Origem: Revista O Cristão – Consciência

A Consciência e os Absolutos Morais

Em uma edição anterior da revista ‘O Cristão’ (Junho de 2014), consideramos o que é absoluto e o que é relativo, particularmente no âmbito moral e espiritual. Entre outras considerações, vimos que o homem é por natureza um ser relativo, mas também responsável perante Deus que, em Sua natureza, é absoluto. Por essa razão, o homem deve lidar com o absoluto e o relativo em sua vida aqui na Terra. No entanto, quando olhamos para a consciência, descobrimos que ela não pode funcionar corretamente, a menos que esteja firmemente conectada aos absolutos morais.

Como vimos em outro artigo nesta edição, o homem adquiriu uma consciência no momento de sua queda em Gênesis 3; ele então passou a ter o conhecimento do bem e do mal. A consciência não era necessária antes disso, pois o homem, em sua inocência, não precisava saber sobre o certo ou o errado. Como ele não era, em seu estado inocente, capaz de fazer algo errado, ele não precisava de uma verificação interna de suas ações. Mas agora, tendo desobedecido a Deus e se tornado “carne do pecado” em vez de carne inocente, Deus deu a ele aquilo que o lembraria de seu pecado, atuaria como um impedimento a isso e, acima de tudo, lembraria sua responsabilidade perante Deus. Desde aquela época, o objetivo constante de homens pecadores tem sido tentar escapar dessa responsabilidade para com Deus.

Luz moral 

Assim como nossos olhos precisam de luz natural para funcionar adequadamente, nossa consciência precisa de luz moral para funcionar da maneira correta, e isso Deus nos forneceu prontamente. Antes da Palavra de Deus escrita, Deus Se revelou diretamente ao homem, deixando claro o que era exigido d’Ele. Desde que a Palavra escrita apareceu, o homem teve abundante testemunho de sua responsabilidade para com Deus. Mais do que isso, Deus é capaz de falar claramente ao homem “em sonho ou em visão de noite” (Jó 33:15) e, às vezes, onde Sua Palavra não está prontamente disponível, Ele continua a usar desses meios hoje. Finalmente, todo homem tem o testemunho da criação, “porque as Suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o Seu eterno poder como a Sua divindade, se entendem e claramente se veem pelas coisas que estão criadas” (Rm 1:20). Embora a criação e entidades, como sonhos e visões, possam não dar luz moral direta, elas lembram ao homem de sua responsabilidade perante Deus e fazem com que ele busque a Deus.

Após a Reforma, que ocorreu em grande parte no século XVI, a Palavra de Deus circulou amplamente na Europa e, finalmente, na América do Norte. Por se dirigir à consciência dos homens, trazia o selo da autoridade moral de Deus. As consciências foram exercitadas por ela, os homens foram levados a sentir a necessidade de um Salvador, e muitos aceitaram a Cristo. Mas mesmo no mundo em geral, havia muitos que, apesar de não terem nascido de novo, aceitavam os padrões morais da Escritura. (Isso era verdade mesmo antes da Reforma, embora a Bíblia não estivesse geralmente nas mãos do homem comum). Como resultado, as leis e o governo foram baseados nos padrões morais absolutos da Bíblia. Nisto reside a diferença entre a Palavra de Deus e as falsas religiões, pois a Escritura traz Deus diretamente para a consciência por meio da Palavra, enquanto o que é falso permanece entre Deus e a consciência. O que é falso forma um deus de sua própria criação e pode até formular alguns bons princípios, mas também permite que os desejos mais básicos dos homens se expressem sob o disfarce da religião. (É triste dizer que, em muitos casos, o que é verdade às vezes é corrompido pelo homem com o mesmo resultado; aconteceu no judaísmo e está acontecendo no Cristianismo).

A Palavra de Deus 

Quando a Palavra de Deus é abandonada, a consciência não tem absolutos para guiá-la, e tudo se torna relativo. Nosso Senhor alertou sobre isso, dizendo ao povo: “Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!” (Mt 6:23). Quando o homem tem a Palavra de Deus, nesse sentido há luz nele. Se ele a abandonar, a escuridão será maior do que se ele nunca tivesse tido a luz. Isso aconteceu com os judeus, pois como alguém observou, não era que eles não tivessem luz, pelo contrário, era a condição da mente. Ao ensinar alguns princípios corretos, uma religião falsa pode até colocar a alma em algum grau de luz, mas deixa o homem na escuridão de seus próprios motivos maliciosos ou cobiçosos. Esse foi o caso dos judeus, pois o judaísmo, assumido pelos motivos corruptos dos homens, pôde prepará-los para matar o Salvador. (Não que o judaísmo fosse uma religião falsa; antes, foi substituída pelo Cristianismo após a vinda de Cristo). O resultado disso em nossos dias foi visto na Alemanha antes e durante a Segunda Guerra Mundial, quando a terra que era um dos berços da Reforma se tornou palco de uma das piores atrocidades da história moderna.

