Origem: Revista O Cristão – A Vida de Jacó
A Juntura da Coxa de Jacó
“Jacó, porém, ficou só” (Gn 32:24). Essa foi a ocasião de sua maior bênção. O início de sua história espiritual foi em Betel (cap. 28), mas aqui ele está completamente quebrantado e recebe esse maravilhoso nome de Israel.
Observe como uma crise como essa é frequentemente o momento da mais rica bênção espiritual. Jacó havia acabado de escapar de Labão, mas aparentemente caiu em mãos muito piores – as de seu ofendido irmão Esaú. Agora, até o próprio Deus parecia estar contra ele, pois “lutou com ele um Varão, até que a alva subia”. Mais tarde em sua história, o próprio Jacó proferiu o clamor: “Todas estas coisas vieram sobre [contra – JND] mim” (Gn 42:36). Mas em ambos os casos, o sofrimento foi o precursor da bênção. O processo de nos quebrantar geralmente é longo, mas não pode haver verdadeira bênção para nossa alma sem isso. A experiência dos filhos de Deus em todas as épocas atesta isso. Paulo é descido em um cesto antes de ser arrebatado ao terceiro céu. Se Deus está tratando conosco, por mais doloroso que seja o processo, certamente as bênçãos se seguirão, se apenas nos humilharmos diante d’Ele. Não são grandes ou proeminentes dons que mais precisamos, senão que seja tocada a juntura de nossa coxa – para não confiarmos na carne, pois quando somos fracos, somos fortes. Mas não gostamos de admitir que somos fracos, e Deus tem que lutar conosco como fez com Jacó, não para provar que Ele é mais forte do que nós, mas para nos tornar conscientes de nossa fraqueza e que podemos nos apoiar n’Ele para obter força.
Lutar ou se apegar?
Jacó continuou lutando até que a juntura de sua coxa foi tocada e deslocada a articulação. Ele não podia mais lutar, mas podia se segurar, e se segurou. Agora não é Deus que luta com Jacó, mas Jacó se apega a Deus, e é isso que deve acontecer com todos nós. Se nos apegamos a outro, isso implica que confiamos em sua força; se lutarmos, isso mostra que temos confiança em nós mesmos. Estamos nos apegando ou lutando? A fraqueza se apega; a força luta. E conosco, qual delas acontece? Nós aprendemos a nos apegar a Deus? É fazendo assim que encontramos bênção. Uma coisa é Deus se apossar de nós, e outra coisa é nos apossar d’Ele. Somente fraqueza sentida sabe como fazer isso. “A Ele nossa fraqueza se apega”, como às vezes cantamos (Hinário Little Flock Himnbook, hino 316).
“Deixa-me ir, porque já a alva subiu”. Ah, Jacó, você pode deixá-Lo ir agora! O dia chegou. É esse o pensamento de Jacó? Bem longe disso. Porém ele disse: “Não Te deixarei ir, se me não abençoares”. O dia deve ter sido muito bem-vindo depois de uma noite de batalha, mas para Jacó, Deus era melhor que tudo. E observe que é d’Aquele próprio que deslocou a coxa de Jacó que ele espera a bênção. E ele estava certo. Temos nós aprendido a conhecer a Deus assim – que Ele apenas aflige para abençoar – apenas enfraquece para dar espaço à Sua força? Talvez você tenha sofrido alguma aflição. Você já se apegou a Deus nela e clamou: “Não Te deixarei ir, se me não abençoares”? Há uma bênção por trás da provação, como houve para Jacó. Era doloroso ter sua coxa deslocada – talvez mais doloroso confessar o que ele era – mas que bênção seguiu! Deus não aflige simplesmente por afligir, mas apenas para preparar o terreno para as bênçãos reservadas. Estamos prontos para dizer a Deus: “Tu podes tirar tudo de mim; apenas dá-me a Ti mesmo; Eu não Te deixarei ir”?
