Origem: Revista O Cristão – Esdras

Zorobabel e Josué

Comunhão, trabalho e encorajamento 

A história do remanescente que retornou da Babilônia nos é de grande interesse e tem muitas importantes sugestões para nossa orientação. É de grande proveito considerarmos que a mesma graça que os vigiou, os encorajou, e os suportou, agora também está sobre nós. Se estamos verdadeiramente humilhados a respeito de nossas falhas, devemos perceber que a graça é o nosso único recurso.

A graça que nunca falha 

Olhando um pouco para trás, houve um tempo em que Israel, como nação, se adequava satisfatoriamente aos doze pães da mesa dos pães da proposição. Mas esse estado de coisas cessou, e a nação foi dividida. Israel, começando com a idolatria, terminou em juízo, enquanto Judá, preservado na graça por um tempo, também se afastou de Jeová e foi levado para a Babilônia. A noite se instalou na cena do testemunho. A graça que nunca falha ainda teria, entretanto, algo adequado a si própria. O sempre misericordioso Jeová, portanto, restaurou alguns poucos à sua terra, reunindo-os no centro original com um desejo divinamente trabalhado para que Ele fosse devidamente reconhecido. O Seu Espírito permaneceu entre eles (Ag 2:5), e Jeová ordenou que levantassem uma casa para o Seu nome, onde Ele acharia prazer (Ag 1:8), por mais pequeno que este templo fosse se comparado com o de Salomão.

Eles também tinham a permissão de entrar nesse prazer, e a alegria deles aumentava enquanto cantavam: “Sua benignidade dura para sempre” (Ed 3:11). Eles também acrescentaram fé não egoísta “a Israel” – fé que não restringe Deus em Seus atos graciosos, mas se deleita em contar com Sua fidelidade junto com todo o Seu povo. Naquele momento, Deus pôde ver algo em conformidade com Seus pensamentos: um candelabro de ouro com sete canas, produzindo luz em meio a toda treva em virtude do óleo dourado que a Sua graça fornece (Zc 4:12-13). Porém, o testemunho devido a Ele como Senhor de toda a Terra, em Seu poder administrativo (o que dá a mesa dos pães da proposição seu significado) permaneceu com os gentios. Dessa forma Deus pensou no remanescente que foi restaurado, mesmo que fosse desprezível aos olhos daqueles que não O conheciam e nem a Seus caminhos. Então, hoje, a mesma graça estabelece e mantém o testemunho celestial a respeito de Cristo à destra de Deus. Seu lugar atual representa o selo da condenação do mundo, pois Eles rejeitaram Àquele que veio em graça, porque Ele veio em fraqueza. Por esse motivo, o mundo recusou dar a Ele Seu devido lugar (e que o testemunho judaico afirmou), como “Senhor da Terra inteira”. São mais culpados agora, por terem expulsado formalmente aquele Bendito Senhor, quando veio de forma piedosa, “reconciliando Consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados” (2 Co 5:19).

Mas o remanescente piedoso de Judá, como é típico do homem, ocupou-se de sua própria fraqueza, em vez de se ocupar com um Deus que transforma a fraqueza do homem em Sua própria glória. Por falta de fé, eles ficaram desanimados, pois o homem se alegra em ter qualquer desculpa razoável para escapar de sua responsabilidade. Podem surgir circunstâncias que provam sua devoção (compare Esdras 4:23-24; 5:1-2, 5), e em Esdras também encontraram uma ocasião para aquilo que mais agrada a carne: o enaltecimento próprio ou gratificação. Quão natural é para os corações que estavam se tornando mornos, obedecer ao comando de um rei! E mais do que isso, eles deixaram de construir a casa de Deus e encontraram uma oportunidade para embelezar suas próprias casas (Ag. 1:1, 4, 9).

Ageu e Zacarias entram em cena 

Neste ponto, os profetas Ageu e Zacarias entraram em cena, tendo sido enviados por Deus para reunir o remanescente que havia retrocedido. Esse zelo está de acordo com a magnitude do mal de abandonar o trabalho na casa de Deus, sendo que o templo era visto como aquele onde a glória de Jeová estava essencialmente envolvida (Ag 1:8). Esse aspecto da devoção está fora dos pensamentos daqueles que contemplam apenas a bênção e a felicidade do homem. Para tais, a reunião de um grupo fraco em torno do centro que Deus reconhece, não é de nenhuma importância – um desperdício de tempo e de grande dificuldade, e especialmente se essa reunião impedir um “movimento” que tenha em vista (como eles pensam) o benefício do homem.

