Origem: Revista O Cristão – Consciência
Uma Boa Consciência
“Conservando a fé e a boa consciência, rejeitando a qual alguns fizeram naufrágio na fé” (1 Tm 1:19).
Nós, que fomos levados a Cristo pela graça salvadora de Deus, somos presentemente abençoados com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo e na posse atual da vida eterna em Seu Filho. Que bênção indescritível! No entanto, ainda neste mundo, precisamos de graça dia após dia, pois temos a jornada pela vida selvagem, no deserto diante de nós, no caminho para a casa de nosso Pai acima. Para esta jornada, temos a provisão sábia e suficiente de nosso Salvador, visto que Seu poder divino nos deu “tudo o que diz respeito à vida e piedade” (2 Pe 1:3). Mas, assim como José deu a seus irmãos “provisão para o caminho” antes de partirem do Egito de volta a Canaã, ele também lhes deu uma exortação: “Não contendais pelo caminho”. Também precisamos dessa exortação, para que, em vez de cair no caminho, recebamos uma entrada ‘amplamente concedida’ no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, conforme nos falou o apóstolo Pedro.
O Espírito Santo
Ao concluir a grande obra de expiação na cruz do Calvário e provar a morte por todo homem, o Senhor Jesus foi exaltado à destra de Deus. “E tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis”. Isso é o Cristianismo. Crendo, individualmente, na Palavra da Verdade, no evangelho de nossa salvação, cada um de nós foi “selado com o Espírito Santo da promessa”, o Consolador divino que permanecerá conosco para sempre. Nunca antes homens e mulheres de fé foram habitados pelo Espírito Santo de Deus; nunca antes os filhos de Deus poderiam se dirigir a Deus conscientemente como Pai, tendo o Espírito de filiação, pelo Qual clamamos: “Abba, Pai”. Não admira que tenha sido dito: “Toda bênção Cristã é um pico da montanha”. Em humilde adoração, nos curvamos nesta graça, declarando como o mestre do banquete das bodas em Caná: “Tu guardaste até agora o bom vinho” (Jo 2:10).
Mas essa provisão da presença permanente do Espírito Santo em nós, por si só, garante um bom sucesso em nossa vida espiritual para a jornada mencionada acima? Sabemos que não, e que é possível até mesmo um verdadeiro crente, habitado pelo Espírito Santo, ser desviado e ser infrutífero no conhecimento de Jesus Cristo. Portanto, somos ensinados que, tendo recebido o Espírito, agora é essencial que sejamos guiados pelo Espírito (Gl 5:18) e que andemos no Espírito (Gl 5:25). Portanto, em um sentido prático, em minha vida diária, como posso saber que sou guiado pelo Espírito? Como é possível que Ele esteja livre para me ensinar todas as coisas, para me permitir entender e apreciar as coisas que são discernidas apenas espiritualmente, e para exibir o fruto do Espírito em minha vida para Sua glória? Notavelmente, Ele usa algo que eu tinha antes mesmo de ser salvo e esse homem adquiriu milhares de anos atrás: minha consciência.
Discernindo o bem e o mal
Podemos dizer que, assim como o olho é uma parte do corpo que pode discernir a luz, e discernir as coisas pela luz, a consciência é uma parte do homem moralmente capaz de discernir o bem e o mal, ou o certo e o errado. Deus escolheu dar essa habilidade moral ao homem após a queda de Adão, que foi por meio do exercício de sua vontade em desobediência a um conhecido mandamento de Deus, em Quem ele deveria confiar, honrar e obedecer. Esse conhecimento interior incutido em todo homem o deixa sem desculpa, pois Deus garantiu que quando o pecado entrasse no mundo, a consciência também fosse dada ao homem. Mas, assim como o olho não pode gerar luz, o homem não pode determinar o que é necessário para guiar sua vida. O mero conhecimento de que roubar e matar está errado e que trabalho, doação ou outras coisas podem ser boas não orienta adequadamente a vida do homem. O ditado no mundo, “Deixe sua consciência ser seu guia” não é verdadeiro; a consciência não é suficiente. Por isso, damos graças a Deus, pois recebemos a Palavra de Deus, Sua revelação ao homem. Uma revelação é algo que não poderíamos saber por meio de nossos próprios esforços de descoberta ou pela razão; Deus revela certezas e fatos, e a própria verdade, e estes só podem ser recebidos pela fé.
