Origem: Revista O Cristão – Doações Cristãs
Doações Práticas
Em outros artigos desta edição, os motivos e o caráter da doação foram discutidos. No entanto, muitas vezes há perguntas sobre o lado prático da doação. Quanto devemos dar? Como teremos fundos disponíveis para doar, e como decidiremos a quem doar? Creio que a Palavra de Deus responde essas questões para nós.
Bons despenseiros
Primeiro de tudo, devemos entender que tudo o que temos que usar para o Senhor aqui embaixo é confiado a nós como despenseiros. O Senhor Jesus poderia dizer: “Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras?” (Lc 16:11). O que temos aqui é que o Senhor chamou “no alheio”, enquanto Ele Se referiu às bênçãos espirituais como “o que é vosso” (Lc 16:12). Não devemos nos desfazer de nada aqui como se fosse nosso, mas devemos buscar a graça para sermos bons despenseiros. Da mesma forma, Pedro poderia dizer aos seus ouvintes que fossem “bons despenseiros da multiforme graça de Deus” (1 Pe 4:10). Não receberemos riquezas espirituais se não formos fiéis como despenseiros das coisas naturais.
Além disso, não é apenas o dinheiro que está em questão. Devemos ser bons despenseiros de tudo o que nos é confiado, seja tempo, energia, conhecimento espiritual ou um dom específico, assim como recursos materiais que podem ser representados pelo dinheiro. Se o amor de Deus é realmente desfrutado em nosso coração, então esse amor nos constrangirá a querer dar a nossa energia, tempo e habilidades para o Senhor, bem como o nosso dinheiro. Às vezes, o tempo é muito valioso, quando é gasto com alguém que precisa de uma visita e, às vezes, ajuda prática de alguma forma particular é muito mais aceitável do que dinheiro. Vamos sempre estar prontos para usar o que temos para o Senhor.
O quanto dar
Muitos crentes levantaram a questão sobre o quanto dar. Nosso coração natural tende a gostar de uma regra simples, mas esse não é o caráter do Cristianismo. Segundo a lei, era necessário dar um décimo, bem como o dízimo adicional prestado a cada três anos. Muitos crentes adotaram essa regra, mas não a encontramos em nenhum lugar do Novo Testamento. Pelo contrário, afirma-se: “Cada um contribua segundo propôs no seu coração” (2 Co 9:7). Se nosso coração está correto diante de Deus, o dar nunca será “com tristeza ou por necessidade”, mas será feito com alegria, como para o Senhor.
Por outro lado, que nunca ponhamos desculpas dizendo, desde que não estamos debaixo da lei, não estamos presos por tais regras, e podemos assim dar menos. Daremos menos estando debaixo da graça, do que o que os israelitas eram obrigados a dar estando debaixo da lei? Será que temos tão pouca apreciação pelo que Cristo fez por nós a ponto de darmos menos do que esse simples mínimo? É certo que Deus não precisa de nenhum dos nossos recursos ou dinheiro, mas nos dá o privilégio de ter uma melhor parte, pois “mais bem-aventurada coisa é dar do que receber”.
Ganho futuro
Mais do que isso, todos nós sabemos que não podemos levar nada conosco quando deixarmos este mundo. No entanto, enquanto estamos aqui, podemos usá-lo para preparar “um tesouro nos céus” (Lc 12:33), que nada pode tirá-lo de nós. Nossas riquezas só podem ser usadas neste mundo, e podemos usá-las para nosso próprio prazer, ou para depositar no céu um lugar que permaneça por toda a eternidade. O mesmo princípio é revelado pelo Senhor Jesus em Lucas 16:8-9, onde o Senhor elogiou o mordomo injusto que havia perdido sua mordomia, porque ele usou sua posição para fazer amigos com as “riquezas da injustiça” (dinheiro). O Senhor não estava passando por cima do erro do mordomo (Ele o chama de injusto), mas sim está ilustrando o princípio de usar a vantagem presente para ganhos futuros. A história, sem dúvida, traz diante de nós o uso do nosso dinheiro para o Senhor neste mundo, de modo que teremos um tesouro no céu quando esse dinheiro não estará lá.