Uma consciência cauterizada 

Conectado com tudo isso, está o que a Escritura chama de “consciência cauterizada” (1 Tm 4:2). Isso não é o mesmo que uma consciência contaminada, embora talvez tenha algumas das mesmas características. Uma consciência cauterizada é aquela que está além do sentimento, tendo perdido sua sensibilidade ao mal. Com constante exposição ao mal e sem a influência da Palavra de Deus, a consciência se torna tão calejada e endurecida que pode realizar os atos mais terríveis sem remorso. Vemos isso manifestado ao extremo naqueles que este mundo descreve como ‘psicopatas’.

Esses indivíduos têm traços de personalidade gravemente anormais e acentuado comportamento desviante, mas frequentemente parecem muito normais e totalmente no controle da situação. Eles geralmente são inteligentes e encantadores, enquanto por baixo dos panos permanecem totalmente egocêntricos, cruéis e aparentemente sem sentimentos ou remorso. Eles também são caracterizados por impulsividade, necessidade de estímulo, falta de responsabilidade, engano e mentiras frequentes.

Declínio moral 

No passado, os efeitos da vida familiar estável, disciplina firme e princípios Cristãos na sociedade tendiam a controlar esse comportamento, pelo menos em grande parte, mas as últimas décadas testemunharam um declínio moral nos países ocidentais que levou a um aumento acentuado de crimes graves. Mais do que isso, esses crimes estão sendo cometidos por crianças cada vez mais jovens, e estamos vendo crianças com menos de dez anos que parecem capazes do tipo de violência sem sentido que antes era vista apenas em criminosos adultos endurecidos. Ficamos tristes com tudo isso, mas não devemos nos surpreender, pois quando o homem abandona a Deus, Deus pode abandonar o homem para que ele experimente todo o efeito do que escolheu.

Sem dúvida, o psicopata é geneticamente predisposto à sua estrutura de má personalidade, mas sua vontade toma essa tendência e permite que ela atue em pecado aberto. Alguns diriam que esses indivíduos nasceram sem consciência, mas isso não é verdade. A verdadeira raiz do problema é encontrada no Salmo 53:1: “Disse o néscio no seu coração: Não há Deus”. A consciência do homem precisa de luz para funcionar adequadamente, e se Deus e Suas reivindicações são rejeitadas, o homem se comporta como se não houvesse Deus. Alguém comentou mais apropriadamente sobre esse versículo:

“O segredo desta rota também é antigo […] todo o caminho dos ímpios vem disso. Para eles Deus não existe. A fé não existe, e Deus não é visto. Essa é a causa de todo erro na prática e no raciocínio humano. Quanto mais examinamos todo o curso da ação humana, nossas falhas como Cristãos, as várias andanças da filosofia, mais descobriremos que o “não há Deus” está na raiz de tudo. Aqui é o caso em que a consciência não percebe Deus. O coração não tem nenhum desejo por Ele, e ele agirá como se não houvesse nenhum. O homem realmente diz (que não há Deus) em seu coração. Por que ele diria isso? Porque sua consciência diz a ele que não há nenhum. Sua vontade não quer ter um, e, já que Deus não é visto em Suas obras, a vontade vê apenas o que ela quer. Deus é posto de lado, e toda a sua conduta está de acordo com a influência da vontade, como se não existisse Deus” (J. N. Darby).

Nova vida em Cristo 

Tendo em vista todo o declínio moral, esse mundo, e até mesmo crentes, podem levantar algumas questões assim como fez Israel nos dias de Ezequiel: “Visto que as nossas prevaricações e os nossos pecados estão sobre nós […] como viveremos então?” (Ez 33:10).

Para o mundo, a única solução é Cristo, pois, a menos que tenhamos nova vida em Cristo, não temos poder para nadar contra a maré do mal que está engolindo este mundo. A resposta para o problema não é o homem tentar se erguer por seu próprio poder, mas aceitar a Cristo como seu Salvador.

Para o crente, a resposta é estar cada vez mais familiarizado com a Palavra de Deus. Sua luz é tão forte quanto sempre foi, e fará sábio ao simples, fará o coração se regozijar, e iluminará os olhos (Sl 19:7-8). A Palavra de Deus permanecerá para sempre, muito tempo depois que a consciência no crente tiver passado. E ela nos manterá agora no caminho agradando ao Senhor.

W. J. Prost

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