Origem: Revista O Cristão – A Criação de Filhos Parte 1

“A Vara e a Repreensão Dão Sabedoria”

O versículo acima é encontrado em Provérbios 29:15 e é de grande importância. A última parte do versículo diz: “mas o rapaz [ou, filho] entregue a si mesmo envergonha a sua mãe”. Obtemos a mesma verdade no Novo Testamento: “Vós, pais, não provoqueis à ira a vossos filhos, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor” (Ef 6:4 – TB). Notamos que a expressão “do Senhor” está anexada, pois nesta dispensação da graça os filhos de pais Cristãos estão em um lugar de privilégio, visto que devem ser criados sob o senhorio de Cristo. Nos versículos que citamos, tanto a vara (disciplina) quanto a repreensão (admoestação) são mencionadas. Como observamos ao longo de nossa discussão sobre como criar os filhos e, na verdade, em todas as áreas de nossa vida, é necessário equilíbrio. Naturalmente, tendemos a ser criaturas extremas.

Repreensão e explicação 

Em nosso mundo moderno, onde o homem é glorificado e onde muitas vezes se afirma que o homem é basicamente bom, há excessivas instruções sobre a criação de filhos que enfatiza a repreensão e a explicação, como se isso fosse tudo o que se necessita. A suposição é que se uma criança souber o que é certo e o que se espera dela, ela o fará. Isso, é claro, ignora o fato de que o homem tem uma natureza pecaminosa – uma natureza que quer fazer sua própria vontade. Na verdade, a palavra “iniquidade”, que é frequentemente usada para o pecado na Palavra de Deus, significa simplesmente “ausência de lei” ou o exercício de uma vontade independente.

Existem outros que vão ao extremo oposto e que em grande parte ignoram a repreensão, confiando em punições rígidas para dissuadir as crianças de fazer o que é errado. Quando essa é a abordagem, as crianças podem ser punidas sem realmente saber o motivo e, assim, o mau comportamento pode se repetir. Além disso, a menos que a disciplina seja acompanhada de um bom ensino e o nome do Senhor seja trazido ao caso, os filhos podem se tornar alienados de seus pais, sentindo que estão sendo punidos apenas porque os pais são maiores e mais fortes. Como alguém afirmou com propriedade, “regras sem relacionamento levam à rebelião”. As crianças podem aprender a obedecer a certas regras por medo, mas a rebelião será o resultado final.

A combinação certa 

É necessário equilibrar essas coisas com nossos filhos e, novamente, somente o Senhor pode dar a sabedoria necessária. Algumas crianças têm a consciência muito terna e são muito mais sensíveis à reprovação do que outras. Elas podem precisar de relativamente poucas punições reais. Outras são mais determinadas e, quando são jovens, podem precisar de punições bastante frequentes para ensiná-las. Mas para todas as crianças, uma combinação da vara e da repreensão é necessária.

Hoje, nos círculos mundanos, muitas razões são dadas para não usar a vara, mas a maioria deles pressupõem que ela sempre é usada com raiva e com violência. Referem-se a estudos que supostamente provam que as palmadas não funcionam, mas que têm um efeito negativo. Mas nunca encontramos isso na Palavra de Deus. Deus e Sua sabedoria estão totalmente além do homem. “Seja Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso” (Rm 3:4). Na Palavra de Deus encontramos o senhorio de Cristo introduzido, e assim a Escritura fala tanto aos pais quanto aos filhos. Ambos estão sob o senhorio de Cristo. A atitude e o espírito corretos por parte dos pais são cruciais para uma disciplina eficaz.

Quando as crianças são muito pequenas, pode ser impossível argumentar com elas ou oferecer uma advertência. Em tais situações, a vara deve ser usada, especialmente se a situação envolver a criança colocando sua vontade diretamente contra os pais. No entanto, à medida que crescem, a Palavra de Deus e o senhorio de Cristo devem ser introduzidos, para mostrar claramente que o pecado específico não é meramente contra os pais, mas, em última análise, contra o Senhor. Lembro-me bem de uma mulher Cristã, criada em um lar Cristão, que relatou que sempre que era punida por seu pai (quando ela tinha idade suficiente para se lembrar), ele nunca a deixaria só até que ela e ele tivessem se ajoelhado e ela confessado ao Senhor o que tinha feito. Às vezes, isso levava um tempo considerável, mas ela contou como isso teve um efeito real em seu coração e consciência.

A confirmação do amor 

Isso traz à tona outro ponto muito importante, a saber, que após qualquer punição, é necessário que os pais confirmem seu amor ao filho. Isso será difícil se a punição for dada com raiva ou frustração, e apenas confirma a necessidade de que a disciplina não seja aplicada com esse estado de espírito. Certa vez, um pai disciplinou o filho e desceu as escadas imediatamente, deixando o filho em seu quarto. Sua esposa disse sabiamente: “Você ainda não terminou; você deixou seu filho chorando sozinho no quarto”. O pai reconheceu seu fracasso, subiu as escadas e confortou seu filho, solidificando assim a lição que o menino precisava aprender.