Um novo nome
Deus disse: “Qual é o teu nome? E ele disse: Jacó”. Deve haver a confissão mais completa se queremos a bênção. Se Deus não tem nenhuma reserva para conosco, não devemos esconder nada d’Ele. Jacó confessou o que era – “Eu sou o suplantador”. Ele aprende duas lições aqui, as quais também devemos aprender – sua fraqueza e sua pecaminosidade. Sua fraqueza foi demonstrada por sua coxa ter sido deslocada, e sua pecaminosidade por ser um suplantador. E agora que essas duas lições foram aprendidas, Deus pode vir e dizer-lhe: “Não se chamará mais o teu nome Jacó, mas Israel”. Que mudança! Mas é assim. “[Ele] que do pó levanta o pequeno e, do monturo, ergue o necessitado, para o fazer assentar com os príncipes, sim, com os príncipes do Seu povo” (Sl 113:7-8).
Por que não somos mais abençoados? A resposta simples é: não chegamos ao fim de nós mesmos. Os pobres e os necessitados, como nosso salmo nos diz, e aqueles que se tornam fracos, como Jacó, são aqueles a quem Deus pode fazer príncipes. Mas há uma outra pergunta: Como essa condição pode ser alcançada? Por estar ocupado com Deus e entrando frequentemente em Sua presença. Aproveitando todas as oportunidades de estar a sós com Deus, aprendemos que deve ser Cristo e não o “eu”.
E então Deus interpreta o nome para ele. “Pois, como príncipe, lutaste com Deus e com os homens e prevaleceste”. Era sua fraqueza que prevalecia, não sua força. Sim, é nossa fraqueza que tem poder com Deus, assim como o choro de uma criança tem mais poder com a mãe do que o choro de um homem forte. Por que uma mãe corre tão ansiosamente por causa do choro de seu bebê? É o clamor da impotência e, até que aprendamos nossa total fraqueza, nunca teremos poder com Deus. Não foi o Jacó forte do versículo 24, mas o Jacó fraco do versículo 25 que prevaleceu. Isso é mencionado em Oséias 12:4, onde lemos sobre Jacó: “Como príncipe, lutou com o Anjo e prevaleceu; chorou e Lhe suplicou; em Betel O achou, e ali falou conosco”.
Foi um nome maravilhoso que Jacó recebeu. Mas ele não estava contente – ele queria saber outra coisa. Ele disse: “Dá-me, peço-Te, a saber o Teu nome”. Com Jacó agora, o desejo é conhecer a Deus, pois ele está olhando para longe de si mesmo. Ele está na presença de Deus, e tudo o mais é esquecido. “Não Te deixarei ir! Diga-me o Teu nome”.
O lugar da fraqueza
“E saiu-lhe o Sol, quando passou a Peniel; e manquejava da sua coxa” (Gn 32:31). Devemos sempre permanecer no lugar da fraqueza, pois é o lugar do poder. Jacó aqui era como Paulo depois, que poderia dizer: “De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas”. Israel sempre teve que voltar a Gilgal, e Paulo tinha um espinho na carne. Não temos recursos em nós mesmos. Jacó mancava por causa de sua coxa; no entanto, ele havia prevalecido. Ele tinha que encontrar Esaú agora com um tendão encolhido, mas isso o ensinou a não confiar em sua própria força natural, mas n’Aquele que o havia enfraquecido e fortalecido.
Inclinando-se e adorando
Tendo analisado a história espiritual de Jacó, concluiríamos agora tocando no final de sua vida. Nos referimos a Hebreus 11:21, onde lemos: “Pela fé, Jacó, próximo da morte, abençoou cada um dos filhos de José e adorou encostado à ponta do seu bordão”. É a única menção a ele neste capítulo, mas ele é visto como um adorador, e seu bordão indica o seu caráter peregrino. Com seu bordão, ele passou pelo Jordão no começo de suas andanças, e agora ele está à beira do túmulo, e ainda é o bordão, mas quão diferente, como mudou o homem que se apoia nele! É a sequela do deslocamento da juntura da coxa sendo tocada. A lição havia sido aprendida – ele se inclina. Quem pode adorar e abençoar os outros deve ser ele próprio dependente. E podemos nós, alguma vez, nos permitir ser outra coisa? Para Jacó tudo agora era um deserto, pois ele estava fora da terra prometida. Mas que grandeza moral investe esse peregrino idoso! Ele abençoa os filhos de José e adora a Deus.
R. E. – Christian Friend
