Origem: Revista O Cristão – Esdras
A Reconstrução do Templo
Como vimos nos outros artigos desta edição, foi o próprio Senhor que trouxe de volta alguns de Seu povo que estavam na Babilônia, depois do cativeiro de setenta anos. Jeremias profetizou sobre aquele período, e Isaías tinha até mesmo dado o nome do rei Ciro (veja Is 44:28; 45:1), o rei persa que daria a ordem para reconstruir o templo. Isaías profetizou pelo menos 175 anos antes que Ciro começasse a reinar.
Assim vemos um grupo relativamente pequeno de pessoas (cerca de 50.000), que retornou no primeiro ano do rei Ciro, com uma ordem específica: “edifique a Casa do SENHOR, Deus de Israel; Ele é o Deus que habita em Jerusalém” (Ed 1:3). Todos os que estavam dispostos foram incentivados a ir, mas apenas um pequeno número respondeu. Mais do que isso, “Ciro tirou os utensílios da Casa do SENHOR, que Nabucodonosor tinha trazido de Jerusalém e… os deu por conta a Sesbazar, príncipe de Judá” (Ed 1:7-8). Ciro ordenou que outras coisas fossem fornecidas, de modo que nada faltasse àqueles que desejassem ir. É interessante ver que entre os que retornaram estava Zorobabel, que era da linhagem real de Davi, e por isso o rei de Israel. Embora, sem dúvida, tenha sido muito humilhante para ele, parece que ele reconheceu a mão de Deus sobre eles e em silêncio, tomou seu lugar simplesmente como uma pessoa do povo.
Um altar construído
É instrutivo ver que assim que o povo chegou de volta a Jerusalém, em primeiro lugar eles “edificaram o altar do Deus de Israel” (Ed 3:2) e ofereceram holocaustos. Eles não precisaram do templo para isso, pois o altar foi o suficiente. Eles não poderiam ter oferecido holocaustos na Babilônia, mas então, finalmente eles poderiam fazê-lo. Deram ao Senhor o Seu lugar e ofereceram primeiramente tudo aquilo que Lhe era devido. Esse é um exemplo muito necessário para nossos dias, porque quando damos ao Senhor o Seu lugar e O honramos antes de tudo, vemos que tudo o mais se encaixa perfeitamente no seu devido lugar.
Nos anos seguintes, eles começaram a reconstruir o templo, e sem dúvida o fizeram com uma verdadeira energia, porém, não demorou muito até que houvesse oposição. Evidentemente, essa oposição continuou durante alguns anos, durante todo o reinado de Ciro. Finalmente Ciro morreu, e foi sucedido por Assuero (Cambises na história), no ano 529 a.C. Durante seu reino, os adversários do remanescente que voltou fizeram uma acusação contra os judeus, e mais tarde, no reinado de seu sucessor Artaxerxes (Esmérdis na história, que começou a reinar em 522 a.C.), eles tiveram sucesso em obter um decreto real para que a obra parasse. Seus inimigos puderam fazê-los parar “à força de braço e com violência” (Ed 4:23).
Os motivos da paralização
Parecia que eles não poderiam continuar, e é verdade que no momento estavam proibidos de fazê-lo. No entanto, é necessário olhar por trás das cortinas para ver o verdadeiro motivo disso. Pode parecer que os homens apenas paralisaram a obra, porém, o verdadeiro problema estava no coração do povo de Deus. Os detalhes não são registrados no livro de Esdras. A oposição dos adversários é relatada, mas não diz nada sobre a condição moral do povo. Devemos ir ao livro de Ageu para ver isso, e ali encontramos que enquanto Ageu não dizia nada sobre os adversários, ele expôs a condição moral do povo. Como alguém comentou com aptidão: “A história relata os eventos; a profecia relata as condições morais que estão por trás das ações do povo”. Encontramos a primeira em Esdras e a segunda em Ageu. Ageu, juntamente com Zacarias e Malaquias, profetizou depois do cativeiro, e suas palavras foram particularmente direcionadas àqueles que voltaram a terra sob o decreto de Ciro. É evidente que o povo perdeu o interesse de construir a casa do Senhor, pois Ageu escreve: “Este povo diz: Não veio ainda o tempo, o tempo em que a Casa do SENHOR deve ser edificada” (Ag 1:2). Depois de pouco tempo reconstruindo o templo, o povo ficou não somente desencorajado pelas constantes ondas de protestos que vinham de fora, mas também ficaram ocupados com seus próprios negócios e negligenciaram o templo. Tudo isto ocorreu provavelmente durante um período de aproximadamente doze anos. Como resultado, Ageu repreendeu o povo porque estavam habitando em suas “casas estucadas” enquanto a casa de Deus estava deserta. Ele mostrou que a mão de Deus estava contra eles, e por isso suas colheitas não foram boas, e seus salários não eram suficientes para suas necessidades. Como diz na Palavra: “Esperaste o muito, mas eis que veio a ser pouco” (Ag 1:9 – ACF), por que o Senhor fez “vir a seca sobre a terra… e sobre os animais, e sobre todo o trabalho das mãos” (Ag 1:9, 11). Sobre tudo isto, foi dito: “e não houve entre vós quem voltasse para Mim, diz o SENHOR” (Ag 2:17).
