Origem: Revista O Cristão – Os Dons

A Habilidade Natural e o Dom Espiritual

Quando consideramos a ação do Espírito no dom, o princípio da Escritura – do Senhor – é o talento natural, depois o dom e depois a diligência no uso do dom. É importante considerarmos isso, pois o dom não é algo distinto do indivíduo que o possui. Em vez disso, o dom é associado àquele a quem é dado, com seus talentos e habilidades naturais, e com diligência em seu desenvolvimento. Vamos considerar primeiramente as habilidades naturais.

Habilidade natural 

Em Mateus 25 temos a declaração expressa do Senhor de que quando Ele foi embora chamou Seus servos e deu “a cada um segundo a sua capacidade [habilidade particular – JND]. Paulo é mencionado como um “vaso escolhido”, bem como o receptor de um dom, e certamente ninguém pode duvidar das qualidades notáveis que precederam o seu chamado. Quando lemos a história de homens como Pedro, Tiago e João, podemos duvidar que eles tivessem alguma habilidade antes do dia de Pentecostes – habilidades que o Senhor, em Sua sabedoria divina, deu para serem usadas em conexão com o Seu dom?

Em Romanos 12:6 lemos: “tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada”, e então vários dons são detalhados para nós juntamente com o uso apropriado deles. Os dons não são apenas de pregação, mas qualquer serviço realizado para os santos. Isso envolveria necessariamente o próprio indivíduo, não apenas o dom. Finalmente, em Efésios 4:11, temos apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres sendo mencionados, e aqui o dom é claramente o próprio homem. Todas as habilidades naturais do indivíduo e até mesmo suas características físicas estavam envolvidas. O dom que foi dado complementaria e se ajustaria às habilidades naturais daquele a quem o dom foi dado.

O Doador de dons 

Quanto aos dons em si, estes não são propriamente os “dons do Espírito”, embora não tenhamos objeções ao termo se ele for entendido corretamente. Contudo, não temos tal termo na Escritura. Os dons foram dados por um Cristo ressuscitado em glória, como lemos em Efésios 4:8: “Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens”. Em alguns casos, a doação administrativa desses dons foi confiada aos apóstolos, e assim Paulo pôde dizer a Timóteo: “Despertes o dom de Deus, que existe em ti pela imposição das minhas mãos” (2 Tm 1:6). Mas note que é claramente mencionado como “o dom de Deus”. Tais dons foram dados “querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” (Ef 4:12). O Espírito é claramente o poder na operação desses dons, mas Ele não é mencionado como o doador.

Mais importante do que o dom 

Mais do que isso, os dons sempre estavam ligados ao corpo de Cristo, e a Escritura nunca fala de seu exercício fora da unidade do corpo. Desta forma, cada um tem um dom, pois cada membro do corpo tem algo para contribuir. “A graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo” (Ef 4:7). Alguns dons eram mais proeminentes, mas, em outro sentido tudo é um dom, seja ligado a uma demonstração de poder sobrenatural, ou seja para o bem e a bênção do povo de Deus de maneiras menos espetaculares. Deus deu esses dons para a manutenção da unidade do corpo. No entanto, a unidade do corpo e a presença de Deus nele são mais importantes do que os meios usados para mantê-lo. O objetivo do dom não é atrair para o dom, mas sim para Aquele que o deu e a exibição dessa unidade do corpo com Ele.

Finalmente, a Escritura fala do uso diligente do dom. Já observamos como Paulo exortou Timóteo a “despertar o dom” que estava nele. Anteriormente, ele havia dito a Timóteo para “Não desprezes o dom que há em ti” e “Medita estas coisas”, e também “ocupa-te nelas” (1 Tm 4:14-15). Todas essas instruções provam que a posse do dom deve ser acompanhada pelo uso diligente dele, para que o proveito apareça.

Quem fica com a glória? 

Em conclusão, vemos que enquanto os dons, como tais, são de um Cristo ressurreto em glória, eles estão, de acordo com a Escritura, intimamente ligados tanto com as habilidades naturais quanto com os talentos individuais e, posteriormente, à diligência no desenvolvimento do dom. Nós vemos a sabedoria de Deus nisso. Como o Doador do dom, nosso Senhor Jesus Cristo recebe a glória, pois é Ele Quem dá o dom. Quando recebemos um presente [dom] e o benefício que ele nos traz, agradecemos a quem nos presenteou e não ao presente em si. Por outro lado, Deus reconhece as habilidades naturais que podem ser necessárias para o bom exercício do dom. Assim, uma boa mente pode ser um dom maravilhoso se usada sob o poder do Espírito de Deus. É triste dizer que muitos dons hoje em dia estão adormecidos, por falta de diligência, e os santos de Deus sofrem em consequência disso.

Acima de tudo, que possamos reconhecer que todo dom, seja público ou usado em uma esfera mais privada, é, em última instância, para o bem do povo de Deus e para a glória de Cristo, a fim de que “cresçamos em tudo n’Aquele que é a Cabeça, Cristo” (Ef 4:15).

Adaptado de The Bible Treasury, vol. 4

W. Kelly

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