Luz
Como crentes que possuem agora os mais altos privilégios da dispensação da graça de Deus, recebemos, pela fé, o testemunho de Deus em Seu Filho, que veio como a Luz do mundo. Agora, nossa consciência é capaz de funcionar na mais brilhante de todas as luzes possíveis e, em vez de apenas nos ajudar em questões simples e naturais do certo e do errado, servem para nos ajudar de acordo com a liderança do Espírito Santo de Deus e de acordo com a revelação de Si mesmo em Sua Palavra. Assim como nosso corpo, que possuíamos antes de nossa conversão, agora pode ser apresentado em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus, também nossa consciência pode desempenhar essa função espiritual e exaltada de garantir que nossa vida seja consistente com nosso chamado, porque somos imitadores de Deus, andando em amor e andando como filhos da luz. Para o crente, agora se pode afirmar: “Todas as coisas são suas” e “todas as coisas são por sua causa”.
Prazer
Ao tornar-se conhecido por seus irmãos no Egito, José disse-lhes com um coração transbordante: “Chegai-vos a mim”. Já foi dito que o objetivo do amor de Cristo é nos levar ao gozo de tudo o que Ele aprecia. Como nos faz humildes saber que Deus deseja nossa companhia dessa maneira e que Ele deseja isso agora mesmo enquanto ainda estamos aqui neste mundo. Nossa comunhão, é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo, e isso será sentido e desfrutado por nós, ao guardarmos Sua Palavra em resposta ao Seu amor derramado em nosso coração. Esta é a promessa de João 14, de o Pai e o Filho virem a nós e fazerem Sua morada conosco (v. 23).
Somos chamados a essa comunhão com alguém que é santo, e devemos ser santos em todo tipo de conversa. É pela aplicação contínua da Palavra de Deus, pelo Espírito, a nosso coração e mente que somos mais conformados a Ele moralmente, e o efeito prático do lavar da água pela Palavra nos santifica e limpa para que possamos ter “parte com Ele”. Como a fé nos permite ter a esperança n’Ele, também nos leva a nos purificar, assim como Ele é puro. Isso é para manter uma boa consciência. E assim Paulo poderia dizer que se exercitava para ter sempre uma consciência sem ofensa diante de Deus e dos homens.
Uma boa consciência
Uma boa consciência não significa que não falhamos, mas que nos julgamos à luz da Palavra de Deus, se o fizermos. Esse processo interior resgata a raiz das coisas, e tomamos o lado de Deus no que o Espírito chama nossa atenção. Se deixamos de fazer isso, o Espírito se entristece e nossa consciência se torna contaminada. Deus gostaria que guardássemos o mistério da fé em pura consciência.
O fracasso crônico de nossa parte em julgar a nós mesmos e manter uma boa consciência nos rouba o prazer de que precisamos para correr a corrida que está diante de nós; também nos rouba a confiança n’Ele. Se isso progredir, o incômodo de uma má consciência pode nos levar a acomodar nossa fé ao nosso fracasso e inconsistência, ou desviar a verdade para tentar aliviar a consciência. Essa espiral descendente endurece ou amortece a consciência. Dizem que a consciência de um homem nunca será infiel, mas certamente pode se tornar ineficaz, “queimada com ferro quente” ou cauterizada.
Restauração
“Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo” (1 Co 11:32). A mão disciplinadora de Deus pode nos restaurar, pois temos um Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo. Mas quão melhor é experimentar a obra de nosso grande Sumo Sacerdote, sendo mantidos perto d’Ele, com nosso coração se regozijando nos estatutos do Senhor e nossos olhos iluminados com a pureza de Seus mandamentos (Sl 19). “Também por eles é admoestado o teu servo”; somos purificados de falhas secretas e preservados de “grande transgressão”.
Talvez tenhamos passado muitos dias com um “espírito ferido” de má consciência; quão maravilhoso é quando lemos, “Mas contigo está o perdão, para que sejas temido”. Ele pode restaurar nossa alma e fazer “que gozem os ossos que Tu quebraste”, fazendo-nos novamente “ouvir júbilo e alegria” (Sl 51). Ter uma boa consciência, aberta e honesta diante de Deus, permite que a nossa alegria seja plena e nos ajude a servir a Deus de maneira aceitável com toda a humildade da mente.
“Ora, o fim do mandamento é a caridade de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida” (1 Tm 1:5). Que assim seja com cada um de nós!