Origem: Revista O Cristão – A Vinda do Senhor
O Que Desejar Primeiro e Acima de Tudo
“Disse o Senhor ao meu Senhor: assenta-Te à Minha mão direita, até que ponha os Teus inimigos por escabelo dos Teus pés” (Sl 110:1).
As circunstâncias de rejeição em Mateus 22, que levaram o Senhor Jesus no final de Seu ministério a citar o Salmo 110:1, são uma indicação do curso que Ele estava prestes a seguir. Um entendimento correto dessas circunstâncias nas quais Ele assentou-Se nas alturas nos permite apreender o quanto é moralmente necessário que Sua vinda seja a constante e ansiosa expectativa de Seu povo aqui na Terra durante Sua ausência.
O Senhor Jesus é chamado a assentar-Se lá em cima, até que Seus inimigos sejam feitos escabelo de Seus pés, e lá Ele agora está esperando. O fato de Ele citar o Salmo 110 naquele momento específico mostra que Ele estava ciente de Sua rejeição.
Ele está assentado à direita do poder. Todo poder foi dado a Ele, no céu e na Terra. Ele é o Leão da tribo de Judá, a Semente prometida, o verdadeiro Filho de Davi. Mas, ao ser rejeitado, tendo os Judeus recusado as fiéis misericórdias de Davi, os tempos de refrigério, que deveriam vir com a presença do Senhor na Terra, são adiados. Ele Se assenta à direita de Deus, esperando até que Seus inimigos sejam feitos escabelo de Seus pés. Ele abdica Seu direito e governo por um tempo, mas isso faz com que Seu retorno necessariamente seja a primeira expectativa de Seu povo, como também o verdadeiro critério do estado do coração deles em relação a Ele.
Seu desejo
A Escritura nos fornece quatro razões pelas quais a vinda do Senhor deveria ser nossa principal expectativa. Primeiro, é o desejo do próprio Senhor vir. Não poderia haver maior incentivo ou motivo de expectativa ou desejo para o coração verdadeiro do que a simples certeza de que é o desejo do próprio Senhor vir. E porventura não é assim? Ele diz que vai embora até que Seus inimigos sejam postos por escabelo de Seus pés, assim indicando claramente que é por causa de Seus inimigos que Ele, por um tempo, está ausente, e que, portanto, é o tempo de Sua paciência, como João diz: “no Reino, e na paciência de Jesus Cristo”. Ele espera e é paciente até que chegue o tempo do Seu retorno, mas Seu coração está decidido quanto a isso. Ele diz: “E, se Eu for e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para Mim mesmo, para que, onde Eu estiver, estejais vós também” (Jo 14:3). Em Apocalipse 22, a resposta d’Ele, quando o Espírito e a Noiva dizem: “Vem”, é: “Certamente, cedo venho”.
Nosso bendito Senhor também declarou a eles a bênção que eles receberiam se fossem achados esperando por seu Senhor. Tal fidelidade de coração é tão grata a Ele que Ele pronuncia: “Bem-aventurados aqueles servos, os quais, quando o Senhor vier, achar vigiando”. Ele continua, revelando do Seu coração como Ele aprecia tal estado de alma: “Em verdade vos digo que Se cingirá, e os fará assentar à mesa, e, chegando-Se, os servirá”. Nenhuma atitude é tão agradável a Ele quanto vigiar e esperar por Seu retorno. Haverá manifestações ilimitadas de Sua satisfação, nas ricas porções de Seu amor, para aqueles engajados dessa maneira. Se Seu povo for fiel a Ele, eles devem ser aqueles que lamentam Sua ausência e cujo coração pede a eles que esperem por Ele do céu (1 Ts 1). É Seu próprio desejo voltar para nos receber para Si mesmo, e, portanto, certamente o coração que é fiel a Ele, que é próximo a Ele, deve responder a esse desejo do Seu coração, mantendo o desejo do Senhor de retornar como sua principal expectativa. A alma que está perto d’Ele absorve o propósito e o desejo d’Ele e sente a desolação aqui durante Sua ausência bem como o desgoverno de tudo, porque não é o dia de Seu poder.
