Origem: Revista O Cristão – Fraqueza e Força
Fraqueza e Força
2 Coríntios 12:1-10
Imediatamente após a redenção, a fraqueza toma conta: “Ele foi crucificado em completa fraqueza” (2 Co 13:4 – KJV). “Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto” (Jo 12:24). Cristo poderia ter subido ao céu como o Filho de Davi, mas se tivesse feito isso não teria ninguém com Ele.
Se o Espírito fosse dado sem o conhecimento da expiação, só produziria um conflito terrível na alma. Não haveria tal coisa como redenção, ser trazido de volta, a não ser pela humilhação de Seu Filho. Se Ele não tivesse se tornado Homem, não poderia ter morrido, não poderia ter sido o Cabeça dos gentios, não poderia ter sido aqu’Ele entre os homens que atendeu a tudo o que era necessário. Ele desceu para medir tudo pessoalmente, em graça. Ele não foi apenas crucificado em completa fraqueza, o grande ponto é que Ele ressuscitou dentre os mortos – Ele mesmo é a Ressurreição e a Vida – e podemos olhar para o túmulo e dizer: “Eu O conheço como a ressurreição e a vida”. Como esse poder opera em nós? É a ressurreição dentre os mortos e, quando conhecida, traz o gosto da morte para tudo que estiver relacionado a nós mesmos. Veja Saulo de Tarso, ele tinha tudo planejado em sua mente para o serviço, e o Senhor Jesus fala com ele do céu. Sua primeira palavra: “Quem és, Senhor?” mostra que ele estava consciente do fim de tudo relacionado a si mesmo. Então a próxima coisa foi: “Senhor, que queres que faça?” Até que Cristo realmente olhe para você, não entenderá que O verá como a revelação da glória de Deus. Então você dirá: ‘Há um Homem lá em cima no céu, ressuscitado dentre os mortos, aqu’Ele em cujo rosto brilha toda a glória de Deus. Se eu quiser saber algo relacionado a Deus, devo aprender com aquele Homem; a resposta para cada pergunta, acima, ao redor, dentro, é encontrada em Sua face. Deus centraliza tudo nesta Pessoa!’
O homem na glória
Muitas vezes pensamos em 2 Coríntios 12 como a experiência do apóstolo, mas nela temos o princípio de Cristo tratando com a alma. Deus me mostra o Homem na glória, mas depois disso eu olho para cima e vejo aqu’Ele que me leva em Seu coração diante de Deus e que nunca se esquece de mim. Chegamos aqui ao princípio do tratamento de Deus com um homem aqui embaixo. Há mais de um princípio no qual o apóstolo estava bastante disposto a ser um peregrino aqui embaixo, e um deles é: “A minha graça te basta”. Se é uma questão de serviço, de sofrimento, de algum poder, onde eu posso obtê-lo? Em Cristo.
Temos outro fundamento em Filipenses 3. Lá, o coração de Paulo estava tão encantado com Cristo que ele queria em tudo ser como Ele, porque Cristo sofreu, ele também quis levar as marcas do sofrimento – ser como Ele de todas as formas possíveis, no caráter moral, no sofrimento, até mesmo “sendo feito conforme a sua morte”. Cristo esteve aqui embaixo como peregrino e estrangeiro, e assim Paulo queria ter as marcas de um de Seus discípulos, em conformidade com Seus sofrimentos, pelo amor que tinha a Cristo.
