Origem: Revista O Cristão – O Cuidado Pastoral – João 21

Pastoreio

Quando jovem, aprendi uma lição valiosa de pastores de ovelhas nas montanhas no oeste dos EUA. Eles observavam tão atentamente seus rebanhos que nada os distraía – nem mesmo conversas. Seu comportamento dedicado e focado ilustra os princípios bíblicos do pastoreio: amar o rebanho, estar preparado para servir e estar disponível.

Uma atividade motivada pelo coração 

O Bom Pastor (o Senhor Jesus) ama Seu Pai e ama as ovelhas que Lhe foram confiadas. “Tenho guardado aqueles que Tu Me deste, e nenhum deles se perdeu” (Jo 17:12). “Dos que Me deste nenhum deles perdi” (Jo 18:9). Ele valoriza o rebanho mais do que a própria vida. Por outro lado, o mercenário (João 10) não ama as ovelhas porque elas não são dele. Seu cuidado carece de dedicação e disciplina. Quando o perigo chega, o mercenário decide que proteger o rebanho não vale o risco pessoal, então ele foge.

Paulo pastoreava o rebanho com lágrimas enquanto os advertia dos “lobos” que viriam. “Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, durante três anos, não cessei, noite e dia, de admoestar, com lágrimas, a cada um de vós” (At 20:31). Jeremias também cuidou fervorosamente do povo de Deus: “E amargamente chorarão os meus olhos e se desfarão em lágrimas, porquanto o rebanho do SENHOR foi levado cativo” (Jr 13:17).

Nos tempos bíblicos, depois de reunir as ovelhas em seu abrigo noturno, o pastor ficava na porta ou na abertura, colocando-se entre o mundo exterior e suas ovelhas. Ele se tornou o caminho para a segurança, nutrição e bênção, além de ser uma barreira entre as ovelhas e o mundo exterior. Jesus Cristo, nosso Bom Pastor, Se coloca entre nós e uma eternidade perdida. “Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade vos digo que Eu Sou a Porta das ovelhas” (Jo 10:7). “Eu Sou a Porta; se alguém entrar por Mim, salvar-se-á” (v. 9). O Senhor morreu para salvar Suas ovelhas. “O Bom Pastor dá a Sua vida pelas ovelhas” (Jo 10:11). “Dou a Minha vida pelas ovelhas” (v. 15). As ovelhas respondem ao amor do pastor: “As Minhas ovelhas ouvem a Minha voz, e Eu conheço-as, e elas Me seguem” (v. 27).

O risco 

Uma razão pela qual há tão poucos pastores hoje em dia é que o pastoreio envolve riscos. O pastor em Lucas 15 deixou o rebanho e foi ao deserto para salvar sua ovelha perdida. Andarilhos no deserto estão em perigo; aqueles que os procuram arriscam sua própria segurança. O pastor faz isso de bom grado, porque valoriza mais as ovelhas do que seu próprio conforto. Para salvar ovelhas perdidas, nosso Senhor e Pastor deixou o lado de Seu Pai e entrou em um lugar onde seria abusado, amaldiçoado, cuspido e pendurado em um madeiro no Calvário.

Disponível, envolvido e vigilante 

Outra razão pela qual hoje existem poucos pastores é que o pastoreio requer muito tempo, uma conveniência que os Cristãos modernos reservam para si mesmos. O uso de nosso tempo nas atividades deste mundo, mesmo legítimas, é uma das ferramentas mais bem-sucedidas de Satanás.

Um bom pastor passa tempo suficiente com suas ovelhas para aprender suas características individuais. Enquanto observa o rebanho, ele reconhece uma com tendência a se desviar e outra que gosta de comer ervas daninhas e espinhos que fazem com que ela adoeça. “Procura conhecer o estado das tuas ovelhas; põe o teu coração sobre o gado” (Pv 27:23). “Orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito e vigiando nisso com toda perseverança e súplica por todos os santos” (Ef 6:18). O pastor que conhece suas ovelhas pode redirecionar o andarilho e levar o rebanho ao alimento nutritivo. Em troca, as ovelhas aprendem a confiar nele.

Hoje, muitas tentativas de pastoreio falham porque não havia vínculo de confiança antes. Para ser eficaz, o pastor deve estar envolvido na vida das ovelhas e dos cordeiros. As ovelhas devem ser alimentadas, acomodadas, abeberadas, impedidas de se desviarem, ensinadas e guardadas. Simplesmente não há substituto para esse gasto no esforço e tempo com as ovelhas. O inimigo da sua alma odeia o pastor, bem como o trabalho do pastor. Afinal, guiados e capacitados pelo Espírito Santo, os pastores podem desfazer a obra de Satanás e reduzir as oportunidades para que ele intervenha. Satanás sabe disso, então ele tenta impedir aspirantes a pastores.