Seus direitos
E isso nos leva à segunda razão pela qual a Sua vinda deve ser nossa principal expectativa, a saber, porque Seus direitos não serão estabelecidos até que Ele venha. Que alma justa ou que coração amoroso pode olhar a desordem e o desgoverno deste mundo agora nas mãos do homem, sob o deus deste mundo, sem ser oprimido com o sentimento de que seu legítimo Senhor não está aqui, que o Rei dos reis e o Senhor dos senhores não é reconhecido nem está governando. Sabemos que Ele é o legítimo Senhor, que Deus colocou todas as coisas debaixo de Seus pés, e ainda assim não vemos todas as coisas colocadas sob Ele (Hb 2:9). Sabemos que é o dia do homem e, portanto, não julgamos nada até que o Senhor venha, até o dia de Seu poder. Os justos sentem que Seu lugar é ocupado por outro. Portanto, o servo fiel está no reino e na paciência de Jesus Cristo. O lugar do crente agora é estar na ceia do Senhor, anunciando a morte do Senhor até que Ele venha.
Quanto mais sabemos de Seus direitos na Terra que são usurpados por outro, mais estaremos separados do mundo – o sistema que ainda O rejeita. Quanto mais conscientes estivermos disso, mais devemos, porque é justo, desejar que Aquele a Quem pertence o direito venha e reine. Ele não pode reinar até que venha. O poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo foram exibidos no monte santo. Aquele era o reino de Deus vindo com poder, revelado por um momento a alguns fiéis na Terra. Quão abençoado e quão maravilhoso! Um verdadeiro sentimento e senso de Seu direito de governar as coisas aqui me fará ansiar ardentemente pelo dia de Sua glória, quando Ele virá reinar. Não posso estar verdadeiramente em Seu reino e paciência sem um ardente anseio pelo tempo em que Ele irá tomar para Si Seu grande poder e reinar. Então, assim que o sétimo anjo soa, dizendo: “Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do Seu Cristo”, há a resposta: “Graças Te damos, Senhor, Deus Todo-poderoso, que és, e que eras, e que hás de vir, que tomaste o Teu grande poder e reinaste”.
O apóstolo (1 Tm 6:14-16) exorta Timóteo sobre a “Aparição de nosso Senhor Jesus Cristo”. Esse seria o seu incentivo para guardar o mandamento sem mácula e repreensão, porque Ele, no tempo oportuno, a manifestaria – Ele, o bendito e único Soberano, Rei dos reis e Senhor dos senhores (ARA). O coração necessariamente se voltava para o tempo em que Ele seria colocado em Seu verdadeiro lugar e no pleno exercício de Seu poder. Além disso, na segunda epístola, ele caracteriza os santos como amando a Sua Aparição. É o direito d’Ele reinar. Ele agora está esperando até Sua hora designada chegar. O estabelecimento de Seu direito também será nosso ganho, que é uma terceira razão pela qual devemos desejar Sua vinda.
