Origem: Revista O Cristão – Todo o Conselho de Deus
O Evangelho de Paulo
Existem duas expressões em Romanos que indicam o caráter especial do ministério de Paulo. “O evangelho de Deus” (Rm 1:1-17) aponta claramente para a fonte do evangelho, enquanto “meu evangelho” (Rm 16:25), introduzido em uma espécie de doxologia[2], fala de uma abençoada revelação que distingue os ensinamentos do apóstolo Paulo dos ensinamentos dos outros apóstolos. Seria difícil estimar nossa perda se falharmos em apreendermos essas duas importantes verdades. Hoje, muitos estão perplexos com a condição das coisas, tanto no mundo político quanto no religioso. Na mente de muitos, existe uma ideia de que Deus enviou o evangelho para melhorar o mundo, para torná-lo um lugar mais agradável para os homens viverem. Encontrar o mundo mais irremediavelmente mal do que nunca, após pregar vigorosamente sua melhoria, desanimou muitos pregadores e lançou seus ouvintes em confusão e desespero quanto ao resultado do que eles pensavam que fosse o evangelho. A Escritura foi mal aplicada para apoiar o ensino de que gradualmente o evangelho pregado deve permear o mundo e resultar no estabelecimento do Milênio.
[2]  N. do T.: Provém do grego doxologia, (doxa “glória” + logia “palavra”) se referindo à expressão oral ou escrita. Portanto, “doxologia” é uma expressão oral ou escrita de louvor e glorificação.
Justificação
Em nenhum lugar encontramos o apostolado de Paulo colocado em terreno mais firme do que em Romanos. Ele ainda não estava em Roma, mas, como apóstolo dos gentios, cumpriria sua missão que recebera do próprio Senhor para com os gentios (Atos 26:17-18). De acordo com a ordem administrativa de Deus, Pedro foi especialmente comissionado para os Judeus; Paulo às nações ou gentios (Gálatas 2:7-8). Conforme registrado em Atos, Pedro pregou o perdão dos pecados pela fé em Cristo, mas não associou a isso a verdade da justificação, enquanto Paulo, em seu primeiro sermão registrado, acrescentou essa verdade bendita (Atos 13:38-39). O evangelho não era sobre o homem, embora tenha sido enviado para o homem; não havia nada de alegre a dizer sobre ele; no paganismo, o homem era intencionalmente corrupto; na filosofia, era hipócrita; sob a lei, era um transgressor – toda boca foi calada e todo o mundo se mostrou “culpado diante de Deus” (Rm 3:1). O Filho de Deus é o tema abençoado do evangelho, e as boas novas são relativas a Ele. Ele é apresentado de uma maneira dupla: (1) em conexão com as promessas feitas à semente de Davi segundo a carne e (2) “Filho de Deus com poder” pela ressurreição dentre os mortos. O evangelho de Deus havia sido anunciado pelos profetas no Velho Testamento, e assim toda possível objeção que poderia ser levantada deveria ser silenciada antes da revelação do que é o evangelho de Deus. Na Pessoa do Filho, Deus encontrou Um capaz de realizar todos os Seus propósitos e dar a conhecer todos os Seus pensamentos de amor pelos homens. Somente Ele poderia solucionar o problema que o homem criou pelo pecado no Jardim do Éden e resolvê-lo para a glória eterna de Deus. Que graça maravilhosa de Ele entrar no domínio sombrio da morte, onde o homem jazia em ruína e exposto à ira eterna, tomar sobre Si toda a fraqueza do homem, saquear de uma vez e para sempre os despojos de Seu inimigo, e triunfar completamente na ressurreição sobre todo o poder do inimigo.
Nova vida
A nova vida recebida pelo crente é uma vida dada e fundamentada no valor eterno do que foi realizado pelo Filho de Deus. Neste abençoado evangelho, Deus revela uma justiça para o homem, que não tem nenhuma – a justiça de Deus, segundo o princípio da fé. Esse é o grande tema da epístola. Em Romanos, o crente é visto como justificado, sendo-lhe reconhecida a justiça pela morte e ressurreição do Senhor Jesus, para que ele possa andar aqui neste mundo no poder da vida ressuscitada de Cristo, tendo a glória em vista. Essa epístola, e a destinada aos efésios, são as duas únicas escritas pelo apóstolo aos santos que não são corretivas; as outras tinham em vista certas condições existentes a serem corrigidas. Nessas duas epístolas, temos a revelação da verdade inegável: a primeira estabelece a fundação segura, e a segunda, a abençoada estrutura construída sobre ela.
