Origem: Revista O Cristão – Os Concertos de Deus com o Homem

Os Dois Concertos

Hebreus 8 trata dos dois concertos. Você pode considerá-los como o patriarcal e o legal. O concerto patriarcal era todo com base na promessa. Nele não havia duas partes. Quando chegamos à lei, a própria forma e fase do concerto são alteradas. Os israelitas tinham que fazer sua parte no concerto tanto quanto Deus. Não é mais um concerto de promessa, mas de obras. Já não é mais Um comprometendo-Se a fazer algo e o outro inclinando a cabeça em dependência de fé, mas é Um comprometendo-Se a fazer isto, e o outro comprometendo-se a fazer aquilo; este é o concerto da lei. Então, nos profetas, temos o novo concerto, que recorre ao concerto patriarcal e mostra que ele é simples promessa. É isso que o Novo Testamento retoma e chama de “o novo concerto”. Hebreus 8 mostra que o Senhor encontrou falhas no velho concerto, e por quê? Porque fez d’Ele um Recebedor. Ele repousa no novo concerto, porque este O coloca no lugar de Doador e o pecador no lugar de recebedor. Ele Se deleita nisso, pois disse “mais bem-aventurada coisa é dar do que receber”. Paulo se declara ministro desse tipo de coisas. O concerto ainda não foi cumprido profeticamente, mas será com a casa de Israel e Judá no dia do seu arrependimento. Paulo é o ministro daquilo que faz de Deus um Doador e de mim um recebedor. Portanto, há um elemento em ambas as coisas que é profético. Devemos esperar por Sua manifestação milenar e esperar pela realização do novo concerto no dia do arrependimento de Israel.

Lança fora a escrava 

Isaque era filho da mulher livre, de Sara, de acordo com a promessa. Gálatas 4 nos permite saber que Deus permitiu as circunstâncias desses dois filhos para nos dar uma figura dos dois concertos. Ismael era filho de uma escrava e representa Israel sob a lei, enquanto Isaque veio como filho da mulher livre, sem conhecer a escravidão, e representa aqueles sob graça e promessa. A Cristandade procurou misturar lei e graça, “Mas que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque, de modo algum, o filho da escrava herdará com o filho da livre” (Gl 4:30). Os dois princípios não podem se misturar.

O concerto na terra de Moabe 

“Estas são as palavras do concerto que o SENHOR ordenou a Moisés, na Terra de Moabe, que fizesse com os filhos de Israel, além do concerto que fizera com eles em Horebe” (Dt 29:1).

Repare o leitor, particularmente, nessas palavras. Elas falam de dois concertos, um em Horebe e outro em Moabe, e o último está longe de ser uma mera repetição do primeiro. É tão distinto desde quanto quaisquer dois objetos possam ser. Disso teremos a mais completa e clara evidência. É verdade que o título grego do livro Deuteronômio, significando a lei uma segunda vez, pode parecer suscitar à ideia de ser uma mera recapitulação do que foi dado antes, mas podemos ter certeza de que não é assim. O livro tem seu próprio lugar específico. Seu escopo e objeto são tão distintos quanto possível. A grande lição, que ele inculca, do princípio ao fim, é a obediência, e isso, também, não na mera letra, mas no espírito de amor e temor – uma obediência baseada em um relacionamento conhecido e desfrutado – uma obediência impulsionada pelo senso de obrigações morais do caráter de maior peso e mais influente que possa haver.

Os concertos são perfeitamente distintos 

Sob a lei, Deus, por assim dizer, ficou quieto para ver o que o homem poderia fazer, mas, no evangelho, Deus é visto agindo e, quanto ao homem, é dito a ele: “estai quietos e vede o livramento do SENHOR”. Sendo assim, o apóstolo inspirado não hesita em dizer aos gálatas: “Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído”. Se o homem tem alguma coisa a ver com este assunto, Deus é excluído e, se Deus é excluído, não pode haver salvação, pois é impossível que o homem possa produzir uma salvação por meio daquilo que prova que ele é uma criatura perdida e, então, se for uma questão de graça, deve ser totalmente por graça. Não pode ser metade graça, metade lei. Os dois concertos são perfeitamente distintos. Não pode ser metade Sara e metade Hagar. Deve ser uma ou outra. Se for Hagar, Deus não tem nada a ver com isso, e se for Sara, o homem não tem nada a ver com isso. Assim, permanece do começo ao fim. A lei se dirige ao homem, o testa, vê o que ele realmente vale, prova que ele é uma ruína e o coloca sob maldição, e não apenas o coloca sob ela, mas também o mantém ali, pelo tempo em que ele estiver ocupado com ela – enquanto estiver vivo. “A lei tem domínio sobre o homem por todo o tempo que vive”, mas quando ele está morto, seu domínio necessariamente cessa, no que diz respeito a ele, embora ela ainda permaneça com força total para amaldiçoar todo homem que vive.

O evangelho, ao contrário, assumindo que o homem está perdido, arruinado e morto, revela Deus como Ele é – o Salvador dos perdidos – o Perdoador dos culpados – o Vivificador dos mortos. Ele O revela, não como exigindo algo do homem, mas como exibindo Sua própria graça independente em redenção. Isso faz uma grande diferença e explica a força extraordinária da linguagem empregada na Epístola aos Gálatas: “Maravilho-me”, “Quem vos fascinou [enfeitiçou – KJV]?”, “Receio de vós”, “Estou perplexo a vosso respeito”, “Eu quereria que fossem cortados aqueles que vos andam inquietando”. Essa é a linguagem do Espírito Santo, que conhece o valor de um Cristo completo e uma salvação completa, como também sabe o quão essencial é o conhecimento de ambos para um pecador perdido. Não temos uma linguagem como essa em nenhuma outra epístola, nem mesmo na aos coríntios, embora houvesse alguns das mais grosseiras desordens a serem corrigidas entre eles. Toda falha e erro humano podem ser corrigidos trazendo a graça de Deus, mas os gálatas, assim como Abraão neste capítulo, estavam se afastando de Deus e retornando à carne. Que remédio poderia ser receitado para isso? Como você pode corrigir um erro que consiste em afastar-se do único remédio? Cair da graça é voltar para debaixo da lei, da qual nada pode ser ceifado senão a maldição. Que o Senhor estabeleça nosso coração em Sua própria e mui excelente graça.

C. H. Mackintosh, adaptado

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