Origem: Revista O Cristão – Deus Nosso Pai
A Casa do Pai
João 14
Este capítulo apresenta um objeto diante de nossa alma bem como nos dá nossa porção em Cristo, uma porção na casa do Pai e, em segundo lugar, nos apresenta como chegaremos a este lugar. Ele maravilhosamente apresenta diante de nós nosso lugar agora enquanto Ele está ausente de nós (mesmo que em um sentido Ele jamais está ausente), que conforto é isso para o Cristão, e que lugar para o qual Deus o tem trazido. Isto não é uma verdade nova, mas mostra onde o coração do Cristão está quando ele realmente tem Cristo diante dele e o Espírito Santo trabalhando nele.
Cristo indo embora
Cristo estava indo embora e era natural que eles estivessem entristecidos. No final do capítulo, Ele lhes diz de uma maneira comovente: “Se vocês pensassem em Mim, ficariam felizes que estou voltando para Meu Pai e saindo deste cenário de pecado e tristeza”. Ainda assim, parecia para eles que iriam perdê-Lo, e era natural que eles sofressem, e assim Ele lhes dá o que seria para o conforto deles quando Ele tivesse ido.
Além disso, é trazido novamente o Seu retorno. “Não posso ficar aqui convosco”, diz Ele, mas “virei outra vez e vos levarei para Mim mesmo”. Todo o estado do mundo era impróprio para que Ele permanecesse na Terra. Ele não podia descansar aqui. Ele poderia ficar por um tempo e servir, mas não podia descansar. Mesmo muito antes, no Velho Testamento, é dito: “Não será aqui o vosso descanso, por causa da imundícia”, mas isso apenas mostrou à bendita verdade de que Ele nos daria um descanso onde Ele também poderia descansar, com o Pai, e que Sua obra foi tão perfeita e tão eficaz que Ele poderia nos dar um lugar ali. Nós temos uma porção onde Ele tem toda a Sua glória, todo o Seu descanso, o fruto do trabalho da Sua alma.
“Na casa de Meu Pai há muitas moradas… vou preparar-vos lugar”. Note aqui, isto foi na casa de Seu Pai, o lugar que Ele teve como Filho onde Ele estava em casa, lá Ele estava indo preparar meu lugar. Isso é uma bênção indescritível! Foi um conforto, um gozo ter Cristo com eles no mundo, mas isso foi ocasional. Ele estava indo preparar um lugar onde Ele estava em casa. Pense como será a casa de um coração como o d’Ele – onde todas as Suas divinas afeições fluirão, o divino Filho e ainda um Homem, e pensar que este é o lugar aonde Ele vai nos levar. Que maravilha! Que lar deve se esse!
Cristo vindo novamente
“Voltarei e vos receberei para Mim mesmo” – Ele não diz: Eu vos chamarei, isso não funcionaria – nem Eu enviarei alguém para vocês, isso também não funcionaria – mas “Voltarei”. Que tocante! Embora tenha entrado na glória e assentado no trono de Seu Pai, Ele deixará isso e virá para nos levar para a casa de Seu Pai. Suas afeições são tão fixadas em nós que Ele não está satisfeito sem que Ele próprio venha por nós. Ele não enviaria alguém. Não é apenas uma bem-aventurança para nós Ele próprio vir para nós, mas é a expressão do coração de Cristo. Ele quer isso – Ele quer nos ter. É o Seu próprio interesse em nós, o Seu amor por nós. Quando conhecemos isso, o coração é atraído para Ele. Sem dúvida, é uma bênção indescritível para nós, mas é a revelação do próprio Cristo. A única bendita esperança da Igreja é que Ele virá novamente e nos buscará. A confiança é certa de que, quando estivermos despidos, estaremos com o Senhor “ausentes do corpo… presente com o Senhor”. Contudo, essa não é a esperança, a esperança é que Ele venha e nos busque. Está em Seu coração e deve estar no nosso. Eles saíram para encontrar o noivo; essa foi a condição da Igreja no primeiro momento. Convertidos para esperar por Seu Filho do céu, todos adormeceram, sábios e insensatos, e tiveram que ser despertados pelo clamor da meia-noite. Foi “O meu senhor tarde virá”, que trouxe a mortificação para a Igreja e isso levou ao comer, ao beber e a embriaguez, e ao espancamento dos servos e servas.
A esperança em nosso coração
Isso não é uma verdade que pode ou não ser realizada. Ela é essencial para a vida cotidiana do Cristão. Se eu estou esperando diariamente por Cristo, não gostaria de estar em nenhum lugar onde eu não gostaria que Ele me encontrasse, e o que não O agradasse eu deveria por de lado, seja o que for. Estamos à espera de alguém que nos ama. Seu coração nos quer e Ele irá satisfazer Seu coração. Isso não é profecia! A profecia tem a ver com o governo de Deus deste mundo, e é muito interessante em seu devido lugar, mas não tem nada a ver com a nossa esperança.