Os dois líderes 

Em Zacarias 3-4, o profeta se dirigiu aos dois atores principais nesta bendita obra de Deus – Josué e Zorobabel. Os tratamentos de Deus com os seus dois amados servos nesse momento crítico mostram a mais preciosa graça e sabedoria. Cada um é tratado de acordo com as responsabilidades do cargo que tinham: o sumo sacerdote Josué, como adorador, se dedicaria aos fundamentos e Zorobabel, o obreiro, à estrutura. Desde o início, a comunhão com Deus, vista principalmente no caso de Josué, introduz a questão da aptidão para se aproximar de Deus. O avanço do trabalho, no caso de Zorobabel, sugere a questão da força adequada.

Josué e a fundação 

Assim, na visão do profeta, Josué com sua consciência tocada, fica mudo diante de Deus, enquanto o acusador se declara contra ele. Deus, apesar de admitir o estado de Josué, em amor, toma sua causa. Feliz é a porção daquele a quem Deus torna sensível à sua própria culpa, por isso ficou em silêncio diante d’Ele, mas somente para receber de Deus o ensino do que o amor divino pôde fazer por ele contra todos os que o condenaram e com ele quando se humilhou por causa do estado do povo de Deus! Sendo o acusador silenciado, Josué é tratado de acordo com aquele amor e vestido com o manto da justiça. A iniquidade é removida e Josué devidamente estabelecido em seu ofício (Zc 3:5-7) e também se torna completamente ciente da responsabilidade que acompanha sua posição. Para sustentá-lo aqui e àqueles que “se assentam diante” dele em testemunho semelhante, Cristo é profeticamente introduzido com a garantia baseada na pedra angular já colocada diante de Josué (vs. 8-9). Essa é, sem dúvida, uma figura do Bendito de Quem Deus disse, “Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa”. Assim, Josué é atraído pelo amor infinito para a proximidade de Deus, para que ele possa ver, juntamente com Deus, o que está envolvido em sua incumbência atual, e experimentar o gozo que Ele encontra ao contemplar aquilo que prefigura Seu amado Filho. Seus olhos estão engajados com Aquele a Quem a Bíblia chama de “O Renovo” e apenas aqueles que estavam cegos para os propósitos de Deus não puderam ver, na obra que estavam tão prontos para abandonar, a expressão da graça de Deus para eles e uma ocasião para mostrar sua gratidão a Deus pelo que Ele tinha acabado de realizar em sua restauração.

Zorobabel e a construção 

Essas considerações nos levam desde a fundação até a construção. Tudo era desprezível para o homem, mas tudo servia de conforto para o coração fiel, que aprendeu a descansar na avaliação que Deus faz das coisas, pois Ele está satisfeito com aquilo que o homem é propenso a desprezar. Jesus caminhou entre as coisas desprezíveis deste mundo, foi crucificado em fraqueza, foi desprezado e rejeitado pelos homens. Faz bem para a alma saber o que Deus tem dito ao crente – “mortos com Cristo” – desde a cena onde Ele foi vendido por “trinta moedas de prata”. Foi bom para Zorobabel (Zc 4) ter a mente de Deus a respeito desse “dia das coisas pequenas” (v. 10). Deus diz, “não por força, nem por violência” (v. 6), pois essas são apenas as coisas que enchiam os olhos em meio ao esplendor e ostentação da Babilônia, como também são apenas as coisas que todos buscam para realizarem muitas de suas movimentações para o benefício do homem. Essa ocupação com a força e o poder pode também ser um laço para muitos que estão satisfeitos com o dia das coisas pequenas, mas que ainda não aprenderam a ver Deus nelas. Nós também devemos estar satisfeitos com tal poder o qual é o único adequado para sustentar esse aprendizado – um poder que só é conhecido por fé quando é entendido, e é certo que mudará tudo o que é conhecido pelo homem.

Será que Zorobabel deve tremer agora que está sob a desanimadora sombra da “grande montanha” (gentios) e consentir em receber sua ajuda? Quando ele usou, pela fé, o poder com o qual estava munido, a grande montanha se desfez, e toda ostentação humana era mera vaidade. Deus encontra prazer no dia das coisas pequenas, enquanto o pecado é caracterizado pela ostentação. Que regozijo é para Ele ocupar-Se novamente com aquilo que Lhe traz alegria (v. 10), para Aquele que tem sete olhos que percorrem toda a Terra! Deus sempre Se deleita em dar força para uma pessoa que conscientemente se reconhece fraca — a força adequada para empreender e realizar aquelas coisas que Ele quer que façamos por Ele.

O coração precisa de duas coisas que caracterizam a vida: primeiro, a energia que deseja um objeto para seguir, para ganhar a Cristo, e em segundo lugar, o gozo pacífico e tranquilo do lugar onde estamos. Isto é descanso — a felicidade de conhecer uma relação que já está estabelecida de maneira clara e sem nevoeiros. O relacionamento continua além da glória, pois após o Reino e quando tudo já estiver acabado, nós ainda seremos filhos.

Christian Friend, Vol. 6, pág. 62 (adaptado)

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