Seu desejo, nosso ganho
Portanto, Pedro escreve, “cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo” (1 Pe 1:13). Sua vinda, Sua exaltação, conferirá as maiores bênçãos aos santos. Primeiro, a ressurreição do corpo dos santos não ocorre até que Ele venha. “Cristo, as primícias; depois, os que são de Cristo, na Sua vinda” (1 Co 15:23). “Mas a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o Seu corpo glorioso, segundo o Seu eficaz poder de sujeitar também a Si todas as coisas” (Fp 3:20-21). Quando Cristo entrar no dia de Seu poder, a primeira demonstração de Seu poder será a ressurreição. No momento em que Ele deixar de esperar – quando Ele tomar para Si Seu grande poder, ou seja, antes de haver uma manifestação de Seu governo na Terra e antes de Sua Aparição –, a ressurreição acontecerá. A primeira ação de Seu poder será revestir o Seu corpo (a Igreja) e todos aqueles que sem nós não poderiam ser aperfeiçoados em corpos gloriosos como o Seu. O desejo d’Ele é que estejamos com Ele onde Ele está para que possamos contemplar Sua glória, e até que Ele apareça não podemos aparecer em glória. Quantos e quão abençoados são os motivos para nosso coração desejar a Sua vinda! Quão adequado é que tal variada bênção para nós esteja assim inseparavelmente conectada à Sua vinda. Nossa felicidade em qualquer bênção depende grandemente da felicidade daqueles que amamos, e certamente em nosso coração não poderíamos desejar alcançar bênção perfeita enquanto nosso Senhor ainda estivesse aguardando a consumação de Sua glória e posição. Esperamos a Sua vinda “até que o dia esclareça, e a estrela da alva apareça em vosso coração”. Sua vinda trará bênção perfeita para nós. Nós não O vemos até então; não somos como Ele até então. Quanto mais nosso coração estiver ocupado com Ele em Sua ausência, mais devemos desejar Sua vinda, quando todas essas variadas e maravilhosas bênçãos serão aperfeiçoadas para nós.
Nós não passaremos pelo tribunal de Cristo até que Ele venha, aquele momento maravilhoso em que tudo que fomos na presença de Sua longanimidade e graça contínua será trazido à tona e se destacará em contraste. Isso não poderá acontecer até que Ele venha. Não haverá recompensas ou esfera definida para nós em nossa relação com Ele até que Ele venha. E, se nosso coração é assim verdadeiro, se ficamos em algum grau impressionados com a força das razões acima para desejar a vinda do Senhor, a quarta e última razão seria apenas natural para nós, a saber, que nosso coração não consentiria em sugerir nenhuma outra coisa a Ele, a não ser vem.
A resposta natural
Por isso, “o Espírito e a noiva dizem: Vem!” (ARA) Não há nenhuma outra sugestão a oferecer; nenhuma outra ação de nosso Senhor poderia atender a necessidade do coração, a não ser a Sua vinda. O coração não pode sugerir nada, exceto “Vem”. Qualquer outra coisa implicaria haver algo que fosse de mais valor para nós do que a Sua vinda, ou fosse um substituto; nada mais é tão precioso ou tão valioso para nós. Sua vinda está tão conectada com o desejo de Seu próprio coração, com Seus direitos e com nossa grande e perfeita bênção que o Espírito que age por Ele aqui não pode dizer nada além de “Vem”. Da mesma forma, ela é o único desejo do coração da noiva. Se estamos no Espírito, dizemos: “Vem”, pois o desejo do Espírito Santo é pelo dia do Seu poder, e Sua vinda para a Igreja é o começo desse dia, a estrela da alva desse dia.
Para concluir, posso repetir que não fiz aqui nenhuma distinção entre Sua vinda e Sua Aparição, sendo meu objetivo expor a moral de ambas em vez dos detalhes. Meu desejo é envolver a alma dos santos com o desejo e o direito de seu Senhor como sendo primordiais, até mesmo para seu próprio ganho, por mais grandiosa e maravilhosa que a segunda seja. O coração que é fiel a Ele discernirá prontamente a diferença entre as ações anteriores e posteriores de Sua vinda – entre o momento em que Ele não mais espera, mas Se levanta do trono, e o pleno brilho e poder do dia em que Ele aparece e quando “todo olho O verá”.
Que Ele guarde nosso coração nessa simples lealdade e devoção a Ele, para não darmos a Ele nenhuma outra sugestão senão aquela que é a única adequada ao amor e à fidelidade de nosso coração: “Ora, vem, Senhor Jesus!” Amém!
Adaptado de Girdle of Truth, 10:1
