Origem: Revista O Cristão – O Apóstolo João e Seu Ministério
João e o Apocalipse
Vamos examinar qual é a natureza e o caráter do livro de Apocalipse. É um livro de julgamentos, mas é especialmente João quem traz esse ponto de vista, enquanto fala das verdades relacionadas à nossa salvação, especialmente a presença do Espírito Santo, e, na epístola, de propiciação. Em seu evangelho, é o Filho que veio como vida, a vida sendo a luz dos homens. Na epístola, isso é tomado como base, e a vida é comunicada a nós, e sua existência testada por seu verdadeiro caráter de nos proteger contra os enganadores. É notável que, exceto em algumas passagens que vêm para completar a verdade aqui e ali (e são muito poucas e curtas), João nunca vê essa vida levada ao seu resultado final no propósito de Deus, mas manifestada neste mundo, seja no próprio Cristo ou em nós. O fato de que subiremos ao alto para a casa do Pai é algo abençoadamente declarado no começo de João 14 e desejado no final do capítulo 17, mas não é em nenhum lugar o assunto geral.
João apresenta a Pessoa divina do Filho em vida (e isso em graça em carne, o amor divino mostrando a si mesmo e ao Pai), em Sua abençoada superioridade ao mal e, por isso, a extrema doçura dos escritos que ele nos deu pelo Santo Espírito – e, como o amor divino faz, adaptando-se à necessidade e tristeza ao seu redor, a tudo o que o coração humano poderia precisar, e ainda assim sempre luz. Em João, não temos o homem sendo levado ao céu, por assim dizer, mas temos o próprio Deus em graça, o Filho revelando o Pai na Terra. O evangelho e a epístola, como vimos, revelam essa vida em si mesma ou em nós, mas o evangelho (pois a epístola nos dá a vida entre a partida e a volta do Senhor) nos dá no final um indício do apóstolo mantendo um testemunho da vinda de Cristo. Ele não disse que João não morreria, mas que, se Ele quisesse, ele ficaria até que Ele viesse. Paulo podia edificar a Igreja, pôr seu fundamento como sábio arquiteto; Pedro podia ensinar um peregrino a seguir Aquele que ressuscitou e que, pela Sua ressurreição, o havia gerado de novo para uma viva esperança – como seguir seu Mestre pelo deserto, no qual, afinal, Deus ainda governava. Estes, e outros, também alertam quanto aos males que hão de vir. Mas aquele que era tão pessoalmente próximo de Cristo – esse (o discípulo a quem Jesus amava) podia zelar, com o poder do amor divino, pelas glórias da Igreja na Terra, que estavam desaparecendo, na energia de uma vida que não podia falhar nisto. E ele poderia passar, com uma visão profética, a estabelecer os direitos da mesma Pessoa (fora e por parte do céu, mas ainda assim) na Terra – direitos, cujo estabelecimento deve trazer paz à Terra, e abolir o mal, e fazer valer esses direitos, onde o profeta os havia visto desprezados, em Um que ele tanto amava, manifestado na Terra, e conectar a excelência do glorificado Sofredor com a bênção de um mundo resgatado, o qual a graça poderia abençoar por meio d’Ele, embora já O tivesse rejeitado antes. A maneira de realizar isso, com o histórico anterior da Igreja de falha, é o que nos é dado no Apocalipse, com a Pessoa profeticamente conhecida e a glória de Cristo Se conectando, primeiro com a assembleia responsável na Terra, embora depois judicialmente, e depois com a Terra.
