Origem: Revista O Cristão – Os Dons
Os Dons de Um Cristo que Subiu ao Céu
Uma diversidade de dons em um corpo é apresentado na Epístola aos Efésios. Depois de enfatizar fortemente a manifestação da unidade, o apóstolo continua dizendo: “Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo. Pelo que diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens” (Ef 4:7-8). A palavra “graça” usada aqui não é a exibição da graça pela qual os pecadores são salvos, mas sim aquela pela qual os crentes são dotados com os dons de um Cristo que subiu ao céu. A graça, naturalmente, é a mesma em ambos os casos, mas exercida de uma maneira diferente.
O propósito e a distribuição dos dons
Há uma distinção marcada entre o modo como os dons são mencionados nesta epístola e na epístola aos Coríntios. Em Coríntios, o ensino não é tanto em relação à origem dos dons, mas à sua distribuição e exercício. Este é o círculo correto da atividade do Espírito. “A um”, lemos, “pelo Espírito, é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência” e assim por diante, nomeando outros dons, “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas essas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer” (1 Co 12:8-11). O Espírito é soberano na regulação do exercício dos dons na assembleia, e assim todos os dons que podem ser usados na assembleia são levados em conta, sejam dons de sinais ou aqueles mais particularmente para a edificação do corpo. Em Efésios, a ênfase está mais na origem e objeto do dom – “querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” (Ef 4:12). A origem é o próprio Cristo, agindo em Seus direitos adquiridos como o Homem vitorioso, ressuscitado e que subiu ao céu. Isso concorda com o caráter geral da epístola. No capítulo 1 lemos: “O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo… ressuscitando-O dos mortos e pondo-O à Sua direita nos céus, acima de todo principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro” (Ef 1:17, 20-21). Em virtude dessa vitória, Ele agora concede dons aos crentes.
Um dom para todos
Embora alguns dons especiais sejam citados em Efésios 4:11, a linguagem usada no versículo 7 ocupa um campo mais amplo. Lá lemos: “Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo”. Assim fica claro que a todos os crentes é confiado algum dom para ser usado para seu Senhor que está ausente. A graça mencionada não é meramente para um seleto grupo formado por poucos, mas é “para cada um de nós”. Enquanto os dons especiais necessários para o trabalho público estão confinados a poucos, cada crente tem algum dom para a edificação do corpo. Efésios 4:16 fala do corpo “bem ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte”. Em Romanos 12, onde o uso fiel e diligente dos dons é revelado, coisas como mostrar misericórdia, liberalidade e serviço no mais amplo sentido da palavra estão incluídos. Um vasto círculo de responsabilidade e atividade é assim aberto, e os dons que são trazidos à luz são distintos tanto dos dons de sinais em 1 Coríntios 12 quanto dos dons para o ensino público.
Uma classe especial de dons
Em Efésios 4:11, no entanto, o apóstolo fala de uma classe especial de dons. “E Ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores”. Aqui não se diz que os apóstolos receberam dons, mas que eles foram dados, ou presenteados. Os dons aqui são os próprios indivíduos – apóstolos, pastores, doutores e assim por diante. Não há dúvida de que apóstolos e profetas eram dons de fundação, pois a Igreja foi edificada “sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina” (Ef 2:20). Não há nada dito sobre a continuidade desses dons, e de fato seria impossível que o dom de um apóstolo continuasse, pois uma das características distintivas de um apóstolo era que Ele havia sido uma testemunha da ressurreição do Senhor. Da mesma forma, o dom de um profeta foi um dom de fundação, para dar a mente de Deus até que a Palavra de Deus fosse completa. Foi aos profetas, bem como aos apóstolos, que a verdade da Igreja foi revelada pelo Espírito e, em alguns casos, o profeta também previu eventos futuros. Neste caráter, o dom de um profeta era apenas temporário. Sem dúvida, o uso de profecia para edificar, exortar e consolar o povo de Deus continua, mas isso não é propriamente o dom de um profeta, pois Paulo pôde dizer aos coríntios: “todos podereis profetizar, uns depois dos outros” (1 Co 14:31).
Os dons e a unidade
Finalmente, poderíamos dizer que todos os dons, sejam os que são usados publicamente ou em privado, tinham em vista a unidade do corpo de Cristo e devem ser exercidos no poder e em consonância com a unidade do Espírito de Deus. Não há pensamento na Escritura sobre o uso de um dom sem referência ao corpo de Cristo, porque os dons representam a maneira variada pela qual Cristo proveu para Seu corpo, mas tudo em unidade. Nós humildemente reconhecemos que a manifestação exterior dessa unidade foi tristemente arruinada. No entanto, a unidade do Espírito ainda existe, os dons ainda estão aqui, e é um privilégio, bem como uma grande responsabilidade, agir de acordo com o que Deus nos deu.
Adaptado de The Christian Friend, 1879