Lidando com a vontade 

Mas há outro ponto de grande importância. Os pais descobrirão com os filhos (muitos deles) que chega um momento, geralmente quando eles têm menos de três anos, que a vontade deles é contrária à de seus pais. A dificuldade pode envolver o que parece ser um assunto trivial, mas a vontade é forte e a criança se recusa a obedecer. Muitas vezes acontece uma verdadeira batalha, e os pais podem ficar tentados a ceder, pensando que todo o episódio está ficando fora de controle. Conheci pais que lidavam com uma criança nessas circunstâncias por algum tempo, decerto com reprovação e disciplina, todavia, o filho ainda se recusava a obedecer.

É crucial que os pais NÃO cedam, se essa situação surgir. Sim, se a criança ficar totalmente agitada e perturbada, pode ser necessário “fazer uma pausa” e talvez retomar o assunto mais tarde. Às vezes, várias sessões com aquela criança podem ser necessárias, se o mau comportamento se repetir. Quase vai partir o seu coração ver o seu filho, a quem você tanto ama, mostrar tamanha teimosia, com tanta determinação. Dói ainda mais ter que continuar trabalhando com aquela criança até que essa vontade seja moldada da maneira certa. Às vezes, em ocasiões como essas, conheci mais de uma mãe que ligou para o marido no trabalho, pedindo-lhe que voltasse para casa e a ajudasse nessa situação. É desnecessário dizer que ele voltou para casa e juntos persistiram perante o Senhor, até que a criança cedeu. Mas, uma vez que essa questão foi resolvida, a criança raramente coloca sua vontade contra o pai novamente. Sim, pode haver falha ocasionalmente mais tarde, mas a vontade foi moldada e o Senhor foi honrado.

Consequências 

O que acontece se os pais cederem, pensando que persistir é muito difícil? Aí será ainda mais difícil no futuro, por ter conseguido vencer a batalha algumas vezes, a criança se esforçará ainda mais para exercer sua própria vontade. Eventualmente, os pais tenderão a desistir. O mundo hoje (pelo menos o mundo ocidental) está cheio de jovens que nunca aprenderam a obedecer, a se submeter à autoridade e a submeter sua própria vontade à de outro. O acesso de raiva de uma criança é muito assustador, mas ver um adolescente ou jovem totalmente fora de controle é um desastre. Como resultado, agora precisamos de cursos de “controle da raiva” e placas em lojas e repartições públicas, alertando as pessoas de que linguagem rude e abusiva e violência não serão toleradas. Isso não seria necessário se os pais fizessem seu trabalho corretamente.

Não devemos nos surpreender ao ver essa tendência no mundo, pois o Senhor nos disse em Sua Palavra que nos “últimos dias sobrevirão tempos difíceis” (2 Tm 3:1 – ARA). No entanto, o lar Cristão deve ser um bastião de luz e paz e um lugar onde o senhorio de Cristo é reconhecido. Que sempre nos lembremos que a sabedoria de Deus é tudo o que precisamos para o nosso caminho aqui.

Obediência por medo 

Mais uma vez, porém, devemos falar sobre equilíbrio, pois podemos ir a extremos em ambos os lados da questão. Por um lado, os pais podem enfatizar a autoridade e a submissão, mas de uma forma que os filhos obedecerão em grande parte por medo. A atmosfera da casa sofre sob esse regime dos pais, e as crianças reagem a isso como “coelhos assustados”. Não é isso que a Palavra de Deus ensina. O amor deve ser o motivo da disciplina, e as crianças devem ser capazes de perceber isso. Se os filhos estiverem totalmente convencidos de que seus pais os amam, isso fará uma enorme diferença na aceitação de admoestações e disciplinas ocasionais. A administração da disciplina nunca é agradável no momento, mas “depois, produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela” (Hb 12:11). Se um filho está firmemente convencido do amor dos pais, isso estimulará o necessário exercício de disciplina e, assim, produzirá o “fruto pacífico da justiça”.

Autoridade abdicada 

Por outro lado, é possível ir ao outro extremo, onde os pais abdicam de sua autoridade dada por Deus e permitem que os filhos desobedeçam abertamente. Conheci crianças em lares Cristãos que não obedeciam até que falassem várias vezes ou até que os pais começassem a contar em voz alta – 1, 2, 3 etc. Sob tais circunstâncias, os filhos logo aprendem o quão longe podem forçar seus pais antes que tenham que fazer o que eles mandam. Então, quando obedecem, geralmente o fazem com uma atitude muito triste de se ver. Este não é um bom resultado e nunca deve ser permitido em um lar Cristão.

Em primeiro lugar, desonra o Senhor, de quem os pais receberam sua autoridade. Se os filhos não aprenderem a se submeter à autoridade dada por Deus no lar, eles não se submeterão à autoridade no sistema educacional, no local de trabalho ou na sociedade em geral. Em segundo lugar, frustra os pais, que, em face da teimosia contínua de seus filhos, podem recorrer a gritar com eles e talvez, eventualmente, perder a paciência. Tudo isso seria evitado se o problema fosse “cortado pela raiz” quando surgisse pela primeira vez. Que o Senhor nos dê sabedoria nestes dias difíceis para agir da maneira certa com cada um de nossos filhos, para que a disciplina piedosa seja administrada, mas com amor e graça que estejam de acordo com os caminhos de nosso Senhor para conosco.

W. J. Prost

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