Origem: Revista O Cristão – O Cuidado Pastoral – João 21
O Bom, Grande e Sumo Pastor
“Apascenta as Minhas ovelhas” (Jo 21:16). O Senhor Jesus ressuscitou dentre os mortos e agora está instruindo Pedro. Essas palavras vieram daquele que é o nosso Exemplo supremo e foram ditas àquele que tinha acabado de falhar de maneira significativa em não seguir seu Senhor. Mas o Senhor poderia usar Pedro, e em várias porções da Escritura encontramos orientação para o papel de pastor, enquanto também somos incentivados a cuidar de Suas ovelhas.
No Novo Testamento, o Senhor Jesus é mencionado como o Pastor de três maneiras diferentes – como o Bom Pastor, o Grande Pastor e o Sumo Pastor. Cada um desses traz diante de nós um pensamento distinto, enquanto cada um deles traz um exemplo para nós de maneiras diferentes. Eu gostaria de analisar essas três características do Senhor Jesus como um Pastor, para que possamos ver Sua perfeição em cada papel, mas então também ver como cada uma delas é um exemplo para nós, para buscarmos cuidar uns dos outros.
O Bom Pastor
Em João 10:11, o Senhor Jesus diz: “Eu sou o Bom Pastor; o Bom Pastor dá a Sua vida pelas ovelhas”. Neste momento, quando Ele diz essas palavras, o Senhor Jesus tinha sido rejeitado. Podemos dizer que em João 7, Suas palavras haviam sido rejeitadas, em João 8 Sua Pessoa foi rejeitada, enquanto em João 9 Suas obras tinham sido rejeitadas. Mas então, vemos que Deus terá Suas ovelhas apesar de qualquer coisa. Isto só pode acontecer se o Bom Pastor der Sua vida pelas ovelhas, para que elas possam ser Suas. Não havia outra maneira. Davi arriscou sua vida salvando suas ovelhas do leão e do urso, mas o Senhor Jesus deveria entregar Sua vida para que Suas ovelhas fossem salvas. Que preço Ele pagou por elas!
No Velho Testamento, vemos esse caráter do Senhor Jesus no Salmo 22. Lá, Seus sofrimentos são mais retratados da mão de Deus, pois são esses sofrimentos que tiraram nossos pecados. Seu clamor no versículo 1 ficou sem resposta, pois o pecado estava em questão, e Deus não podia olhar para o pecado. E qual é o resultado? Nada além de bênção, passando por toda a parte final do salmo, do versículo 22 até o fim. O mesmo acontece com o Bom Pastor. Se Ele dá a vida pelas ovelhas, não há nada além de bênçãos para elas.
É evidente que nós, como seres criados, nunca podemos tomar sobre nós o sofrimento por outro com o pensamento de expiar o pecado. Não, nosso Senhor Jesus estava sozinho nisso. No entanto, lemos que “Conhecemos a caridade [amor] nisto: que Ele deu a Sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos” (1 Jo 3:16). Se seguirmos os passos de nosso Senhor e Salvador, responderemos ao Seu supremo sacrifício estando dispostos a dar a nossa vida por aqueles que são tão preciosos para Ele – Suas ovelhas. Pode não significar realmente morrer, mas, desistindo de nossas próprias ambições e desejos para que possamos ser de ajuda para o povo de Deus, podemos, nesse sentido, dar a vida. “Quem, neste mundo, aborrece a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna” (Jo 12:25). Para ganhar uma recompensa para a eternidade, Deus nos chama a abrir mão de nossa vida aqui em baixo, a fim de vivermos para Ele.
O Grande Pastor
Então, em Hebreus 13:20-21, lemos: “Ora, o Deus de paz, que pelo sangue do concerto eterno tornou a trazer dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo, grande Pastor das ovelhas, vos aperfeiçoe em toda a boa obra, para fazerdes a Sua vontade, operando em vós o que perante Ele é agradável por Cristo Jesus”. O Senhor Jesus é o grande Pastor em ressurreição, pois triunfou sobre a morte, sobre Satanás e sobre o pecado. Como tal, Ele trouxe o “concerto eterno” pelo qual Deus pode abençoar o homem em graça, em oposição ao velho concerto, que era baseado no que o homem deveria ter feito. Agora Deus pode sair em graça, em uma base totalmente nova, pois Cristo morreu e ressuscitou.