Um espinho na carne
Mas neste capítulo (2 Coríntios 12) vemos outra coisa. Cristo deseja nos conformar, como Seus discípulos, àquele princípio de morte e ressurreição que n’Ele foi bem antes de recebermos qualquer bênção, para que na vida cotidiana possamos ter Sua força. Olhe para o rumo disso em uma pessoa como Paulo aqui embaixo, a luz que refletiu em seu rosto. Não foi apenas uma questão do perigo que Cristo viu, mas Ele usou Satanás, pois Satanás deu a Paulo o espinho na carne. O propósito de Cristo foi aperfeiçoar Sua força na fraqueza de Seu servo. Toda a cena aqui embaixo está sob Suas mãos, e não são apenas as dificuldades aqui que devemos passar, mas elas são preparadas por Cristo para que Ele possa ser glorificado, levando você através delas. Quem fez o deserto? Deus. E Ele tinha algum propósito especial em fazê-lo como era? Por que Ele não o fez como Canaã? Porque Ele queria um lugar para Seu povo, onde Ele teria que suprir suas necessidades todos os dias. O segredo da quietude e da paz do coração não é olhar para as coisas e dizer: “tenho que enfrentá-las”, antes, Cristo preparou as coisas como elas são para que eu não consiga seguir um único dia sem Ele. Não tenho pão? Não tenho trabalho? Estou doente? Onde está Cristo? Todas as coisas não são apenas anuladas, mas usadas por Ele para que possamos aprender Sua força de amor que nos paralisa, para que Ele possa dizer: “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co 12:9).
Enquanto vou adiante e vejo no meu caminho uma grande rocha, o que eu penso? Como posso superar isso? Não, Cristo permitiu que ela estivesse ali. Ele a colocou no meu caminho para provar a minha fé, e Ele me fará superar esse obstáculo. Você não pode dizer com facilidade e segurança: “Ali está Cristo”, mas assim que a tempestade começa, a fraqueza é sentida, a doença surge e certamente podemos contar com Cristo. Algo extremo nunca O pega de surpresa, embora muitas vezes possa ser um extremo totalmente oposto ao Seu caráter moral. Se Ele deixa uma pessoa por si mesma, não é que Ele a abandonou, mas o faz para provar o coração dela. Se Ele vê um homem cheio de si mesmo, mesmo que seu rosto esteja radiante com a glória, deve deixá-lo um pouco por si só. Se o coração não se curvar a Cristo, deve ser deixado para si mesmo. Se não aprendermos na quietude do santuário, nos encontraremos do lado de fora para aprender o quão pobres somos. Cristo preferiu permitir que Seu nome fosse desonrado e Pedro humilhado do que mantê-lo nas fileiras da Igreja mostrando “boa aparência na carne” (Gl 6:12).
Um senso de fraqueza
João, um exilado em Patmos, pode ter pensado que seu apostolado havia terminado, mas Cristo vem e dá a ele um livro para escrever, revelando coisas de profunda importância para a Igreja em todas as épocas. Temos outro exemplo em Romanos 8. Não sei o que pedir, mas o Espírito faz intercessão com gemidos, e aqu’Ele que sonda o coração sabe disso. Será que eu sei o que eu quero? Não, mas apresentamos nossos desejos diante d’Ele, muitas vezes incapazes de transformá-los em frases. Cristo está lá em cima; Ele sabe o que o Espírito deseja para nós. A redenção, trabalhando através do poder onipotente, conecta Deus e Cristo no céu a mim, um indivíduo insignificante aqui embaixo. Deus está tão ocupado comigo que me leva a desejar coisas espirituais ligadas à glória de Cristo. Apresento o desejo, Cristo entende, e sou levado a um sentimento de fraqueza por esse caráter de comunhão, pois temos Sua “força aperfeiçoada na fraqueza”. Hoje em dia, grande parte do Cristianismo defeituoso se deve ao fato de o povo do Senhor não ter percebido isso. Entendemos que todo o deserto deve ser um livro de morte e ressurreição para nós? Aqui está toda a minha vida desenvolvida por Cristo, e Sua ação sobretudo para desenvolver o princípio da morte e ressurreição, e isso para que eu compreenda: “Minha graça te basta”. Se olharmos para Satanás como um dos poderes pelos quais Deus opera, para o deserto como o lugar preparado por Cristo, onde são mostrados os sinais de Seu amor, e para nós mesmos, paralisados por Cristo para que não tenhamos nenhuma força senão a Sua para agir, encontraremos doçura e frescor para a alma.