Origem: Revista O Cristão – Sacerdócio e Advocacia
A Palavra de Deus e o Sacerdócio
Há duas coisas que Deus emprega ao nos guiar pelo deserto, como é dito em Hebreus 5. Uma é a Palavra de Deus e a outra é o sacerdócio do Senhor Jesus.
A Palavra e nossa carne
A Palavra de Deus é usada para a detecção e discernimento dos pensamentos e intenções do coração. É “viva, e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes… e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração”. O que quer que seja carne, a Palavra corta impiedosamente, e agradecemos a Deus por ela, porque carne é um obstáculo à nossa bênção. A advertência de que o apóstolo fala aqui, aludindo à história de Israel, é que seus corpos caíram no deserto. Eles haviam saído do Egito e, no entanto, seus corpos caíram no deserto. Existe, é claro, para nós, o perigo que corresponde a isso – um perigo muito real. Sem dúvida, Deus manterá os Seus até o fim, mas existe o perigo real, e, se somos mantidos, é pela fé. Agora, aquilo que tende a nos fazer cair no deserto é a carne, e os meios que Deus usa para não cairmos no deserto é a Palavra que é mais afiada do que qualquer espada de dois gumes. O que não é um pensamento que vem de Deus e uma intenção que vai para Deus, a Palavra de Deus julga – isto é, tudo aquilo que surge naturalmente no coração do homem, tudo aquilo que vem da carne (que, é claro, é tudo num mero homem natural).
Quanto à aceitação com Deus, podemos dizer que a carne já está condenada. “Porquanto, o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o Seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne”. Assim, visto como uma questão de justiça na cruz de Cristo, Deus condenou o pecado na carne, e então, quando chegamos à jornada através do deserto, a Palavra de Deus julga o que não está de acordo com aquela Palavra. A cruz já tratou com a carne – tudo o que não convinha à morte de Cristo em pensamento ou ato era assim julgado e condenado. A Palavra de Deus é um meio para o cumprimento prático disso. O segundo meio empregado é o sacerdócio do Senhor Jesus Cristo.
O sacerdócio e nossas necessidades
A Palavra de Deus, vimos, julga os pensamentos e intenções do coração, enquanto o sacerdócio se aplica a todas as fraquezas e fracassos. No momento em que é uma questão de um pensamento ou intenção do coração, tem que ser julgado como vindo da carne, e isso é feito pela Palavra de Deus, que é mais afiada do que qualquer espada de dois gumes. Por outro lado, quando se trata de provações e fraquezas, você têm o sacerdócio do Senhor Jesus Cristo. A Palavra de Deus é o olho de Deus, julgando tudo em minha alma que não é segundo o que Ele é. E então “temos um Grande Sumo Sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus”. Quando há um momento de necessidade e dificuldade, é o Sumo Sacerdote cheio de ternura e misericórdia “para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno”. Não pode ser, evidentemente, algo inconsistente com a Palavra de Deus. Não pode ser um a cortar e o outro a poupar a carne e, portanto, o sacerdote deve nos sustentar de acordo com a bênção que nos é dada inteiramente fora do alcance da carne. E é assim que Cristo Se torna o Sumo Sacerdote. Ele foi para o alto onde a carne não pode entrar. Este é o lugar no qual devemos falar para Deus, e portanto, como nosso Sumo Sacerdote, Ele tem que cuidar dos nossos assuntos na presença de Deus onde nada que é impuro pode entrar. Ele coloca o fundamento disso no sacrifício em virtude do qual Ele pôde ir lá, então este mesmo sacerdócio de Cristo é fundado em nossa aceitação.
A passagem pelo deserto
Como uma figura, a redenção de Israel do Egito, que precedeu toda a jornada deles no deserto, é aqui usada. Nós não temos mais nenhuma relação com o Egito. O Mar Vermelho colocou morte e julgamento entre os viajantes e o Egito, e assim acontece com o santo agora. Morte e julgamento formam o ponto de partida do santo. Existe aquilo que o antecede no exercício do coração, e quando uma alma se propõe a deixar este mundo de ruína e condenação, frequentemente se encontra, como fez Israel, nas margens do Mar Vermelho, as águas na sua frente e seus inimigos atrás deles. Lá eles estavam completamente cercados por este julgamento, onde Satanás estava pressionando a eles. Mas no momento em que passaram pelo Mar Vermelho, tudo aquilo foi inteiramente e finalmente encerrado. O que tinha sido uma barreira quando Israel não poderia avançar mais, agora ficou totalmente para trás e serviu como uma barreira contra o Egito. E para nós, a morte e o julgamento são uma barreira segura entre nós e todos os que estão contra nós. Não é que não haja conflito depois – nenhum cansaço depois – mas não há dúvida de libertação depois disso. Se Israel não fosse fiel, eles falhariam em obter vitórias, mas não havia dúvida de que Deus não estava sendo contra eles.
Em seguida vem esta jornada pelo deserto, o julgamento da carne pela Palavra, e depois o sacerdócio de Cristo que é exercido por nós. E quando eu venho ver onde Cristo está, eu descubro que é Aquele que passou pela morte e julgamento que me eram devidos, e Ele tomou Seu lugar na presença de Deus, onde Ele está exercendo Seu sacerdócio. Ele estabeleceu o ponto onde eu pertenço – onde eu adoro – e é na presença de Deus que é o meu lugar. Tudo o que me pertence, como no primeiro Adão, ficou para trás em minha comunhão com Deus – não no que diz respeito ao conflito com ele, mas no que diz respeito ao meu lugar com Deus. A velha natureza ainda está lá, e a Palavra vem e julga todos os movimentos dela que me impediriam no meu caminho. Mas o lugar onde Cristo exerce Seu sacerdócio está totalmente fora da carne; está no céu. Israel tinha um lugar na Terra e um sacerdote na Terra; nós temos um lugar no céu e um Sacerdote no céu.