O que aconteceu aqui é um princípio de Deus. Assim como Ele abriu uma porta por meio de Ciro para que o povo retornasse para sua terra, da mesma forma hoje lemos que, “eis que diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar” (Ap 3:8). Mas se falharmos em obedecer ao chamado de Deus para tirarmos vantagem da porta que Ele abriu, Ele pode, em Seu governo, permitir que ela se feche, para que possamos fazer como Ageu exortou ao povo: “Considerai os vossos caminhos” (Ag 1:5, 7).
“Eu Sou convosco”
Mas a mensagem de Ageu não foi somente negativa, ele também encorajou o povo dizendo a eles: “Eu Sou convosco, diz o SENHOR” (Ag 1:13). Também disse a eles, “esforçai-vos… e trabalhai”, e ainda disse, “Meu Espírito permanece no meio de vós: não temais” (Ag 2:4-5). Finalmente, ele profetiza a respeito de um futuro glorioso, como um encorajamento especial para aqueles que poderiam estar contristados pela pequenez da obra comparada com a dos dias passados.
Felizmente, houve um resultado positivo em tudo isso, pois o povo ouviu a Palavra por intermédio de Ageu, especialmente alguns líderes como Zorobabel e Josué. O povo começou novamente a construir o templo com energia renovada, embora eles não tivessem nenhum comando do rei para novamente prosseguir. Mas quando o Senhor está trabalhando, nós vemos que o “coração do rei está na mão do SENHOR” (Pv 21:1). Naquela altura, Artaxerxes tinha sido substituído por Dario (521-485 a.C.). O governador local e outros imediatamente inquiriram os judeus, querendo saber quem tinha dado a ordem para construir o templo. E naquela ocasião o povo tomou a posição correta diante de Deus, pois reconheceram sua posição perante as autoridades e o rei, e admitiram que estavam em tal posição porque “nossos pais provocaram à ira o Deus dos céus” (Ed 5:12). Eles também os lembraram do decreto de Ciro autorizando a construção.
A nova ordem do rei
O maravilhoso resultado foi que Dario fez uma busca e constatou que era verdade o que diziam. Dario evidentemente tinha um grande respeito por Ciro e pelo que ele tinha feito, e de acordo com isso, ele deu seu parecer em favor dos judeus, e até mesmo ordenou que as autoridades civis os ajudassem, usando os fundos públicos. A construção do templo foi retomada e concluída “no sexto ano do reinado do rei Dario” (Ed 6:15), cerca de 515 a.C. O povo então “celebraram com regozijo a dedicação desta casa de Deus” (Ed 6:16 – TB).
Novamente encontramos aqui um princípio de Deus em Seus caminhos com Seu povo, cujo mau estado moral fez com que parassem de construir o templo, e por isso Deus permitiu que as autoridades os fizessem parar formalmente. Então, quando houve arrependimento e restauração a um bom estado moral, eles começaram a reconstruí-lo novamente, mesmo que não houvesse nenhuma autorização governamental para isso. Mas, então, Deus interveio e não somente reverteu a determinação contra eles, mas acrescentou providencias para ajudá-los naquilo que eles não pediram. O ponto de referência em cada caso, não foi o poder do homem, mas sim o estado moral do povo.
Quando estamos no caminho da vontade do Senhor, todo o Seu poder está a nosso favor. Isso não significa que não possamos encontrar dificuldades em fazer a vontade do Senhor. Não, Ele pode permitir essas coisas para nos testar. Mas Sua vontade nunca poderá ser frustrada, Ele preparará o nosso caminho, se olharmos para Ele, e mantivermos nossa posição diante d’Ele.
