Origem: Revista O Cristão – Conhecimento
O Conhecimento de Cristo
Uma coisa é para um homem moribundo o ser salvo por outra pessoa, mas é algo mais além, para aquele que foi salvo, conhecer quem o salvou. Assim, também, uma coisa é para um pecador que perece ser salvo por Cristo, e outra coisa é conhecer a Cristo depois de salvo.
Antes de ser salvo, Paulo, como Saulo de Tarso, se diferenciava de entre seus companheiros por seu ódio persistente ao nome de Jesus e sua perseguição aos que O seguiam. Ele se referiu a esse período de sua vida várias vezes em seu ministério, em Atos 26:9-11, quando se defendeu na presença de Pórcio Festo e do rei Agripa, em Gálatas 1:13-14, quando esteve prestes a mostrar que um crente não vive segundo a lei, em 1 Timóteo 1:13, quando falou de sua vida anterior para seu “filho na fé” e também em Atos 22:19-20, onde ele repetiu o que já havia confessado ao Senhor. Ele era um homem de boa posição e cuidadoso em sua observância da lei de Deus, mas, em vez dessas coisas produzirem verdadeira sujeição e amor a Deus, ele havia se tornado o mais valente defensor de Satanás ao tentar derrubar a verdade.
Mas no decorrer do tempo, na estrada para Damasco, ele viu uma luz ‘mais brilhante que o brilho do sol’ brilhando de repente sobre ele, e que o fez cair. E embora um juízo fosse altamente merecido, foi como seu Salvador, que o Senhor o deteve naquele dia, e desde então Saulo de Tarso (cujo nome foi mudado para Paulo), perdoado e salvo, conduz a divulgação do evangelho da graça de Deus.
O Que Foi Ganho e Perdido
E agora em Filipenses 3:4-7, podemos aprender, escrito com sua própria pena, o maravilhoso efeito produzido em sua alma por essa poderosa mudança: “Ainda que também podia confiar na carne, […] ainda mais eu […] Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo”. Quão grandioso é o poder da graça divina! Ele era um homem tão rigoroso em sua observância à lei de Deus que andava sem culpa no meio de seus companheiros. Observe bem estas palavras: “perda por Cristo”. Muitos o criticam, como se lesse “desistiu por Cristo”, mas não era assim que Paulo relatava. Ele se considerava como um ganhador, não um perdedor. Ele teria sido um perdedor se tivesse continuado com aquelas coisas quando já tinha Cristo.
E agora, como é a nossa situação? É Cristo o meu Salvador? Se sim, como estamos olhando para as coisas que são um ganho para nós na carne? Nós nos ressentimos ao desistir delas e a retemos com uma má consciência? Certamente, se conhecemos um Salvador em glória e O valorizamos da maneira correta, não deveria ser assim. Não houve esforço da parte de Paulo. Cego por causa de sua conversão durante três dias, seus olhos foram novamente abertos para serem fixados em um novo objeto, um Salvador em glória que o salvou. Oh, que nós, como ele, possamos dizer à vista de Deus: “Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo”.
A Excelência do Conhecimento
Porém, existe algo além. No verso seguinte (v. 8) lemos: “E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas e as considero como esterco, para que possa ganhar a Cristo”. O que temos falado relata o efeito produzido sobre Paulo na sua conversão, mas ele estava aqui escrevendo aos santos em Filipos aproximadamente 30 anos depois. No versículo 7, ele falou de ter contado como perda todas as coisas por Cristo, o que era um ganho para ele. Isso aconteceu quando ele conheceu a Cristo como seu Salvador, mas então acrescentou: “Sim, sem dúvida, as conto todas como perda”. Por cerca de 30 anos, ele seguiu seu caminho rumo ao objetivo que tinha diante dele. Ele estava cansado e cheio de arrependimento por conta de seu auto sacrifício? Não, ele estava ocupado com Cristo, e superior àquelas coisas que seu coração naturalmente teria procurado e voltado a elas.
O Conhecimento de Cristo
Assim, ele considerou todas as coisas como perda, mas por quê? Por causa de Cristo como Salvador? Sim, mas mais que isso. Cristo ainda era seu Salvador, mas ele não estava satisfeito com isso, então ele diz: “E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus”. Seu coração foi arrebatado pela Pessoa que o salvou, e essa é a verdadeira devoção. Os homens ao seu redor podem se gabar do conhecimento das coisas naturais. As artes e as ciências, a literatura, a astronomia ou a geologia (coisas certas em seu devido lugar) podem atrair a muitos, mas Paulo tinha um objetivo diante dele que era infinitamente superior a todas elas. Ele estava arrebatado pela Pessoa do Cristo. Ele aprenderia sobre Ele, tornando-se mais intimamente familiarizado com Ele, desfrutando de ainda mais profunda e doce comunhão com o Filho do amor de Deus.
Cristo Jesus Meu Senhor
Quantos milhares conhecem a Cristo como Salvador, mas que param aí, aparentemente satisfeitos com Sua obra consumada, talvez regozijando-se e falando sobre a salvação para os outros, e, no entanto, não têm prazer em sua alma para progredir no conhecimento daqu’Ele que os salvou! Eles são gratos por conhecê-Lo como Salvador, mas provavelmente não devem dizer: “Cristo Jesus, meu Senhor”. Sua vontade é mais ou menos ativa e o mundo é mais ou menos atraente. Possuir o senhorio de Cristo significa ter uma vontade quebrantada, doravante sujeitar-se a Ele, e ao mundo como algo sem valor sob nossos pés. Estamos preparados para isso?
Para Que Eu Possa Ganhar a Cristo
E observe também agora, ao encerrar, o que o apóstolo acrescenta: “pelo qual sofri a perda de todas estas coisas e as considero como esterco, para que possa ganhar a Cristo” (Fp 3:8). Cristo não era mera doutrina para ele, mas uma Pessoa viva em glória, que absorvia sua alma e mais do que satisfazia seu coração. Por causa do conhecimento d’Ele, tinha sofrido a perda de tudo o que a carne valoriza, e ele foi habilitado, após 30 anos de experiência no caminho da fé sem essas coisas, a considerá-las como algo imundo, para que ele pudesse ganhar a Cristo. Nisso ele é um exemplo para todos os crentes em Jesus. Tal conhecimento de Cristo, em vez de levar ao descuido e libertinagem, nos preserva do mal. E quanto mais sabemos d’Ele, mais sério será o desejo de que todo o nosso modo de vida seja conformado em todos os detalhes a Ele. E, na verdade, também poderemos dizer como o apóstolo: “Para mim, viver é Cristo”.