Origem: Revista O Cristão – Comunhão
Comunhão com o Pai e com o Filho
Em todas as Suas ações em graça, o grande propósito de Deus é nos levar à comunhão com Ele mesmo. “A nossa comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo”. Assim, temos o pleno conhecimento de Deus, até onde se pode saber, em plena comunhão Consigo mesmo. Esse conhecimento e comunhão não decorrem da criação, isto é, não apenas como sendo Suas criaturas, mas estão em “união”. Somos feitos participantes do Espírito Santo para que haja poder; “estamos n’Ele, e Ele em nós”. Não pode haver nada mais íntimo.
Conhecimento ou ciência não tem nada a ver com isso, pois se é a mente humana trabalhando nas coisas de Deus, é apenas “os conselhos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus”. Os recém-convertidos em Cristo possuem essas coisas; eles não têm que procurar por elas, pois eles estão na posse delas, embora, é claro, eles tenham que crescer no conhecimento delas. O mero conhecimento é insuficiente, mas sendo humilhado, o Espírito de Deus pode agir sobre a alma e dar conhecimento em comunhão com Deus.
A epístola de João
Embora a epístola de João seja muito abstrata, ainda assim é abstrata sobre as coisas que o mais frágil dos santos em Cristo conhece. Deus é trazido à nossa natureza, pois Deus pode descer a nós em nossa fraqueza, em Cristo. João fala da natureza do próprio Deus. O propósito e objetivo de Deus é nos levar à plena comunhão com Ele mesmo. Há três coisas que eu notaria aqui:
Primeiro, há a obra de Deus pela qual podemos estar em Sua presença perfeitamente livres de qualquer questão de pecado, para que possamos desfrutar de tudo o que Deus é.
Segundo, há a justificação pela fé e aceitação no Amado – a perfeita purificação da consciência, sabendo que somos aceitos para poder estar diante d’Ele em perfeita paz.
Em terceiro lugar, há o novo nascimento. Deve haver uma nova natureza capaz de ter afeições para com Deus. Um órfão, que nunca conheceu seus pais, tem a afeição de um filho e é capaz de amar um pai e é frequentemente muito infeliz porque não tem nenhum objetivo para quem essas afeições possam fluir naturalmente. Portanto, a capacidade de amar a Deus é aquela que obtemos sendo participantes da natureza divina. O Espírito Santo nos dá competência para desfrutar dessas coisas. Temos a unção do Santo, nos permitindo desfrutar do que Deus nos deu.
Vasos da Sua plenitude
Lembre-se, recebemos a vida da maneira mais humilde e simples. Aquele que veio ao mundo para salvar os pecadores, Ele nos fez vasos da Sua plenitude. Assim, temos comunhão com o Pai e com o Filho e nós manifestamos isso. “Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com Seu Filho, Jesus Cristo”. O efeito é que temos o Pai e o Filho, e não nos falta nada. Eu tenho o Pai e o Filho. Eu posso ter mais para aprender. Se um homem está no oceano, pode haver muito a descobrir a respeito dele, mas ele não precisa chegar lá; ele está lá. Assim sou eu na verdade. Tenho muito a aprender, mas estou no Pai e no Filho, e estou na verdade. Se eu estou nela eu não preciso procurá-la. Eu tenho o Deus eterno em Quem eu habito – eu vim para o Pai.
Quando há uma consciência disso, oh, que conforto! Que paz! Isso não apenas nos protege dos males exteriores, mas também nos dá descanso espiritual. “Estas coisas vos escrevemos, para que o vosso gozo se cumpra”. Este é o lugar para onde Deus traz o santo quando há humildade. E se não houver humildade, nós tropeçaremos. Quando perdemos o sentido da presença de Deus (digo o sentido dela, porque, na verdade, estamos sempre em Sua presença), estamos a ponto de pecar. Meu caráter natural, ou a carne, se mostrará se eu estiver fora de Sua presença. Existe algo como a consciente morada do santo na presença de Deus sem medo. Se há alguma coisa entre mim e Deus, minha consciência estará em ação, mas quando o Espírito não está entristecido, a alma está na presença de Deus para regozijo – aprendendo santidade, é verdade, mas em gozo, porque estamos ocupados com a comunhão, em vez de estarmos ocupados com a detecção, e isso é algo ótimo. Existe tal coisa como estar em Sua presença em perfeito gozo e sem que a consciência tenha que ser exercitada. “Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou”. Isto era a plena paz de coração com Deus. Cristo foi divinamente perfeito – todas as Suas afeições estavam sempre em sintonia com Deus. Agora, por meio da graça e poder de Deus, podemos ser levados a isso. Cristo tendo sido revelado à alma, o mundo é expulso e Cristo é tudo, e há perfeito gozo. Muitas vezes, isso é nossa experiência depois da conversão, mas depois o amor a Cristo se torna menos fervoroso – o mundo se infiltra pouco a pouco e temos menos gozo.
A posição Cristã
Há três coisas nesses versículos de 1 João 1 que caracterizam um Cristão.
Primeiro, ele está na luz como Deus está na luz. Ora, Deus disse a Israel que Ele “habitaria nas trevas”, e no Sinai Ele disse a eles que se afastassem. Havia muita bondade ali, mas Ele estava em Sua tenda de trevas, e não era visto. Deus agiu em relação a Israel, mas não Se mostrou. Agora o véu é rasgado de alto a baixo e tudo é luz. Deus é agora manifestamente revelado, e aquele que vem através do véu rasgado permanece na luz da santidade de Deus, pureza perfeita em si mesma. A luz mostra tudo que não é puro.
Em segundo lugar, há “comunhão uns com os outros”. Estamos lá juntos e todos temos comunhão pelo mesmo Espírito Santo que habita em nós.
Terceiro, podemos estar ali porque “o sangue de Jesus Cristo… nos purifica de todo pecado”. Quanto mais profundamente estivermos na luz, mais ela mostra que não há mancha em nós por causa desse sangue. Isto não poderia ser dito de um Judeu no Velho Testamento, mas agora a justiça de Deus é estabelecida e nós somos trazidos para a luz como Ele está na luz. Isto nos dá gozo.
Se nosso coração for verdadeiro, nos alegraremos com a luz que detecta quaisquer trevas em nós. “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno”. Nós não queremos escapar da luz, e sim, sermos sondados por ela – não com a pretensão de que não temos pecado, mas com a consciência de que o sangue de Jesus Cristo nos purifica de todo pecado, porque o efeito de estar na luz é que confessamos nossos pecados. Há duas coisas aqui, a confissão e o amor.
O vínculo da comunhão
O poder das afeições da nova natureza forma um elo de comunhão com Deus e, somente à medida que nos mantemos na luz, conheceremos o desfrute prático disso. Devemos estar na luz para que os maus pensamentos possam ser excluídos, para que possamos ter comunhão com Deus. Em muitas coisas, em nosso relacionamento com os outros ou com o mundo, o “eu” entra e não é julgado por nós. Existe uma consciência prática no Cristão de que ele não pode continuar sem Deus, então ele se julga, espera e confessa, confiando em Deus, e assim seu coração é mantido calmo e em paz.
Há duas coisas importantes: a manifestação da vida eterna que nos foi anunciada e, segundo, somos participantes dela – temos comunhão com o Pai e o Filho. Ele nos comunicou essa natureza para que possamos nos deleitar em Sua comunhão.
Que o Senhor nos conceda que nos conservemos no amor de Deus – em Sua presença, na luz, detectando tudo o que não é d’Ele, julgando essas coisas e, assim, desfrutar de Seu amor.
Girdle of Truth, 1:232, adaptado
