Origem: Revista O Cristão – Vida Eterna
Comunhão com o Pai e com o Filho
O assunto da primeira epístola de João é a comunicação da vida divina. Nos Evangelhos, temos a exibição dela na Pessoa e no caráter de Jesus Cristo, mas, nas epístolas, temos a comunicação dela. Os quatro primeiros versículos de 1 João 1 exibem a beleza da vida eterna fora de nós – primeiro como manifestada no Filho Jesus Cristo, e depois como comunicada por Deus por meio d’Ele. Do quinto versículo até o fim, é comunhão com Deus. Também temos testes da vida divina, pois a vida divina em comunhão com Deus exibe o pecado em nós, e surge a questão de como podemos ter comunhão com Deus. Esses testes são feitos para nos assegurar da posse da vida, visto que “nisto sabemos que O conhecemos: se guardarmos os Seus mandamentos” (1 Jo 2:3).
A comunicação da nova vida
É necessário comunhão com Deus para sermos felizes em Sua presença. Se tentarmos andar com Cristo sem ter comunhão com Ele, seremos infelizes. Mas como é que pessoas como nós temos comunhão com o Pai e com o Filho? Pela comunicação de uma vida inteiramente nova – algo que nunca tivemos antes. Cristo Se tornou Homem e, como Homem, por causa do pecado Ele manifestou a vida divina aqui na Terra de uma maneira que ela nunca poderia ter sido manifestada, se não fosse por causa do pecado. Ela não poderia ter sido exibida dessa maneira no céu. A luz resplandeceu nas trevas. O homem natural (o primeiro Adão) não viu beleza n’Ele – nada para admirar. Mas, bendito seja Deus, a paciência da graça foi maior do que o pecado.
A vida divina foi adaptada às nossas necessidades por estar no Filho Jesus Cristo. N’Ele, o coração ao qual a vida foi comunicada pode ver a perfeição da vida divina. Foi para o homem como pecador que a vida divina se manifestou, e assim vemos o amor se adaptando a nós na Pessoa do Filho Jesus Cristo. João diz: “Vós… O conheceis e O tendes visto”. Eles O ouviram todos os dias, e o que foi que eles viram? Vida eterna. Você pode perguntar a muitos Cristãos o que é a vida eterna, e eles não conseguirão te dizer, embora eles a tenham dentro de si. Cristo é a vida eterna. João diz que “a vida foi manifestada, e nós a vimos”; eles viram e ouviram Cristo, e Ele era a vida eterna.
Vida eterna perfeitamente manifestada, depois comunicada
A vida eterna foi primeiro manifestada, depois comunicada; como é dito mais adiante: “E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em Seu Filho” (1 Jo 5:11). Se eu não tenho Cristo, não tenho vida em mim, mas há imenso gozo no fato de que a vida que tenho está em Cristo, e não em mim mesmo. A vida divina foi perfeitamente manifestada em Cristo: nós temos o tesouro em vasos de barro; portanto, ela é exibida fracamente em nós.
A comunicação da vida, ao nos dar uma nova natureza, torna natural para nós amar o que Cristo ama e fazer como Cristo faz. É necessário obediência, pois obediência a Deus é a essência de fazer o certo, mas, mais do que isso, Cristo Se separou como o Homem perfeito e glorificado, para atrair as afeições do meu coração para Ele. Meus desejos devem fluir de acordo com a nova natureza que Ele concedeu. Se eu recebo Sua Palavra, eu recebo Cristo, e Ele é a vida eterna. De agora em diante, eu odeio o pecado, e o Filho de Deus é minha vida. Se Cristo é minha vida, isso é comunhão. Meu andar não deve ser resultado meramente de obediência, mas dos mesmos sentimentos que os de Cristo. Portanto, o Espírito, por meio de João, diz “andarmos na luz”, não de acordo com a luz, o que seria obediência, mas na luz, o que é comunhão.
Comunhão
A vida divina foi manifestada; a vida divina foi comunicada, “Estas coisas vos escrevemos, para que o vosso gozo se cumpra”. É Jesus o deleite do Pai? Então Ele é o meu; minhas afeições podem ser fracas, mas em alguma medida elas fluem na mesma direção que os pensamentos do Pai. Isto é comunhão com o Pai. E, então, é o Pai o deleite do Filho, e Sua confiança, e gozo? Então Ele é o meu, e isso é comunhão com o Filho. “Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo”.
Aqui, por enquanto, o pecado é deixado de lado, porque a nova vida não tem nada a ver, por assim dizer, com o pecado (embora tenhamos que lidar com ele). A nova vida está no Último Adão; esta vida e gozo é a bem-aventurança do céu. Mas aqui embaixo somos responsáveis. A vida eterna se manifestou, e agora a mensagem para nós é que Deus é luz e n’Ele não há trevas, de modo que, se dissermos que estamos em comunhão com Ele enquanto andamos em trevas (o apóstolo usa uma linguagem muito clara) nós mentimos. Se eu falo de ter comunhão com Deus, devo ser capaz de estar na Sua presença e desfrutar dela. Não é que eu seja bom, mas que Deus me purificou. Não depende da minha imundície, mas do Seu poder de purificar. Quando lavo algo, não fico pensando se estava muito sujo ou um pouco sujo, mas que agora está limpo. E o mesmo acontece com os santos, mas “agora estais limpos”, e Deus Se deleita em olhar para mim, porque Ele me lavou. Não depende dos meus grandes ou pequenos pecados, mas da boa lavagem, do valor do sangue. Então leio: “O sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1 Jo 1:7). Você tem comunhão com Deus e com Seu Filho Jesus Cristo.
Advocacia
No versículo 9, lemos: “Se confessarmos os nossos pecados”, não pecado apenas, mas pecados. Temos uma natureza má, mas também temos uma conduta má quando não reprimimos a natureza má.
Existem as duas coisas, que são distintas: perdão dos pecados cometidos (má conduta) e purificação do pecado em abstrato (a natureza maligna). Não posso entrar na presença de Deus, a não ser por Cristo, e, ao entrar por meio d’Ele, entro sem mácula e absolutamente purificado. Então, há a minha fraqueza diária. Estou de fato reconciliado, mas sou fraco. Por isso os detalhes do curso de alguém assim são dados agora. Aquele que busca andar na luz costuma falhar, mas nunca procura desculpas. Ele não pode dizer: “Eu não pude evitar”, porque Deus disse: “A Minha graça te basta… o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co 12:9). Eu costumo falhar, mas isso não altera o fundamento da minha justiça diante de Deus. Cristo é a minha justiça; eu não tenho outra. Sua agonia e morte garantiram minha justiça. Eu mudo; eu falho; Ele é imutável, infalível. Pode Ele permitir minha culpa? Não. Ele é o meu Advogado como também a minha propiciação; eu me volto a Deus, e Ele perdoa.