Esse é o caráter que o Senhor Jesus traz em nossa caminhada, pois Deus agora pode trabalhar em nosso coração para “fazer Sua vontade” e fazer aquilo que “é agradável aos Seus olhos”. Não havia poder para o homem fazer a vontade de Deus sob o antigo concerto, mas agora Deus lhe deu uma nova vida em Cristo. Agora o crente é habitado pelo Espírito Santo e tem como Objeto um Cristo ressuscitado em glória. Com um Objeto em glória e o Espírito aqui em baixo, o crente tem poder de andar de forma a agradar ao Senhor. Todo o poder que ressuscitou a Cristo dentre os mortos é nosso, para nos permitir andar diante do Senhor neste mundo.
Vemos esse caráter do Senhor Jesus ilustrado no Salmo 23 – provavelmente o mais conhecido de todos os salmos. Seu cuidado para conosco nos leva por todo o mundo, suprindo nossas necessidades, nos alimentando, nos restaurando, nos mantendo no vale da sombra da morte e terminando em glória. É como o grande Pastor que Ele pode ser chamado de “o Pastor de todo o caminho até o lar”, pois Ele nunca descansará até que estejamos em segurança com Ele em glória. Ele não simplesmente nos salva e depois nos deixa encontrar nosso próprio caminho neste mundo. Antes, Ele cuida de nós de todas as maneiras, nos permitindo percorrer um caminho que é agradável aos Seus olhos.
Que exemplo para nós, como pastores! Pode haver apenas um “grande Pastor”, mas todos nós podemos estar envolvidos na alimentação das ovelhas, guiando-as às águas tranquilas, procurando restaurá-las se necessário e confortá-las em circunstâncias difíceis; todas essas coisas também podemos fazer, no espírito do grande Pastor.
O Sumo Pastor
Finalmente em 1 Pedro 5:4 lemos: “E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa de glória”. Se o Senhor Jesus é o principal Pastor, segue-se que existem “sub-pastores”. Este capítulo de 1 Pedro nos mostra o caráter que o Senhor procura nesses pastores. Eles devem servir o rebanho de Deus de bom grado, não por dinheiro ou como senhores sobre ele, mas antes liderando pelo exemplo. Bispos e presbíteros são necessários para o rebanho de Deus, mas há um caminho certo para eles realizarem seu serviço. Pedro nos dá isso e também nos diz que uma recompensa será oferecida “quando aparecer o Sumo Pastor”.
O pastoreio é frequentemente um trabalho ingrato neste mundo, feito em grande parte nos bastidores e, em muitos casos, não apreciado nem pelas ovelhas. Evangelizar e ensinar envolve um trabalho também, mas esses dons estão muito mais aos olhos do público. Por esse motivo, creio, é mencionada uma recompensa especial para incentivar o pastor. A coroa da glória mais do que compensará todo o esforço despendido em favor das ovelhas de Deus. Temos o mesmo espírito no bom samaritano, que disse ao hospedeiro da estalagem: “Cuida dele, e tudo o que de mais gastares eu to pagarei, quando voltar” (Lc 10:35). Que recompensa maravilhosa será receber essa coroa de glória!
O Sumo Pastor é retratado para nós no Salmo 24. Lá vemos o Senhor Jesus profeticamente retratado em glória. Não mais desprezado e rejeitado, Ele é aclamado como o Dono do “mundo e aqueles que nele habitam” (Sl 24:1). Naquele dia, ninguém será capaz de se aproximar d’Ele sem estar “limpo de mãos e puro de coração” (v. 4). O Senhor será “forte e poderoso, o SENHOR poderoso na guerra” (v. 8), e todo o mundo verá Sua glória. Aqueles que foram fiéis como pastores no dia de Sua rejeição verão essa glória e a compartilharão com Ele.
O pastoreio é um serviço muito necessário, mas multifacetado. Devemos estar dispostos a deixar de lado nossas próprias vontades e considerar nosso Exemplo perfeito nesses três caráteres como Pastor. Então Ele pode nos usar para cuidar das ovelhas pelas quais Ele morreu.
