Origem: Revista O Cristão – Sofrimentos

Aflições e Consolações

A primeira epístola de Pedro 

Há três coisas na primeira parte desta epístola: primeiro, o apóstolo contempla os santos em tempos de várias aflições; segundo, Deus mostra a mente que deveríamos ter para passar por essas aflições; e terceiro, Ele fornece os consolos para tal tempo.

Provações indefinidas 

A primeira prova que ele contempla é a prova da fé (1 Pe 1:5-13). A forma de provação aqui é que a mão de Deus está tratando com nossa fé. A provação é para exercitar a alma nos princípios de fé. Pode ser uma circunstância ou desapontamento, mas é algo que liga o coração aos objetos de fé. E é muito belo que a sabedoria do Espírito deixe a prova indefinida, e ela só é conhecida como sendo a prova de fé. Ela pode causar peso no presente, mas o apoio que Deus provê para esta prova de fé é o olhar para frente. No dia da Aparição de Cristo esta fé que tem sido polida pelo fogo será encontrada em louvor, honra e glória.

Note novamente as três coisas aqui: a prova de fé, o exercício do coração que ela produz e o conforto do Senhor no coração durante a provação. A provação exercita o coração para ele se unir à eternidade e ao céu. O Senhor consola o coração sob tal provação, dirigindo-o para a Aparição de Jesus, e o Senhor aconselha o coração a mostrar como se comportar sob provação. O Espírito de Deus não nos diz para tirarmos conclusões sobre a provação, mas nos diz para nos submetermos a ela e nos regozijarmos na esperança a que ela nos está levando.

Provações definidas 

No capítulo 2 você encontra uma provação bem definida. Há conforto provido e dever prescrito em meio a ela. Esse tipo de provação e sofrimento não é deixado indefinido, mas é um sofrimento que é comumente conhecido na vida humana. É um sofrimento causado pela forma dura e má que somos tratados por outros. Pode ser um servo sofrendo sob a mão de um senhor duro ou alguém sofrendo sob a mão de um vizinho ou parente mal-intencionado. Esses são sofrimentos bem conhecidos e frequentemente experimentados nesta vida. O conforto é que o Espírito de Deus conhece nossa pequena irritação oculta, e nenhuma delas, não importa quão pequena ou comum, está além de Sua empatia. Embora nossa natureza sinta o sofrimento, a fé percebe o olhar invisível de Deus, esperando com complacência a paciência perseverante do servo. A vida de Jesus foi como um servo que sofria o dia todo por causa da dureza de um patrão maligno. Ele foi injuriado e maltratado por um mundo apóstata, porém não ameaçou, mas Se entregou Àquele que julga retamente. O apóstolo nos fala docemente das cenas mais comuns da vida humana e as dignifica com as empatias de Cristo. Pode alguma coisa ser mais preciosa que isso?

Sofrendo pela justiça 

Agora olhe para o terceiro capítulo, onde temos outro sofrimento. “Mas também, se padecerdes por amor da justiça, sois bem-aventurados” (v. 14). Quando seguimos um caminho de integridade e retidão, mantendo-as a todo custo, por causa de nossa fidelidade ao Senhor em fazer o que é certo, nós iremos sofrer. Este é outro tipo de provação. O Espírito de Deus nos conforta, dizendo-nos para santificar o Senhor Deus em nosso coração – para lembrar como Cristo esteve na mesma condição.

Com esse pensamento, ele nos aponta para os dias de Noé. Ele por um longo período esteve preparando a arca. Ele parecia o tolo de sua geração. Há um belo elo entre a preparação da arca por Noé e o que deveria ser a condição de nossa alma. Devemos ter uma boa consciência, não apenas uma boa consciência moral, mas uma consciência liberta. A ressurreição de Jesus Cristo nos dá uma boa consciência para com Deus, liberta nossa consciência de toda a culpa e de todo o medo de um julgamento vindouro. Assim como todo golpe do martelo de Noé lhe dizia que ele estaria seguro no “dia do juízo”, assim, nas provações da justiça, continuamos mantendo uma boa consciência. Não devemos desistir de uma boa consciência moral. Independentemente do que isso possa custar ou talvez precisemos sofrer, não devemos desistir da retidão. O que nos apoia neste caminho é saber que tudo está estabelecido entre nós e Deus para a eternidade pela ressurreição de Jesus Cristo. Nossa consciência tem paz eterna.

