Origem: Revista O Cristão – Sofrimentos

Os Sofrimentos de Cristo

Lucas 24:26 


Multidões de santos olham para todos os sofrimentos de Cristo com um sentimento amoroso do valor infinito que eles têm, e acreditam que todos foram suportados por amor a eles e como o meio de suas bênçãos. Eu apenas posso orar a Deus para que esse sentimento possa ser aprofundado neles e também em mim. Nunca poderemos sentir isso em toda a sua profundidade.

Sofrendo por causa da justiça 

Cristo, sabemos, sofreu da parte dos homens. Ele foi desprezado e rejeitado pelos homens, um homem de dores e familiarizado com a dor. O mundo O odiou antes que odiasse Seus discípulos. O odiava porque Ele dava testemunho de que suas obras eram más. Ele era “luz”, e aquele que faz o que é mal odeia a luz, nem vem para a luz, porque suas obras são más. Em uma palavra, Cristo sofreu por causa da justiça. O amor que fez com que o Senhor ministrasse aos homens no mundo e testificasse do seu mal trouxe apenas mais tristeza sobre Ele. Em troca de Seu amor Ele recebeu ódio. Este ódio do homem contra Ele nunca diminuiu até a Sua morte. Cristo sofreu da parte dos homem por amor à justiça. Sofrer pela justiça pode ser a sua feliz porção. Sofrer pelo pecado é, no que diz respeito ao Cristão, a parte que pertence somente a Cristo.

Sofrendo no Getsêmani 

Um peso de outro caráter veio sobre o Senhor – a antecipação de Seus sofrimentos na cruz e seu caráter verdadeiro e iminente. Sobre a senda de Sua vida, a morte estava ali. Assim foi no Getsêmani, quando estava ainda mais perto, o príncipe deste mundo veio e Sua alma estava profundamente triste até a morte. Ainda não havia o abandono de Deus, embora estivesse sendo tratado com o Pai sobre o cálice que se caracterizava por ser abandonado por Deus. Mas no Getsêmani tudo estava se aproximando. Foi quando o poder das trevas e a profunda agonia do Senhor se manifestaram em poucas (mas poderosas) palavras e suor como se fossem gotas de sangue. O cálice que Seu Pai Lhe deu para beber, Ele não o beberia? Nunca meditaremos o suficiente sobre o caminho de Cristo aqui. Podemos nos deter em torno do local e aprender o que nenhum outro lugar ou cenário pode nos ensinar – uma perfeição que é aprendida apenas com Ele e vinda d’Ele somente.

Os sofrimentos expiatórios 

Não podemos ter um senso profundo o suficiente da intensidade do sofrimento do Senhor em Sua obra expiatória, a qual nenhuma palavra humana é competente para expressar (pois na linguagem humana expressamos apenas nossos próprios sentimentos) – o que significava para Ele o beber do cálice da ira divina. Nada pode ser misturado ou confundido com isso. A ira divina contra o pecado, realmente sentida e verdadeiramente sentida na alma d’Aquele que, por Sua perfeita santidade e amor a Deus e sentido o amor de Deus em seu valor infinito, pudesse saber o que era a ira divina e o que era ser feito pecado diante de Deus, d`Aquele também que era, em virtude de Sua Pessoa, capaz de sustentá-lo, permanece totalmente separado e sozinho.

Mas a divina majestade de Deus, Sua santidade, Sua justiça, Sua verdade, tudo em Sua própria natureza suportou contra Cristo quando foi feito pecado por nós. Tudo o que Deus era, era contra o pecado, e Cristo foi feito pecado. Nenhum conforto de amor enfraqueceu a ira ali. Nunca o Cristo obediente foi tão precioso, mas a Sua alma devia ser oferecida pelo pecado e suportá-lo judicialmente diante de Deus. No final das três horas de escuridão, isto é expresso pelo Senhor nas palavras do Salmo 22: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?” Aqui o Senhor sofreu para que nem uma gota do que Ele tomou sobre Si pudesse permanecer para nós. Isto tinha sido miséria eterna e ruína para nós. Sua própria perfeição divina em amor passou por ela sem um raio de conforto vindo de Deus ou do homem.

