “Nunca tente amar o Senhor mais do que você O ama; apenas pense no quanto Ele te ama!”. Isso é importante, pois a ocupação consigo mesmo de qualquer forma, exceto para julgamento próprio, não honra a Deus e não é o caminho da bênção.
No entanto, há várias passagens bíblicas que, embora não nos ocupem com nosso amor a Cristo, nos lembram do quanto Ele aprecia qualquer resposta em nosso coração ao Seu amor. Um incidente muito precioso diz respeito a Maria de Betânia, quando ela ungiu o Senhor antes de Ele ir para a cruz. O relato é mais explícito em João 12:1-9, mas os relatos em Mateus 26:6-13 e Marcos 14:3-9 são muito provavelmente a mesma ocasião, embora Maria não seja nomeada; ela é simplesmente identificada como “uma mulher”. Talvez isso nos indique que o privilégio de tal ato de adoração não se limitava a Maria, mas pode ser realizado por qualquer crente devoto.
Devemos lembrar que Maria foi aquela (Lc 10:39) que se sentou aos pés de Jesus e ouviu Sua palavra. Da mesma forma, ela era quem mais estava na corrente dos pensamentos de Deus quando seu irmão Lázaro morreu (Jo 11). Quando chegou a hora de o Senhor ir para a cruz, novamente ela foi quem entendeu, talvez mais do que qualquer outro, o que iria acontecer (Jo 12:7). É ela quem responde com verdadeira devoção e, mais do que isso, de acordo com a mente de Deus.
O unguento de nardo
Aparentemente, era costume das jovens solteiras daquela época tentar adquirir um pouco do caro unguento de nardo e guardar para usá-lo no dia do casamento. Era muito caro, pois era cultivado no Himalaia e precisava ser importado. O preço mencionado na Escritura representaria aproximadamente o salário de um ano para um trabalhador. Às vezes era misturado com azeite de oliva, e a noiva o usava como perfume. É mencionado várias vezes em cantares de Salomão a esse respeito.
É provável que Maria estivesse inicialmente reservando sua libra desse unguento para o dia em que ela poderia se casar, mas quando ela viu seu Senhor e Mestre prestes a morrer, ela o usou todo para ungi-Lo. Ao fazer isso, ela reconhece o Senhor Jesus em Seus dois caráteres distintos – como o Rei legítimo e como o Sacrifício pelo pecado. Porque ela sabia que Ele era o Rei legítimo, está registrado em Mateus e Marcos que ela ungiu Sua cabeça, porque ela sabia que Ele sofreria pelo pecado em Sua humilhação, está registrado em João que ela ungiu Seus pés. “Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre, para que, pela sua pobreza, enriquecêsseis” (2 Co 8:9). Quando os discípulos não puderam compreender quando o Senhor lhes disse que deveria sofrer e morrer e quando Judas (e talvez outros) se queixaram do desperdício do unguento, Maria compreendeu inteiramente quem o Senhor era e o que deveria fazer. Seu ato exibiu inteligência espiritual e devoção sincera.
O valor de seu ato
Quando objeções ao ato de Maria foram feitas, o Senhor a defendeu de maneira comovente. Os pobres estavam sempre presentes e ninguém sentia por eles como o Senhor. Sempre haveria ampla oportunidade de ajudá-los. Mas aqui estava uma ocasião que não se apresentaria novamente, e Maria aproveitou essa oportunidade. A resposta do Senhor a ela é muito comovente e encorajadora, pois mostra o quanto Ele valorizou seu ato. Ele disse: “derramando ela este unguento sobre o Meu corpo, fê-lo preparando-Me para o Meu sepultamento. Em verdade vos digo que, onde quer que este evangelho for pregado, em todo o mundo, também será referido o que ela fez para memória sua” (Mt 26:12-13).
O evangelho da graça de Deus estava para ser pregado, como o bendito resultado da obra do Senhor na cruz. O amor de Deus deveria ser mostrado na cruz como nunca, e o coração de Deus revelado como não havia sido no Velho Testamento. “Mas Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5:8). Qual seria a resposta do homem? É triste dizer que muitos rejeitariam a oferta de misericórdia de Deus e prefeririam permanecer em seus pecados. Mas ainda mais triste, aqueles que aceitariam isso e seriam levados à bênção eterna com Cristo, às vezes deixariam de avaliar o custo envolvido. Com muita frequência, nós, que somos do Senhor, tendemos a reagir como os nove leprosos em Lucas 17, que gostaram de sua cura, mas não tiveram ânimo para voltar e agradecer.
A demonstração da mais profunda gratidão
O ato de Maria não seria necessariamente usado como um testemunho do Evangelho para pecadores perdidos; antes, seria mencionado porque seu apreço pela pessoa do Senhor Jesus e a profundidade de Seu amor por ela despertaram nela a mais profunda gratidão. Seu amor, desfrutado em seu coração, fez com que ela desse o que talvez fosse o bem mais precioso que possuía, para mostrar seu apreço por Seu amor.
Seu ato foi individual, mas foi feito na presença de outras pessoas e, portanto, talvez seja uma imagem da lembrança do Senhor, que Ele mais tarde instituiu. O unguento foi derramado sobre Ele e era para Ele, mas lemos que “encheu-se a casa do cheiro do unguento” (Jo 12:3). Nossa adoração não é para nós mesmos; corretamente, ela flui para Deus por meio de Cristo. Mas todos os presentes sentirão a preciosidade disso, pois tudo o que Cristo é e tudo o que Ele fez transbordará para nosso desfrute também.
O Senhor Jesus era Deus, mas também era um homem perfeito, com todos os pensamentos e sentimentos naturais ao homem, “mas sem pecado”. Ele permanece um homem na glória e aprecia qualquer pequena resposta de nosso coração ao Seu amor. O desfrute de Seu amor em nosso coração certamente produzirá isso, pois “nós amamos porque Ele nos amou primeiro” (1 Jo 4:19 – JND).