Origem: Revista O Cristão – O Cuidado Pastoral – João 21
O Rebanho de Deus
No Salmo 80, Asafe se dirige a Deus como pastor de Israel e compara Seu povo a um rebanho. No Salmo 100, Israel toma a posição de ser o povo de Jeová e as “ovelhas do Seu pasto”. Jeremias também, na mesma linha, fala do antigo povo de Deus como um “lindo rebanho” (Jr 13:20 – ARA). Mas enquanto Deus sempre permaneceu o Grande Pastor de Israel, Ele também delegou autoridade aos sub-pastores responsáveis por cuidar do rebanho. No exercício dessa responsabilidade, os pastores falharam lamentavelmente e, como resultado, o rebanho foi arruinado e disperso. Em Ezequiel 34, temos uma denúncia solene desses sub-pastores pela violação de sua confiança. Nos quatro primeiros versículos, três acusações distintas são apresentadas contra eles. Eles são acusados de usar sua posição para se exaltar à custa do rebanho, por terem negligenciado totalmente o rebanho e por terem governado o rebanho de Deus com força e crueldade.
Os sub-pastores
Mas o fracasso dos pastores de Israel foi repetido, infelizmente, pelos pastores do povo de Deus hoje, pois neste dia Deus também tem o Seu rebanho. O Senhor Jesus reuniu uma companhia de crentes Judeus em torno de Si, e depois os crentes gentios também foram adicionados, para que houvesse “um rebanho e um Pastor” (João 10:16). O próprio Senhor é o Bom Pastor que deu Sua vida pelas ovelhas e o Grande Pastor que ressuscitou dos mortos – Aquele que triunfou sobre o poder da morte. Mas o Senhor também é o Sumo Pastor e, como tal, delegou novamente a supervisão de Seu rebanho a sub-pastores. Paulo, em seu discurso de despedida aos anciãos da Igreja de Éfeso, dá aos sub-pastores uma acusação solene em Atos 20:28-35. Ele os adverte a prestar atenção em si mesmos e em todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo os havia feito bispos. Ele lhes dá uma tríplice exortação em referência ao rebanho, que responde à tríplice denúncia dos pastores de Israel.
Primeiro, em vez de se exaltarem a si mesmos, são exortados a “apascentar a Igreja de Deus” (v. 28). Segundo, em vez de negligenciar as ovelhas, eles devem “vigiar” e “auxiliar os enfermos” (vs. 31, 35). Terceiro, em vez de governar com “rigor e dureza”, eles devem se lembrar que “mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” (v. 35).
As três recomendações de Pedro
Além disso, Pedro, antes de sua partida, dá uma carga tríplice aos sub-pastores (1 Pedro 5:14). Primeiro, são exortados a “apascentar o rebanho de Deus”. Segundo, eles devem cuidar do rebanho, “tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto”. Terceiro, eles são advertidos a não dominar a herança de Deus. Eles não devem dirigir o rebanho, mas liderar como “exemplo ao rebanho”.
Mas, como vimos, essas são exatamente as coisas nas quais os pastores de antigamente falharam de maneira tão significativa. Em vez de apascentar o rebanho, eles se apascentavam a si mesmos; em vez de supervisionar, negligenciaram o rebanho; em vez de serem exemplos, eles governavam o rebanho com rigor e dureza. E, infelizmente, assim como os pastores de Israel falharam, também os pastores do rebanho Cristão falharam, e com um resultado semelhante. Voltando a Ezequiel 34, encontramos o profeta, nos versículos 5-6, que descreve a condição lamentável do rebanho de Deus como resultado do fracasso dos pastores. As ovelhas estão espalhadas pela falta de um pastor para liderar e se tornaram uma presa para os animais do campo. Assediados pelos animais de rapina, perambulam por todas as montanhas áridas e por todas as colinas altas. Em vez de um rebanho – um belo rebanho – temos ovelhas dispersas, assediadas e errantes, sem ninguém para procurá-las ou buscá-las. E que quadro solene e impressionante da condição do povo de Deus hoje! Como resultado do fracasso dos líderes, o povo de Deus foi disperso e, sendo disperso, eles foram presas do inimigo. Unidos, eles poderiam ter resistido às invasões do inimigo, mas dispersos, eles são presas fáceis de todo mal e, sob o poder do mal, estão com fome e vagando de maneira solitária neste mundo árido. Tendo retratado a triste condição das ovelhas, o Senhor passa a condenar os pastores responsáveis: “Assim diz o Senhor JEOVÁ: Eis que Eu estou contra os pastores e demandarei as Minhas ovelhas da sua mão” (vs. 7-10). Mas se Deus é contra os pastores, Ele é pelas ovelhas, e nos versículos a seguir temos uma descrição magnífica de como Deus pastoreia Seu rebanho. E como o Sumo Pastor age, os sub-pastores também devem agir. Assim, nesses versículos (vs. 11-16), temos o exemplo perfeito para o verdadeiro pastor, seja em Israel ou entre o povo de Deus hoje. Fazemos bem em levar a sério as sete ações do Sumo Pastor, estabelecidas nesses versículos tocantes.