O amor O trouxe para a cruz, bem sabemos isto, mas Sua dor ali não teve qualquer gozo presente de uma ministração de amor. Ele não estava lidando com o homem, mas sofrendo em seu lugar, em obediência, de Deus e para o homem. Por isso, foi um sofrimento absoluto e não suavizado – a cena, não de bondade ativa, mas do abandono de Deus.

Ele sofreu debaixo da mão de Deus na cruz. Ali sofreu – o Justo pelos injustos –, isto é, Ele sofreu, não porque Ele era justo, mas porque éramos pecadores e Ele estava levando nossos pecados em Seu próprio corpo no madeiro. No que diz respeito ao abandono que sofreu de Deus, Ele pôde dizer: Por que Me desamparaste? Porque n`Ele não havia motivo algum. Nós podemos dar a solene resposta. Em graça, Ele sofreu – o Justo pelos injustos –, pois Ele havia sido feito pecado por nós.

Os sofrimentos de amor 

Seu coração de amor deve ter sofrido muito com a incredulidade do homem infeliz e de Sua rejeição pelo povo. Lemos do Seu suspiro ao abrir os ouvidos surdos e soltou a língua presa (Mc 7:34), e quando os fariseus pediam um sinal (cap. 8:12), do Seu profundo suspiro em espírito. Assim, de fato, em João 11 no sepulcro de Lázaro, Ele chorou e gemeu dentro de Si mesmo ao ver o poder da morte sobre os espíritos dos homens e a incapacidade deles se libertarem, assim como Ele chorou, também sobre Jerusalém, quando viu a amada cidade pronta para rejeitá-Lo no dia de sua visitação. Tudo isso foi o sofrimento do amor perfeito, movendo-se por uma cena de ruína, em que a obstinação e a falta de coração fecharam cada caminho contra esse amor que trabalhava tão fervorosamente em seu meio. Dessa tristeza (bendito seja Deus) e do gozo que a ilumina, somos permitidos, em nossa pequena medida, a participar. É a tristeza do amor em Si.

O próprio pecado deve ter sido uma fonte contínua de tristeza para a mente do Senhor. Quão mais santo e mais amoroso Ele era, mais terrível era o pecado para Ele.

Outra fonte de tristeza talvez fosse mais humana, mas não menos verdadeira – me refiro a violação de toda delicadeza que uma mente perfeitamente sintonizada poderia sentir. Eles ficam encarando e olhando para Mim. O insulto, o desprezo, o engano, os esforços para capturá-Lo em Suas palavras, a brutalidade e a zombaria cruel não caíram sobre um espírito insensível, embora divinamente paciente. Eu não falo nada sobre deserção, traição e negação – Ele procurava por alguém que sentisse piedade d’Ele, e não havia ninguém, e por consoladores, mas não encontrava nenhum – além do que invadia cada sentimento delicado de Sua natureza como um Homem. A repreensão partiu Seu coração. Não creio que houvesse um único sentimento humano (e todos os sentimentos mais delicados de uma alma perfeita estavam ali) que não foram violados e pisados em Cristo.

Também as tristezas dos homens estavam em Seu coração. Ele suportou as fraquezas e carregou as enfermidades deles. Não houve nenhuma tristeza ou aflição que Ele tenha encontrado que Ele não a suportou e carregou em Seu coração como sendo Sua própria. Em todas as aflições deles, Ele foi aflito. É de infinito valor que eu possa saber, em todas as minhas tristezas, tentações e provações, mesmo aquelas que vem por minha causa e fraquezas, que Ele as sente ou comigo ou por mim. Cristo entrou nos sofrimentos que surgem do amor ativo no mundo, e a tristeza que surge do sentimento de castigo em relação ao pecado e estes misturados com a pressão do poder de Satanás sobre a alma e o terror da ira prevista. Nós sofremos por nossa insensatez e sob a mão de Deus, mas Cristo entrou nela. Ele tem empatia por nós.

The Sufferings of Christ

J. N. Darby

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