Grande parte do trabalho de pastoreio é preventivo. Áquila e Priscila reconheceram o erro no ministério de Apolo e o corrigiram com amor. “Ele [Apolo] começou a falar ousadamente na sinagoga. Quando o ouviram Priscila e Áquila, o levaram consigo e lhe declararam mais pontualmente o caminho de Deus” (At 18:26).

Devolver uma ovelha perdida ao rebanho pode ser simples quando ela vagar pela primeira vez. Se parar cedo, a ovelha pode não precisar ser arrancada de espinhos dolorosos ou das mandíbulas do lobo. Obviamente, esse trabalho preventivo só pode acontecer se o pastor estiver perto o suficiente para ver o passo em falso e alcançar a ovelha com seu cajado. É imperativo que reservemos o tempo necessário para esta tarefa. “Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo, porquanto os dias são maus” (Ef 5:14-16).

Os Cristãos do século XXI têm vidas muito cheias e pouco tempo não alocado. Podemos querer ajudar jovens crentes, mas não temos tempo para servi-los. Nossa programação nos coloca em outro lugar quando eles se desviam. Muitas atividades que valem a pena enchem nossa vida, mas devemos pesar essas coisas contra o custo de perder ovelhas e cordeiros. Jesus considerou uma mulher vivendo uma vida pecaminosa (e, sem dúvida, evitada por seus colegas) e decidiu que Ele precisava passar por Samaria (Jo 4:4).

Davi viveu com seu rebanho, e isso o colocou em uma posição de serviço. Por duas vezes ele salvou seu rebanho de predadores (1 Sm 17:34). Quando Samuel visitou a casa de Jessé para ungir um rei e quando Saul chamou alguém para acalmá-lo com música, Davi estava com as ovelhas de seu pai (1 Sm 16:11; 16:19). Quando ele veio verificar seus irmãos e acabou salvando Israel de Golias e seus exércitos, seu irmão Eliabe reconheceu que o lugar normal de Davi era com as ovelhas da família (1 Sm 17:28). Um verdadeiro pastor fica perto de suas ovelhas porque as ama, não porque elas o amam. Seu amor o leva ao lugar onde ele pode treinar, cuidar, corrigir e alimentá-las.

Estar pronto para servir 

Os Cristãos podem querer pastorear os outros, mas podem ser incapazes de fazê-lo porque não estão preparados. Além de amar as ovelhas e estar disponível, existem pelo menos dois pré-requisitos pessoais para um serviço eficaz ao Senhor. Primeiro, o pastor deve manter-se limpo e pronto para servir. “De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor e preparado para toda boa obra” (2 Tm 2:21). Um não pode abrigar o mal em seu próprio coração e aconselhar outro que está em risco do mal. Enquanto ninguém na Terra está sem pecado (ovelha ou pastor), a limpeza diária, a lavagem dos pés e a confissão são eficazes e essenciais enquanto nos preparamos para servir a Deus e Seu povo.

Segundo, um pastor deve procurar diligentemente a Palavra de Deus. Um antigo servo do Senhor uma vez encorajou um irmão mais novo a estudar a Palavra de Deus, dizendo-lhe: “Se você quer ajudar alguém a seguir uma vida segundo as Escrituras, precisa conhecer o caminho a seguir nas Escrituras”. “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2:15). Esse princípio parece tão simples, mas é um ponto comum de falha entre Cristãos bem-intencionados. Não há maneira mais poderosa de aconselhar ovelhas do que ilustrar a vontade de Deus com a Palavra de Deus.

Conclusão 

Pastorear é uma boa obra, um bom trabalho. É um trabalho humilde, geralmente sem reconhecimento ou sinal visível de proveito. Lembrar o que nosso Grande Pastor fez e faz por nós nos dará energia para entrar no deserto e recuperar um cordeiro perdido. Isso nos ajudará a passar o tempo conhecendo intimamente Suas ovelhas. Aprender o quanto nosso Salvador e Pastor ama todas as Suas ovelhas aumentará nosso amor pelo rebanho de Deus. Um olhar sobre o Apocalipse ilustra que “mesmo em Sardes” existe a necessidade de pastores e pastoreio. “Sê vigilante e confirma o restante que estava para morrer Mas também tens em Sardes algumas pessoas que não contaminaram suas vestes e Comigo andarão de branco, porquanto são dignas disso” (Ap 3:24).

D. Lamb

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