Sete ações do Pastor
Primeiro, Deus diz: “Eis que Eu, Eu mesmo, procurarei as Minhas ovelhas”. Elas foram dispersas e vagaram, mas são “Minhas”, diz Deus, e “Eu mesmo, procurarei” a elas. Que nunca esqueçamos, seja qual for a condição da ovelha, ela pertence a Cristo.
Segundo, tendo-as procurado, Ele “cuida” delas, pois assim se deve ler a passagem: “Eu irei procurar por Minhas ovelhas, e cuidarei delas. Como pastor cuida de seu rebanho no dia em que Ele está entre Suas ovelhas dispersas” (Ez 34:11-12 – JND). Suas ovelhas são os objetos de Seu terno cuidado. Depois que o bom samaritano encontrou aquele pobre homem ferido e atou suas feridas, ele o levou a uma estalagem e “cuidou dele”. Antes de partir, colocou o homem sob o comando do hospedeiro, dizendo: “Cuida dele”. Ele parece dizer ao hospedeiro: “Faça o que tenho feito”. Falhamos em representar a parte do hospedeiro. Falhamos em cuidar das ovelhas. Mas o Senhor não apenas cuida de Suas ovelhas, mas Ele o faz de uma maneira muito abençoada. Não é como alguém que está longe, em uma posição elevada, dando instruções para o cuidado das ovelhas, mas é como um pastor entre suas ovelhas que estão dispersas.
Terceiro, além disso, o Senhor diz: “as farei voltar de todos os lugares por onde andam espalhadas no dia de nuvens e de escuridão”. Enquanto os líderes estão ocupados escurecendo o céu com suas controvérsias, o inimigo está ocupado espalhando as ovelhas. Mas o Senhor as livrará. Nenhuma de Suas ovelhas será deixada para trás quando Ele agir em poder de libertação.
Quarto, o Senhor não livra Seu povo dos poderes do inimigo e depois os deixa. Ele também “reúne” e, portanto, lemos: “E as tirarei dos povos, e as farei vir dos diversos países”. “Separação” e “Reunião” devem andar juntos. A separação sem se reunir somente incha e faz com que tenhamos um espirito de fariseu e mais dispersão. Quando o Senhor separa Seu povo do mal, Ele os reúne ao Seu redor, pois Cristo é o grande centro de reunião de Deus.
Quinto, o que Deus faz com Seus santos libertos e que foram reunidos? É dito: “as trarei à sua terra” (v. 13). Existe uma companhia que podemos chamar de nossa (Atos 4:23), e há um país que podemos chamar de nosso. É um país celestial, mas, infelizmente, como resultado da dispersão das ovelhas, o chamado celestial do povo de Deus é quase desconhecido, e o povo de Deus se estabeleceu neste mundo. Israel foi disperso e perdeu suas terras. Os Cristãos foram dispersos e perderam a verdade de seu chamado celestial. Mas quando Deus toma o Seu povo pelas mãos, seja terrenal ou celestial, será para trazê-los de volta para sua própria terra. Se reunidos pelo Senhor, é para que sejamos guiados pelo Senhor para nosso próprio país.
Sexto, tendo conduzido Seu rebanho à sua própria terra, o Senhor os alimenta “Em bons pastos”. O verdadeiro alimento para o Cristão está no país celestial. Quando os filhos de Israel foram trazidos para sua própria terra, eles se alimentaram do trigo da terra do ano antecedente (Js 5:11-12). Ao atravessar o deserto, precisamos de Cristo como o maná, mas como povo celestial nos alimentamos de Cristo como “o trigo da terra, do ano antecedente”. Precisamos nos alimentar de todas as glórias e perfeições de Cristo no lugar onde Ele está, pois somos formados daquilo que nos alimentamos.
Sétimo, finalmente, naquela terra celestial, Ele dá ao Seu povo o repouso: “Eu as farei repousar” (v. 15). Neste mundo não há repouso duradouro para o povo de Deus, mas “resta ainda um repouso para o povo de Deus” (Hb 4:9). Quando acordarmos nos satisfaremos de Sua semelhança (Sl 17:15). Ele nos fará descansar em perfeito descanso, e Ele “descansará no Seu amor” (Sf 3:17 – TB).
Quão perfeitos são os caminhos do Sumo Pastor das ovelhas! À luz deste exemplo perfeito de cuidado de pastor, tenhamos graça para julgar nossas falhas do passado e procurar, pelo pouco tempo que ainda resta, moldar nosso serviço de acordo com esse padrão divino. “E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa de glória” (1 Pe 5:4).
Scripture Truth, 10:9