Agora outra coisa nos é trazida. Se eu estiver enviando meu filho, ou um órfão, se preferir – ainda que em um sentido nós não somos órfãos – para um lugar estranho, o ponto principal para ele seria saber com que tipo de pessoa ele iria conviver quando chegasse lá. O céu é um lugar muito vago, se eu não tiver uma Pessoa lá. Se não houvesse ninguém lá – se fôssemos morar em um lugar santo por nossa própria conta – isso não daria certo. Não teríamos nenhum objeto diante de nossa alma. Haveria uma imensa lacuna, um vazio. Claro, não é possível que seja assim. E então Ele nos diz que conhecemos o Pai se conhecemos a Ele – que é a casa do Pai para onde Ele estava indo e pra onde irá nos levar. Então, o ponto principal para nós é como podemos conhecer o Pai e a satisfação perfeita. Não é como este pobre mundo vazio, que, sendo nosso coração feito para Deus, é pequeno demais para preenchê-lo. Este objeto é grande demais para nosso coração. Eu insisto nisto, quão perto o Pai foi trazido de nós. Eles O viram e assim viram o Pai e, quando perguntam o caminho, Ele diz: “Eu Sou o caminho”.
O caminho para a casa do Pai
“Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai”. Eles tinham a plena bem-aventurança, mas seus pobres corações não sabiam disso. Ele poderia dizer para nós, “Estou há tanto tempo convosco, e não Me tendes conhecido, Filipe?” Ou podemos dizer que nossa alma viu o Pai na Pessoa do Filho ao ponto de poder dizer: “Eu encontrei tudo e eu tenho tudo”. É isso que forma o coração quanto às suas afeições. Se seguimos a Cristo em Seu caminho aqui – seguimos a Ele nos Evangelhos – aprendemos os caminhos do Pai no Filho? Ele passou tudo o que Ele desfruta do Pai aos discípulos para que eles possam desfrutar do Pai como Ele desfruta. Quanto aprendemos desse favor e bem-aventurança que Ele revela? Não posso aprender nada disso que não seja meu, “para que o amor com que Me tens amado esteja neles, e Eu neles esteja”. Todas as coisas são minhas.
O Senhor insiste nisso com eles, dizendo que “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, este O fez conhecer”. É errado pensarmos que Ele deixou o seio do Pai. Ele nunca o deixou; Ele deixou a casa do pai. Você recebe em Cristo a revelação completa do que é o Pai. O Filho unigênito, todo o deleite do Pai concentra-se n’Ele, no seio do Pai, que está no pleno gozo dele. Ele declara o Pai. Eu vejo que Ele é infinito, e eu O adoro, mas vejo que Ele é a revelação do amor do Pai para mim, quando eu me debruço sobre Sua vida aqui.
Juntos em comunhão
Não é apenas dizer, eu sou um pecador perdido e fui salvo, mas é o Espírito Santo que habita em mim, ocupando-me com Cristo, tendo comunhão com o Pai e o Filho, que é a minha porção. Quando digo que tenho comunhão com alguém aqui embaixo, quero dizer que tenho os mesmos pensamentos, as mesmas alegrias, os mesmos modos. Isso é verdade sobre nosso relacionamento com o Pai e o Filho? Isto nos dá a santidade de pensamentos, é claro, e dá piedade de pensamentos, isto é, você obtém afetos de acordo com o relacionamento em que você se encontra, adequado àquilo que está diante de sua alma.
Supondo que minha alma esteja meditando na abençoada obediência de Cristo – Sua obediência até a morte – e eu estou sentado adorando e contemplando Cristo dessa maneira, o Pai não a contempla também? Não conheço o deleite do Pai nela também? “Por isso, o Pai Me ama, porque dou a Minha vida”, e é por isso que eu O amo, porque Ele deu a Sua vida. Eu amo em minha pobre e frágil medida, é claro, mas estou tendo o mesmo objeto.
Não fique satisfeito se você não sabe o que é desfrutar do favor do Pai no Filho e conhecer o Pai revelado em todos os caminhos de Cristo, que o Filho de Deus veio ao mundo para revelar o Pai. Até que ponto seu coração aprendeu que Ele desceu para fazer você conhecer o amor do Pai e o Filho?
O Senhor nos permite ter nossos olhos repousando sobre Ele, na plenitude da graça n’Ele, para que, sabendo que Ele vai nos levar, possamos conhecê-Lo em nós agora – em Cristo e em Cristo em mim – e conhecer a Sua força para continuar mostrando-O.
de Miscellaneous, vol. 4, págs. 43-50