Dinheiro disponível
Depois, há a questão de como ter dinheiro para dar, assim como tempo e outros recursos. Há muitas exigências feitas sobre nós hoje, e um dos dispositivos mais eficazes de Satanás entre os crentes é tirar todo o seu tempo disponível, assim como seu dinheiro, para que não haja nada mais que reste para o Senhor. Nós todos sabemos com que facilidade isso pode acontecer. Eu acredito que a Palavra de Deus nos dá um princípio importante que se aplica aqui. Quando Paulo estava exortando os coríntios a darem pelos pobres santos em Jerusalém, ele os instruiu da seguinte forma: “No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade [como Deus o fez prosperar – KJV]” (1 Co 16:2).
Se não colocarmos algo de lado para o Senhor, descobriremos que, quando surgir uma necessidade, não teremos nada com o que atendê-la. Novamente, nenhuma quantidade ou porcentagem é especificada, pois deve ser do coração. Devemos ter esse propósito em nosso coração no quanto reservar, sem, é claro, fazer a quantia que reservamos o limite de nossas ofertas. Se surgisse uma necessidade maior, poderíamos usar outro dinheiro que não tivesse sido especificamente reservado, a fim de responder a essa necessidade. O mesmo princípio pode ser aplicado ao nosso tempo e a outros recursos, pois é fácil ter todo o nosso tempo e energia alocados para nossos próprios propósitos, não deixando nada para o Senhor. Temos que planejar com antecedência, certificando-nos de que o tempo e outros recursos sejam dados para o Senhor. Novamente, isso não nos limita, pois sempre podemos dar mais ao Senhor se a necessidade se apresentar.
Hospitalidade
Uma das áreas em que as Escrituras colocam alta prioridade é a hospitalidade. Paulo poderia exortar os que estavam em Roma dizendo: “segui a hospitalidade” (Rm 12:13), enquanto Pedro podia dizer aos seus ouvintes que seguissem “sendo hospitaleiros uns para os outros, sem murmurações” (1 Pe 4:9). É particularmente em conexão com a hospitalidade que Pedro nos diz para sermos “bons despenseiros da multiforme graça de Deus” (1 Pe 4:10). Nestes dias, quando marido e mulher costumam passar um tempo considerável fora de casa e quando nossa vida está cheia de muitas responsabilidades, é importante reservar tempo para a extensão da hospitalidade a outras pessoas.
Onde dar
Finalmente, há a questão de onde dar ou a quem. Novamente, a Escritura não nos dá nenhuma regra sobre isso. É um privilégio dar como assembleia, e sem dúvida isso estava nos pensamentos de Paulo quando ele exortou os coríntios, como vimos. Alguns podem achar que simplesmente colocariam todo seu dinheiro na caixa de coleta no Dia do Senhor, deixando para a assembleia distribuir diante do Senhor. Isto tem uma sanção escriturística, pois na Igreja primitiva, os homens foram colocados na atividade de distribuir os recursos entregues à assembleia (At 6:16). Eles eram homens dignos de confiança, e a assembleia encarregou a eles dessa responsabilidade.
Nosso tempo e energia
Contudo, a obra do Senhor na Escritura é sempre levada pela energia do Espírito de Deus no indivíduo, e assim o Senhor pode colocar em nosso próprio coração algum trabalho a fazer por Ele. Isso pode incluir o uso de nosso tempo, energia e dom, e certamente pode incluir o uso de nosso dinheiro também, seja para um trabalho que empreendemos ou para ajudar outro. O Senhor disse em Lucas 19:23, a respeito do servo mau que guardou sua mina num lenço: “Por que não puseste, pois, o meu dinheiro no banco, para que eu, vindo, o exigisse com os juros?” Se o servo não iria fazer uso da mina, colocando-a no banco, ele a deveria colocá-la à disposição de outro que precisasse dela. Uma aplicação disso é dar dinheiro a outro para que ele ou ela possa ser ajudado a servir ao Senhor de alguma forma.
Assim, vemos que Deus não nos limita, pois se estivermos andando com Ele, teremos orientação em todas essas coisas. Se nosso coração estiver cheio de amor, ele responderá de todas as maneiras, e seremos como os primeiros discípulos, que não diziam que as coisas que possuíam eram suas (At 4:32). Em vez disso, consideraremos tudo como pertencendo a Cristo, para serem usados para Sua glória, para Seus interesses aqui e para a bênção de Seu povo.