A provação da santidade 

No capítulo 4, há outro tipo de sofrimento. Logo em seu início, não vemos a prova da justiça, mas da santidade. Qual é a diferença? Justiça é retidão de conduta exteriormente no mundo, santidade é a pureza e castidade interior. Neste mundo nós temos que lutar tanto a batalha da santidade interior como a batalha da justiça [retidão] exterior. E qual é o nosso conforto neste conflito? Em breve daremos conta a Ele que está pronto para julgar os vivos e os mortos, e enquanto estamos vivendo nosso tempo, não o fazemos à concupiscência dos homens, mas à vontade de Deus. Esse é o nosso conforto.

O sofrimento dos mártires 

Mais adiante no capítulo, encontramos outra forma de sofrimento que chamaremos de “sofrimento dos mártires”. Não é o sofrimento pela provação da fé, ou o sofrimento vindo de um senhor maldoso ou de um relacionamento ruim, ou o sofrimento da justiça nem a provação da santidade em nossos membros, mas sim o que chamamos de sofrimento dos mártires. “Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós, para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse; mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis” (1 Pe 4:12-13).

“Não estranheis”, diz Ele, pois quando você está indo para a prisão ou a morte, você está na jornada com o Salvador para o Calvário. Você e eu podemos não estar preparados para isso, mas não devemos medir os pensamentos do Espírito com nossas realizações. É apenas um pouco de dor por um tempo, até que Sua glória apareça. Observe o espírito alegre aqui: “Se, pelo nome de Cristo, sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória de Deus”. É uma coisa feliz quando o mártir está a caminho da morte; você deve ver o Espírito de glória repousando sobre sua cabeça. Oh amado! Aqueles que sofrem esta perseguição sabem, mesmo na masmorra, que a mão de Deus está ajustando uma coroa de glória para sua fronte! “Sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus; quanto a eles, é ele, sim, blasfemado, mas quanto a vós, é glorificado” [ACF]. Não sabemos o que um dia pode trazer, mas Jesus sabe e Ele proverá.

A poderosa mão de Deus 

No último capítulo, encontramos no versículo 6: “Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a Seu tempo vos exalte”. Não podemos dizer de que forma essa “potente mão” pode nos humilhar ao remover todo o suporte exterior, e assim frustrando qualquer esperança do coração. Pode ser por caminhos terríveis que Deus nos humilhe e, no que parece ser o pior de tudo, Ele possa parecer estar contra nós. Ele pode parecer Se portar tão contra nossas circunstâncias e nossas alegrias presentes que o coração começa a temer que Deus esteja contra nós. Sua mão é uma “potente mão”, mas deixemos que ela nos conforte em vez de nos assustar. Há um grande conforto nesta palavra “potente”. Não é uma “mão tranquilizante”; é uma “mão poderosa” que parece causar feridas. Mas o Espírito de Deus diz: “Humilhai-vos” sob ela, pois “Ele te exaltará”. Como isso é belo! Veja quão rudemente José falou a seus irmãos. Ele os colocou na prisão e mandou os guardiões tomarem conta deles, mas em segredo ele chorou e, no devido tempo, os “exaltou”.

“Lançando sobre Ele toda a vossa ansiedade” (1 Pe 5:7). Oh, que conforto há nessas palavras! Acredito que as lágrimas de José em segredo tenham uma forte mensagem para nossos ouvidos, porque elas nos dizem o que o coração de Deus está sentindo enquanto Sua mão está lidando conosco asperamente. O diabo nos tentará a duvidar de Deus em tal momento. Ele dirá, não se “humilhe” sob essa mão. Nós devemos resistir ao diabo assim como Jesus sempre fez.

“E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos chamou à Sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, Ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá. A Ele seja a glória e o poderio, para todo o sempre” (1 Pe 5:10-11). Assim, a poderosa energia do Espírito Santo carrega o apóstolo Pedro, você e eu, assim como aqueles “estranhos”, através de toda variedade de provações humanas. Se é o exercício indefinido e a prova da fé, se está suportando o sofrimento da dureza e má natureza daqueles que estão ao nosso redor, ou da manutenção da retidão e uma boa consciência, ou das lutas entre carne e Espírito, ou sofrimento dos mártires, ou permanecendo sob a mão de Deus, ou o próprio diabo, a poderosa energia do Espírito de Deus fornece força e consolação. Que o Senhor nos preserve da incredulidade e mantenha nosso coração com o senso dessas realidades eternas.

Adaptado de The Northern Witness

J. G. Bellett

Compartilhar
Rolar para cima